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Marginalia - Curso Objetivo

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são compelidas, em forma de lodo em suspensão nas águas para o verdadeiro Nilo, inundando<br />

e adubando o velho país dos Faraós.<br />

Uma tal disposição geográfica, ao que me consta, não se encontra em nenhum rio da<br />

terra; nenhum deles tem um reservatório de adubo, de húmus que se reserva anualmente, e as<br />

enchentes arrastam em certas épocas do ano.<br />

Com o avanço da idade o Sr. Otávio Brandão que, tantas qualidades de escritor<br />

apresenta neste livro, que tantas qualidades de observador demonstra, que uma rara<br />

capacidade de estudo revela, há de abandonar os processos de um otimismo livresco sobre a<br />

nossa Natureza que lhe inoculou Euclides da Cunha, para examinar a terra diretamente com o<br />

maçarico e o bico de Bunsen, com a balança de Jolly, pesquisar rochas com o microscópio<br />

próprio e fazer, enfim, o que aconselha aos letrados, no art. 19, no capítulo que intitula<br />

- "Uma síntese".<br />

Não me quero despedir do Sr. Otávio Brandão, sem lamentar e lavrar o meu protesto<br />

pelos tormentos e perseguições que sofreu, por parte do Governo de Alagoas.<br />

É incrível o que ele narra, mas não tenho dúvida nenhuma em aceitar como verdade.<br />

O governante do Brasil, não se trata desse ou daquele, mas de todos, resvalam pelo<br />

caminho perigoso da coação ao pensamento alheio, para o despotismo espiritual.<br />

Ninguém sabe até que ponto pode pensar desta ou daquela maneira; até que ponto<br />

não pode pensar. Daí vem que bacharéis ou não, investidos de funções policiais, sem<br />

instrução nenhuma e muito menos cultura, encontram na mais leve crítica às teorias<br />

governamentais vigentes manifestações de doutrinas perversas, tendentes a matar, roubar,<br />

violar e estuprar. Na sua imbecilidade nativa e na sua ignorância total de doutores que fizeram<br />

os seus estudos em cadernos, pontos, apostilas, etc., arrastarem para enxovias nauseabundas,<br />

doces sonhadores, como este bom Otávio Brandão, que nem ao menos tem um vício.<br />

Com a violência dos antigos processos do governo dos reis absolutos, eles<br />

ressuscitaram o crime de lesa-majestade e a razão de Estado.<br />

Um tal estado de coisas não pode continuar; e não há lei que permita essa indigna<br />

opressão ao pensamento nacional, tanto mais que a Constituição dá a cada um a mais ampla<br />

liberdade de pensar e exprimir as suas idéias, por todos os meios adequados.<br />

Argos, n.0 11, dezembro de 1919.<br />

DOIS MENINOS<br />

De há muito queria eu dizer publicamente todo o bem que me merecem o esforço e o<br />

ardor intelectual desses dois meninos que se assinam Tasso da Silveira e Andrade Murici.<br />

Motivos de toda ordem me têm impedido; mas hoje, felizmente, posso fazê-lo, se<br />

não completa, ao menos com a máxima boa vontade.<br />

Muito moços, tanto assim que eu, não me considerando de todo velho, os posso<br />

tratar assim familiarmente, paternalmente, de meninos, estrearam, como toda a gente, com<br />

"plaquettes" de versos, nas quais, se não havia remígios, não denunciavam, contudo, quedas<br />

irremediáveis.<br />

Eram, como se costuma dizer, os seus cartões de visita, apresentando-os ao<br />

complicado mundo das letras.<br />

Daí por diante, cedendo a uma incoercível vocação íntima, lançaram-se à crítica<br />

literária, à boa crítica do estudo profundo, simpático, sereno, de autores e de obras. Mostraram

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