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Marginalia - Curso Objetivo

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Benzem outrossim as plantações; e pessoa digna de fé, que teve uma fazendola, há<br />

alguns anos, pelas bandas de Guaratiba, contou-me um caso a que já aludi no meu Policarpo<br />

Quaresma.<br />

Tendo dado as lagartas em uma sua plantação de feijão, ameaçando mesmo matá-la<br />

de todo, desesperado consentiu ele que chamassem uma "rezadeira" famosa, pela eficácia dos<br />

seus exorcismos, em toda a localidade. Ela veio e colocou cruzes de graveto nas bordas da<br />

plantação deixando na "cabeceira", uma abertura maior, pôs-se nos pés e começou a rezar.<br />

Disse-me a pessoa que as lagartas se foram enfileirando militarmente e saindo<br />

processionalmente pela abertura, entre as cruzes que havia na "cabeceira".<br />

É morta a pessoa que me contou, e era muito digna de fé, sendo doutor em medicina;<br />

e muitas vezes narrou-me esse surpreendente espetáculo, como tendo visto com os seus<br />

próprios olhos.<br />

Horácio, há entre o ceu e a terra...<br />

Essa usurpação de atributos sacerdotais por particulares é feita, ou era, em larga<br />

escala.<br />

Quando meu pai foi para a ilha do Governador, exercendo um pequeno emprego nas<br />

Colônias de Alienados, recentemente fundadas pelo governo republicano, isto em 1890, a ilha<br />

não era o Petrópolis de quinta classe que o meu amigo Pio Dutra está fazendo ou dela já fez.<br />

Vivendo, por assim dizer, isolada do Rio de Janeiro, quase sem comunicações<br />

diárias com o centro urbano, abandonada pelos seus grandes proprietários, devido à<br />

decadência de suas culturas perseguidas atrozmente pela saúva, estava toda ela entregue a<br />

moradores pobres, apanhadores de suas frutas semi-silvestres, como caju, lenhadores e<br />

carvoeiros, pescadores e alguns roceiros portugueses, que tenazmente se batiam contra a<br />

implacável formiga, fazendo roças de aipins, de batatas-doces, de quiabos, de abóboras, de<br />

melancias, e até de melões. Essa espécie de "enclave" que era a ilha do Governador naquele<br />

tempo, profundamente rural e pobre, aqui pertinho da capital do Brasil, foi que me deu uma<br />

reduzida visão de roça e de hábitos e costumes roceiros. Cheguei a ver lá cavalhadas - que<br />

pobres cavalhadas! - na esplanada defronte à ilha da Freguesia, próximo da venda do<br />

Joaquim, pintor, agente do Correio, tendo como adestrados disputadores das sortes, próprias<br />

ao divertimento, o "Minhoto", o Jorge Martins e outros.<br />

A ilha não tinha vigário e o culto da população aos santos de sua fé era feito por<br />

intermédio de certos capelães rústicos, isto é, "rezadores" ingênuos e ignorantes, que diante de<br />

toscos oratórios, acompanhados pela assistência, entoavam nas cabanas ladainhas e outras<br />

orações. Do lugar em que morávamos, eu e a minha família, no Galeão, ainda me lembro do<br />

nome do respectivo capelão: - o Apolinário. Que fim terá levado?<br />

Essa forte crença na oração, na reza, que buscamos como alívio para as nossas dores<br />

morais e como uma súplica à Divindade para que intervenha na nossa vida, favorecendo-nos<br />

nos nossos propósitos, toma este ou aquele aspecto bárbaro e tosco, aqui e ali, mas é sempre<br />

tocante e penetrante por isso mesmo. Ela não abandona a nossa gente humilde na sua obscura<br />

luta contra a miséria, contra a política e contra a moléstia; e, intimamente, pediu auxílio ao<br />

Correio, para mais eficazmente agir no perímetro urbano da nossa cidade.<br />

No artigo anterior, citei esse ato de distribuir, por intermédio do carteiro, orações<br />

escritas que devem ser lidas um certo número de vezes e enviadas a outras pessoas amigas,<br />

em número determinado.<br />

Não a tinha encontrado, entre os meus papéis. Encontrei-a, porém, e aqui a dou tal e<br />

qual, sem nada mudar ou omitir.<br />

Conforme a recebi, no ano de graça de 1913, transcrevo abaixo:<br />

"Oração S. Jesus Cristo Senhor Nosso. Jesus Cristo rogamos a vós por nossos<br />

pecados e vosso sangue derramado na Cruz por nós. Senhor Jesus Cristo, rogamos a Deus que<br />

se contemple de compaixão e misericórdia e perdoai-nos por vossa Mãe santíssima, hoje e

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