Marginalia - Curso Objetivo
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Careta, 18-8-1921.<br />
SOBRE A GUERRA<br />
As últimas proezas de cruzadores alemães bombardeando as costas da Inglaterra é de<br />
molde a provocar a seguinte reflexão: a esquadra inglesa não é lá essas coisas.<br />
Numerosíssima, quase toda acumulada diante das costas germânicas, ela não pôde<br />
evitar que tal se desse.<br />
De resto, há ainda a notar que, se ela imobilizou a frota germânica, por sua vez ficou<br />
imobilizada, não podendo fazer nada de eficiente para o aniquilamento dos vasos alemães.<br />
O seu sábio preparo anterior, as suas constantes manobras não lhe deram, com o<br />
poder numérico, a superioridade esmagadora que era de esperar possuísse.<br />
Da mesma forma, o exército alemão até agora tem andado muito abaixo de sua fama.<br />
O seu violento efetivo, automatismo que adquiriu com manobras, exercícios e<br />
trenagens constantes, faziam esperar que ele esmagasse facilmente a França.<br />
Entretanto, tal não se deu e a Alemanha confessa que não tinha esse poder<br />
esmagador, quando deixou de invadir a França pelas fronteiras que tinha com esse país, e<br />
violou a neutralidade belga para derrotar o país de Joana d'Arc.<br />
Com esse procedimento deu sobejas mostras de que não se fiava muito na eficiência<br />
do seu exército, apesar do mata-mouros do canhão 42, diante dos fortes franceses de Saona e<br />
Belfort.<br />
Para fazer a velha guerra lenta, de sítios e trincheiras, para ter a vitória assim<br />
duvidosa, não valia a pena, penso eu, levar a Alemanha tantos anos a adestrar um exército<br />
numeroso, a dotá-lo de material aperfeiçoado, custosos maquinismos e gastar as fabulosas<br />
somas que gastou.<br />
Um exército tão famoso, tão poderoso, tão cheio de ff e rr, que chega a poucos<br />
quilômetros de Paris e tem que recuar precipitadamente, concordemos, não é essa formidável<br />
máquina de guerra que os nossos militaristas queriam que imitássemos.<br />
A orgia militar, a que a Alemanha desde muito se vinha entregando, tirava o sono ao<br />
mundo, era o seu constante pesadelo.<br />
Obrigou todos os países a estabelecerem esse crime contra a liberdade, contra a<br />
independência, essa violência aos temperamentos individuais que é o serviço militar<br />
obrigatório.<br />
Agora, parece, a Alemanha ficará por muito tempo diminuída e os seus idiotas<br />
partidos guerreiros que se crêem eleitos e com a missão de dominar o mundo, não encontrarão<br />
na massa de camponeses homens em que se apóiem, com auxilio de amuletos patrióticos; e os<br />
homens que criam o futuro, poderão agir.<br />
Correio da Noite, 19-12-1914<br />
ATÉ MIRASSOL<br />
(Notas de viagem)<br />
I