Marginalia - Curso Objetivo
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Os trabalhos dos ingleses no Egito; dos franceses, na Argélia; dos americanos no<br />
Colorado, creio, mostram que nós podíamos seguir no Ceará e proximidades esse mesmo<br />
rumo de audácia eficaz que tem dado tão bons resultados àqueles.<br />
Se nós temos tido não sei quantas centenas de mil contos para valorizar, de quando<br />
em quando, quase anualmente, o café, por que não temos outro tanto para tornar fecunda uma<br />
grande região do país que é das mais férteis, exigindo só uma correção, relativamente mínima,<br />
na sua distribuição de águas ou na correção da declividade de seus rios, para que venha a sê-lo<br />
de fato?<br />
Devido à inclinação do seu solo, como explica o Sr. Dr. Ildefonso Albano,<br />
conjuntamente com a fraca espessura do seu solo permeável, o Ceará vê o seu subsolo pouco<br />
infiltrado e os seus rios correrem somente três ou quatro meses no ano.<br />
De forma que, quando a chuva é escassa, a terra fica ressequida e os rios tão secos, e<br />
é então que se desenrola toda aquela lancinante tragédia do Ceará e proximidades.<br />
Como em geral nos fenômenos meteorológicos não se pode determinar o seu período<br />
de sucessão, de modo que nunca se pode prever quando é o ano de chuvas escassas e o ano de<br />
chuvas abundantes.<br />
Sendo assim, os habitantes daquelas flageladas regiões são tomados de surpresa,<br />
hoje, apesar das nossas pretensões de termos decifrado a natureza, por meio da ciência, como<br />
já no começo do século XVII foram também os primeiros conquistadores do Ceará. Tomo a<br />
citação do Sr. Ildefonso Albano.<br />
"Rezam as crônicas antigas que em 1603, Pêro Coelho de Sousa, homem nobre,<br />
morador na Praiva (?) do Estado do Brasil, com Diogo Campos Moreno, 80 brancos e 800<br />
índios, marchou até o Jaguaribe, onde no Siará ajuntou a si todos aqueles índios moradores,<br />
foi até a serra de Buapava e teve grandes recontros com os tabajaras de Mel Redondo, e<br />
deu-lhe Deus grandes vitórias. Por falta de provimento e socorro, voltou ao Jaguaribe, onde<br />
fundou uma povoação com o nome de Nova Lisboa. De volta para Pernambuco, se veio<br />
deixando tudo miseramente a pé com sua mulher e filhos pequenos, parte dos quais pereceram<br />
de fome.<br />
"Daí para cá se têm sucedido com cruel periodicidade os tétricos fenômenos, que<br />
expulsaram do Ceará o primeiro civilizado, depois de lhe arrebatar os inocentes filhinhos,<br />
cujos nomes encimam a lista fúnebre das vítimas da seca, lista longa e interminável, que ainda<br />
está por encerrar.<br />
Desde essa primeira notícia, que esse vale do Jaguaribe, sem que o seja em prazo de<br />
tempo regular, tem sido assolado pelas secas e mal convalesce de uma, cai-lhe outra em cima.<br />
Teimoso que é de continuar a mostrar nos seus constantes renascimentos que é capaz das<br />
maiores possibilidades, ele continua a pedir sábios trabalhos hidráulicos, para produzir o<br />
melhor algodão do mundo.<br />
É preciso que eles se façam, não só aí, mas em todas as partes que eles forem<br />
precisos, não timidamente, como é dos nossos costumes, tanto de engenheiros, como de outra<br />
profissão, mas com largueza qualquer e audácia.<br />
É preciso que façamos cessar, todos nós brasileiros, esse horrível espetáculo, que o<br />
Sr. Ildefonso Albano ilustra com os mais dolorosos documentos tanto iconográficos, como<br />
literais.<br />
Como isto aqui é uma simples notícia de vulgarização de um trabalho que precisa ser<br />
divulgado e não uma crítica que não tenho competência nem estudos especiais para fazer, não<br />
me furto ao dever, na impossibilidade de também reproduzir as gravuras que um amigo do Dr.<br />
Albano queria fossem reproduzidas, de transcrever algumas cartas e outros documentos<br />
particulares, para comover o coração dos mais duros.<br />
Em data de 16 de fevereiro de 1916 o padre Raimundo Bezerra, vigário de<br />
Jaguaribe-mirim, acusa a recepçao de 400$ e diz: