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Marginalia - Curso Objetivo

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Aproximando-se as bodas de ouro dos pais, Nestor e a mulher, Hortênsia, embarcam<br />

para Pernambuco. Vão para Águas Claras, o engenho dos velhos. No começo, o espetáculo<br />

daquela vida encanta e seduz Hortênsia, a carioca; mas, bem depressa, ela se aborrece, quer<br />

voltar, tanto mais que nota no marido certa inclinação por uma moça da casa, Maria da<br />

Betânia, antiga namorada dele e que é uma das figuras mais curiosas e mais bem estudadas do<br />

livro. Chega a gravidez a carioca. Ela fica; começa a afeiçoar-se àquela vida e ambos, Nestor<br />

e Hortênsia, de comum acordo, resolvem estabelecer definitivamente residência no engenho<br />

de Águas Claras.<br />

A carioca foi vencida e o carioca adotivo que é o seu marido Nestor, também.<br />

Eis aí o entrecho do livro, cuja execução é soberba. O Sr. Sete não é um escritor<br />

nervoso, rápido, cujo pensamento, como já se disse sobre alguém, salte logo da cabeça para o<br />

papel.<br />

Por isso, ele excele na descrição das cenas familiares, no narrar os mínimos detalhes<br />

das coisas domésticas.<br />

Ele é amoroso de moças, dos seus atavios, dos seus arrebiques, dos seus muxoxos e<br />

dengues.<br />

A descrição da festa das bodas de ouro dos pais de Nestor é tão cheia de<br />

naturalidade, de singeleza, de graça, que, qualquer que a leia, a vê de pronto diante dos olhos,<br />

toda a festa por inteiro.<br />

Não há nele nenhum arroubo, nenhuma abertura para o Mistério da Vida e o Infinito<br />

do Universo; mas há, em contraposição, uma grande fidelidade na reprodução do que observa,<br />

e muita simpatia pelos lares felizes e ricos, de modo que o lendo eu, fico a pensar que, em<br />

Pernambuco, tudo é como em Águas Claras; tudo é feliz, mesmo a linda Maria da Betânia.<br />

A.B.C., 10-9-1921.<br />

A OBRA DO CRIADOR DE JECA-TATU<br />

O criador de Jeca-Tatu é um caso muito curioso nas nossas letras. Tendo uma forte<br />

capacidade de trabalho propriamente literário, ele é ainda por cima um administrador<br />

excelente, um editor avisado, um ativo diretor de uma revista sem igual no Brasil de hoje, de<br />

ontem e não sei se de amanhã.<br />

Não sofro da horrível mania da certeza, de que falava Renan; mas, com reservas,<br />

admito que, sejam quais forem as transformações políticas e sociais que o mundo venha a<br />

passar, a expressão político-administrativa - Brasil - por muito tempo não subsistirá.<br />

Supondo por absurdo, que as coisas continuem no pé em que estão, a inabilidade, os<br />

crimes, as concussões, a falta de escrúpulos de toda a ordem dos nossos dirigentes de norte a<br />

sul do país - tudo isto leva a prever para nossa organização política, e isto num lapso de tempo<br />

bem curto, um desastre irremediável.<br />

Dizia eu, porém, que o Sr. Monteiro Lobato, o criador de Jeca-Tatu, sabia como<br />

ninguém aliar a uma atividade literária pouco comum, um espírito comercial, no bom sentido,<br />

dirigindo com sucesso uma revista sem igual na nossa terra.<br />

Ela se publica na cidade de São Paulo e é a Revista do Brasil, já bem conhecida<br />

aqui, no Rio de Janeiro.<br />

Com uma clarividência difícil de se encontrar em brasileiro, o Sr. Monteiro Lobato<br />

conseguiu atrair para ela a atenção de todas as atividades intelectuais deste vasto país, como<br />

diz a canção patriótica, e fazê-la prosperar, como prospera.

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