Marginalia - Curso Objetivo
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havia de se revestir para ir à festa da Glória no Outeiro. Veio a tarde, correu a loteria e saiu o<br />
gato. Ficou triste, a "Sinhá" Maria; e pôs-se a analisar o seu .sonho, chegando a esta<br />
conclusão:<br />
- "Burra sou eu; nunca burro andou em telhado. Quem anda em telhado, é gato."<br />
Desde tal descoberta da "Sinhá" Maria ficou assentado entre os jogadores de bicho<br />
que burro, cobra, avestruz, coelho e qualquer outro animal, no telhado, é gato.<br />
Pobre "Sinhá" Maria! Ela não tem motivos para se amaldiçoar! Todos nós vemos<br />
muitos burros nos telhados e afirmamos logo que é bicho muito inteligente; mas, nem por<br />
isso, acertamos. Passam-se anos e nos convencemos de que nem burros eram. Eram bonecos<br />
de papelão. Eis aí!<br />
Há muitos modos de nos enganarmos com os nossos sonhos; um deles é ao jeito da<br />
analfabeta e simples "Sinhá" Maria; um outro é ao nosso; sabemos ler e, para isto ou para<br />
aquilo, precisamos de auto-ilusões...<br />
Hoje, 17-7-1919.<br />
HISTÓRIAS DE MACACO<br />
O nosso macaco, com as suas parecenças humanas, tal e qual o vemos nas gaiolas e<br />
preso a correntes, é bem miúdo; mas tem tal ar de inteligência, é tão solerte e inquieto, que o<br />
povo não podia deixar de impressionar-se com ele e dar-lhe a máxima importância nas suas<br />
histórias de animais.<br />
Certamente, as suas semelhanças com o homem não são bastante flagrantes como as<br />
dos grandes macacos da África e da Ásia. O chimpanzé, o gorila, o orangotango e o gibo,<br />
sobretudo este, possuem mais fortes traços comuns a eles e ao homem. O último desses<br />
macacos antropóides é até tido como bem próximo parente do "Pitecanthropus" do Sr.<br />
Dubois, que passa por ser o avô desaparecido do gênero humano. Todos esses macacões<br />
africanos, asiáticos e javaneses, porém, são fortíssimos e de uma robustez muito acima da do<br />
homem, por mais forte que seja. Não sei qual será a impressão que se tem deles, ao natural;<br />
mas a que possuo, pelas gravuras dos compêndios, é de ferocidade e bestialidade.<br />
O nosso macaquinho não tem esse aspecto de força estúpida, mas de astúcia e<br />
malignidade curiosa, quando não de esperteza e malandragem.<br />
Assim, o povo o representa nas suas histórias, onde ele é fecundo em ardis e<br />
variadas manhas, para vencer dificuldades e evitar lutas desvantajosas; às vezes, porém, são<br />
mais simples e as narrativas populares procuram fazer ressaltar unicamente o pendor<br />
"planista" do símio, da simpatia de nossa gente humilde.<br />
Essa história que ai vai e me foi contada pela minha vizinha, D. Minerva Correia da<br />
Costa, natural de Valença, Estado do Rio, é exemplo disto que acabo de dizer e é intitulada:<br />
HISTÓRIA DO MACACO QUE ARRANJOU VIOLA<br />
Um macaco saiu à rua muito bem vestido. As crianças, porém, não estiveram pelos<br />
autos e, apesar de vê-lo bem vestido, começaram a troçá-lo: