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Marginalia - Curso Objetivo

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os mesmos a jogar; escrevi também que eles cultivam preconceitos de toda a sorte; foi, então,<br />

que me insurgi. Falando nisso a Valverde, ele me disse todos os inconvenientes de tal<br />

divertimento, feito sem regra, nem medida, em todas as estações e por todo e qualquer sujeito,<br />

fosse de que constituição fosse, tivesse as lesões que tivesse. Fundamos a Liga.<br />

Ela não foi avante, não somente pelos motivos que o Dr. Mendonça escreve no seu<br />

livro, mas também porque nos faltava dinheiro.<br />

Quando a fundamos, eu fui alvejado com os mais soezes insultos e indelicadas<br />

referências. Ameaçaram-me com vigorosos polemistas, partidários de futebol e uma récua de<br />

nomes desconhecidos cujo talento só é conhecido na tal Liga Metropolitana. Coelho Neto<br />

citou Spencer e eu, pela A Notícia, mostrei que, ao contrário, Spencer era inimigo do futebol.<br />

Dai em diante, tenho voltado ao assunto com todo o vigor que posso, porque estou<br />

convencido, como o meu amigo Sussekind, que o "sport" é o "primado da ignorância e da<br />

imbecilidade". E acrescento mais: da pretensão. É ler uma crônica esportiva para nos<br />

convencermos disso. Os seus autores falam do assunto como se tratassem de saúde pública ou<br />

de instrução. Esquecem totalmente da insignificância dele. Um dia destes o Chefe de Policia<br />

proibiu um encontro de "box"; o cronista esportivo censurou asperamente essa autoridade que<br />

procedera tão sabiamente apresentou como único argumento que, em todo o mundo, se<br />

permitia tão horripilante coisa. Ora, bolas!<br />

Certa vez, o governo não deu não sei que favor aos jogadores de futebol e um<br />

pequenote de um clube qualquer saiu-se dos seus cuidados e veio pelos jornais dizer que o<br />

futebol tinha levado longe o nome do Brasil. 'Risum teneatis"...<br />

O meu caro Dr. Sussekind pode ficar certo de que se a minha Liga morreu, eu não<br />

morri ainda. Combaterei sempre o tal de futebol.<br />

Careta, 8.4.1922.<br />

"A MAÇÃ" E A POLÍCIA<br />

Noticiam os jornais que a polícia por intermédio de seus agentes e prepotentes, anda<br />

a vigiar a A Maçã, semanário que o ilustre poeta Humberto de Campos publica com um sal<br />

que, se não é de azedas, deve ser ático.<br />

Sou escritor e, se mérito outro não tenho, me gabo de ser independente.<br />

Sendo assim, não admito críticas a meus livros e aos meus escritos senão aquelas<br />

provindas de escritores que como eu não dispõem de força, nem de chanfalho. Admitir que<br />

um simples delegado de polícia ou uma praça de pré do meu amigo coronel Badaró esteja nos<br />

casos de julgar os meus escritos, é abdicar do meu esforço silencioso e doloroso durante vinte<br />

anos, para dizer o meu pensamento sincero - o que julgo essencial em ajuda da maior<br />

felicidade da comunhão humana.<br />

A polícia, pela sua feição própria, é incapaz desse papel de censura de qualquer<br />

manifestação de pensamento.<br />

Ela é uma emanação do governo; e é da natureza dos governos não admitirem<br />

crítica. Quando se os critica, ela apela para a ordem e para a moralidade. Dai o perigo que há<br />

em se entregar à polícia, qualquer poder que incida sobre a liberdade de pensamento.<br />

Fazendo-a, ela faz obra dos governos e em qualquer trecho do escrito, ela encontra atentados à<br />

moral. Perguntarei aos policiais: o que é moral? Eles não saberão dizer; e, se o souberem,<br />

dirão que é a homenagem que o vício presta à virtude, disfarçando-se e escondendo-se.

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