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Marginalia - Curso Objetivo

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Ele, o autor, simbolizava uma em Débora - espécie de Thervigne, - a outra, em<br />

Malvina.<br />

Admirei muito a peça, o estudo dos personagens, da protagonista, embora me<br />

parecesse ela não possuir uma certa fluidez. Isto nada quer dizer, porque é qualidade que se<br />

adquire. As que não se adquirem são as que ele têm: poder de imaginar, de criar situações e<br />

combiná-las.<br />

A cena final da loucura do terrível revolucionário - Rogério - julgando-se rei e<br />

coroando-se com uma caixa de papelão, é maravilhosa, e intensa.<br />

É uma peça revolucionária, inspirada nos acontecimentos da atual revolução russa -<br />

o que se denuncia por alusões veladas e claras no decorrer dela.<br />

O autor não esconde a sua antipatia pelos revolucionários não só russos, como os de<br />

todo o jaez. Isto ele o faz com o pensamento geral da peça, como também nos detalhes,<br />

principalmente no cerimonial, nas atitudes governamentais e imperiais que eles tomam<br />

quando assumem o mando.<br />

Não é só com os de hoje que tal se dá, mas com os de sempre. Esses homens podem<br />

ser para nós ridículos, mas o motivo é porque os julgamos fora do seu tempo ou longe dele.<br />

Quando nos transportamos à efervescência das idéias do meio que os criou, eles não<br />

se parecem assim. São talvez plantas de estufa, mas são plantas imponentes e grandiosas,<br />

mesmo aquecidas artificialmente.<br />

Eu não aconselharia a Orris Soares a leitura das Origines de Taine nem o<br />

recentíssimo Les Dieux ont soif, para sentir como me julgo com razão e para encontrar o<br />

motivo por que, depois de passada a borrasca, eles nos aparecem medíocres.<br />

E assim é sempre quando se trata de grandes movimentos de sentimentos e de idéias<br />

que apaixonam as multidões. Compreendo muito mal as "Cruzadas" e seus barões e ainda<br />

menos as guerras de religião de Luteranos, Católicos, Calvinistas, etc.<br />

Quanto ao cerimonial e ao protocolo de que se fazem cercar os recém-chegados ao<br />

poder, os há de muitas espécies, e os mais grotescos.<br />

Não tenho à mão nenhum exemplar de livro que me informe dos que os reis do Haiti<br />

se fizessem cercar; mas dois casos curiosos conheço fora dos revolucionários.<br />

Um é o do ditador do Paraguai, Carlos Antônio Lopez, que, para inaugurar um teatro<br />

feito por ele e construído por um literato espanhol, se apresentou na sala de espetáculo, no dia<br />

da inauguração, disforme de gordura, mamútico. A cabeça completamente unida ao rosto<br />

prosseguia numa imensa papada, sem linhas nem contornos e como que tinha a forma de uma<br />

pêra. Cobria-a colossal chapéu de palha, com quase um metro de alto, verdadeiramente<br />

carnavalesco na sua feição de quiosque.<br />

Quem conta isto é um escritor argentino, Heitor Varela, que esteve em Assunção, no<br />

tempo; e a citação eu a tiro de artigos que o ilustrado Sr. Afonso de Taunay publicou, com o<br />

título "Álbum de Elisa Lynch", na Revista do Brasil.<br />

Há, porém, outros, os de certos magnatas sul-americanos vaidosos que se fazem<br />

escoltar por navios de guerra quando dão passeios pelos lagos azuis e plácidos do país.<br />

Portanto, ainda se pode repetir: cá e lá más fadas há.<br />

A.B.C., 2-5-1920.<br />

"LEVANTA-TE E CAMINHA"<br />

Pois para que saibais que o Filho do Homem<br />

tem poder sobre a terra de perdoar os pecados,

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