Marginalia - Curso Objetivo
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- Olha o rabo do macaco! Olha o rabo dele!<br />
- Meninos, - dizia o mestre Simão, - deixem-me ir sossegado pelo meu caminho.<br />
As crianças, porém, não o atendiam e continuavam de surriada:<br />
- Olha o rabo! Olha o rabo dele! Olha o rabo do macaco!<br />
Aborrecido e incomodado com a vaia da petizada, o macaco resolveu dirigir-se a um<br />
barbeiro e pedir-lhe que amputasse a sua cauda. O "fígaro" recalcitrou e não quis atendê-lo. O<br />
macaco insistiu e ameaçou-o de furtar-lhe a navalha, caso não fizesse a operação que<br />
solicitava. O barbeiro, muito instado e ameaçado, consentiu e Simão voltou à rua<br />
extremamente contente. A assuada das crianças, porém, continuou:<br />
- Olha o macaco cotó! Olhem só como ele está rabicó!<br />
E tudo isso seguido de assovios e outras chufas! O macaco tomou o alvitre de<br />
procurar novamente o barbeiro para que lhe recolocasse a cauda. O barbeiro, muito<br />
naturalmente, mostrou-lhe que era impossível. O macaco furtou-lhe então a navalha. Feito o<br />
que, continuou o seu caminho e veio a encontrar uma mulher que escamava peixe com as<br />
unhas, por não ter faca ou outro instrumento cortante adequado. Ao ver tal coisa, o macaco<br />
indagou:<br />
- Por que você "concerta" o peixe com a mão?<br />
- Homessa! Que pergunta! Porque não tenho faca...<br />
- Não seja por isso... Tem você aqui uma navalha.<br />
Agradecida, a mulher, depois de preparar o peixe, deu-lho a comer com farinha.<br />
Foi-se o macaco após o almoço; mas, arrependido, deu-lhe na telha de retomar a<br />
navalha. A mulher recusou, com toda a razão, pelo curial motivo de lhe ter dado a comer<br />
peixe e farinha, em troca. O macaco não teve dúvidas: carregou-lhe um bom bocado de<br />
farinha.<br />
Seguiu adiante, vindo a topar com uma professora que dava bolos de pau às alunas.<br />
Ofereceu-lhe a farinha para fazer bolos que substituíssem os de pau. A professora aceitou e,<br />
prontos que eles foram, o macaco não se fez de rogado e entrou também nos bolos.<br />
Despediu-se logo após e, tendo andado um pouco, arrependeu-se e voltou sobre os seus<br />
passos para reclamar a farinha. A professora - o que era naturalmente ele esperar - não a tinha<br />
mais; e, portanto, não a podia restituir. O macaco, então, arrebatou uma das crianças, apesar<br />
da gritaria da mestra e das outras discípulas. Com ela às costas, foi indo, quando encontrou<br />
um tipo que, caminhando, tangia uma viola.<br />
Propôs a troca da menina pelo instrumento, o que foi aceito pelo sujeito. Continuou<br />
o caminho que, bem cedo, era cortado por um largo rio, que ele não podia atravessar. Pela<br />
primeira vez, depois de tantas aventuras, vencidas com facilidade, encontrava um obstáculo<br />
que a sua manha e a sua astúcia não podiam vencer. Para consolar-se, resolveu cantar as suas<br />
proezas com acompanhamento de viola. Assim cantou:<br />
- Macaco com seu rabo arranjou navalha; com a navalha, arranjou peixe; com peixe,<br />
arranjou farinha; com farinha, arranjou menina; com menina, arranjou viola...<br />
O rio, porém, continuava a correr mansamente em toda a sua largura intransponível.<br />
Viu bem que era impossível vadeá-lo. Não havia lábia ou astúcia que lhe valesse...<br />
Desesperado atirou-se nele para morrer.<br />
Esta história de um final pessimista para as manobras e espertezas do macaco, não é<br />
das comuns; as mais espalhadas dão sempre a vitória final ao símio sobre todos os obstáculos<br />
inimigos que encontre na vida e nas florestas.<br />
A onça é sempre o seu inimigo natural e é com ela, no romancear do povo, que tem<br />
travado um duelo de morte interminável.