Marginalia - Curso Objetivo
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naturais e sociais por que elas preferiram tais ou quais caminhos, para o povoamento do<br />
interior.<br />
Não tenho espaço nem competência para acompanhar de perto o seu valioso<br />
trabalho; entretanto, uma observação sua me traz algumas reflexões que, talvez, não sejam de<br />
todo minhas, mas cujo contexto me apaixona.<br />
Trata-se de nossa nomenclatura topográfica. O coronel Ivo do Prado nota, e com<br />
muita razão, que é difícil identificar os nossos acidentes da terra e mesmo os potamográficos,<br />
porque eles estão, a toda hora e a todo momento, a mudar de nomes, por mero capricho<br />
vaidoso das autoridades a que tal coisa incumbe.<br />
É uma grande verdade. Basta ver o que se passa na Estrada de Ferro Central, onde a<br />
vaidade ou a bajulação dos engenheiros, que isso podem, faz mudar, em curto prazo de tempo,<br />
os nomes tradicionais das estações, batizando-as com os apelidos de figurões e poderosos do<br />
momento.<br />
Podia citar exemplos; mas creio não ser necessário. No Ministério da Marinha, um<br />
ministro, usurpando as atribuições da respectiva Câmara Municipal, mudou o nome da<br />
enseada da Tapera, em Angra dos Reis, para o pomposo de almirante doutor Batista das<br />
Neves.<br />
Decididamente não é o bom senso e o sentimento do equilíbrio que dominam os<br />
nossos atos. Para prestar homenagem à memória do desditoso almirante Batista das Neves, há,<br />
havia e haverá outros meios que não este, onde não se encontra uma razão qualquer que o<br />
explique.<br />
A observação do coronel Ivo do Prado, sobre essa nossa mania de estar, a toda a<br />
hora, mudando a denominação das nossas localidades, rios., etc, provocou-me lembrar um<br />
artigo de Gaston Boissier, tratando de saber onde exatamente ficava Alésia, a célebre cida-<br />
dela em que César encurralou Vercingétorix e foi cercado também, mas derrotou os que o<br />
sitiavam, e acabou ornando o seu "triunfo" com aquele infeliz chefe gaulês.<br />
Um dos elementos para identificar Alésia foram as denominações locais que, com<br />
alguma corrução, desde quase dois mil anos, guardavam mais ou menos a fisionomia da<br />
primitiva denominação. Entre nós um tal meio de pesquisa seria impossível...<br />
Estão em moda os Estados Unidos; mas acredito que, apesar do amor histérico dos<br />
"yankees" pela novidade, lá as coisas não se passam desse modo.<br />
O livro que o Sr. Carlos Vasconcelos me ofereceu e é de sua autoria, dá-me a<br />
entender isso. Em Casados... na América, tal é o titulo da obra, aqui e ali nos apelidos de<br />
lugares, vê-se que há ainda lá muita coisa de huron e pele-vermelha. Os americanos<br />
mataram-nos sem dó nem piedade; mas os nomes que eles deram às regiões de que se<br />
apossaram os seus algozes foram conservados por estes e passaram até aos seus couraçados e<br />
cruzadores.<br />
O livro do Sr. Carlos de Vasconcelos é livro de um grande escritor. O que me parece<br />
diminuir o seu valor, é a preocupação do autor em encaixar, a força, os Estados Unidos nas<br />
suas novelas.<br />
Não sei se é porque tenho uma rara antipatia por semelhante país, não sei se é por<br />
outra qualquer causa; o certo, porém, é que a sua mania americana me dá a impressão de que<br />
a sua obra não é sincera, não nasceu do seu fundo íntimo.<br />
Estou convencido de que se a sua frase quente e ondeante, colorida e musical, fosse<br />
aplicada a assuntos mais nossos, o seu trabalho ganharia muito e muito!<br />
Esse "engouement" pelos Estados Unidos há de passar, como passou o que havia<br />
pela Alemanha, e da mesma forma.<br />
Não dou cinqüenta anos para que todos os países da América do Sul, Central e o<br />
México se coliguem a fim de acabar de vez com essa atual opressão disfarçada dos "yankees",<br />
sobre todos nós; e que cada vez mais se torna intolerável.