Marginalia - Curso Objetivo
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Seja qual for a emergência, pouco a pouco, não só nos Estados longínquos, até<br />
mesmo nos mais adiantados, e no próprio Rio de Janeiro, capital da República, a autoridade<br />
mais modesta e mais transitória que seja procura abandonar os meios estabelecidos em lei e<br />
recorre à violência, ao chanfalho, ao chicote, ao cano de borracha, à solitária a pão e água, e<br />
outros processos torquemadescos e otomanos.<br />
É o regímen de "villayet" turco em que estamos; é o governo de beis, paxás e cádis o<br />
que temos. Isto é um sintoma de moléstia generalizada. A época que atravessamos parece ser<br />
de loucura coletiva em toda a humanidade.<br />
Havia de parecer que a gente de juízo e de coração, com responsabilidade na direção<br />
política e administrativa dos povos, depois dessa chacina horrorosa e inútil que foi a guerra de<br />
1914, e das conseqüências de miséria, fome e doença que, acabada, acarretou ainda como<br />
contrapeso procurasse afugentar, por todos os meios, dos seus países, os germens desse<br />
aterrador flagelo da guerra; entretanto não é assim. Em vez de propugnarem uma aproximação<br />
mais fraternal entre os povos do mundo, um mútuo, sincero e leal entendimento entre todos<br />
eles, como que timbram em mostrar desejarem mais guerra, pois estabelecem iníquas medidas<br />
fiscais que isolam os países uns dos outros; tentam instalar artificialmente indústrias que só<br />
são possíveis em certas e determinadas regiões do globo, devido às condições naturais, e isto<br />
ainda no fito de prescindirem da cooperação de outra nação qualquer, amiga ou inimiga; e - o<br />
que é pior - todos se armam até os dentes, mesmo à custa de empréstimos onerosíssimos ou da<br />
depreciação das respectivas moedas, originada por emissões sucessivas e inúmeras, de<br />
papel-moeda. Estamos no tempo da cegueira e da violência.<br />
Max-Nordau, em artigo que uma revista desta cidade traduziu, cujo título é Loucura<br />
Coletiva, - observa muito bem, após examinar os despropósitos de toda a sorte que se<br />
seguiram à terminação oficial da grande guerra:<br />
"Dizia-se antigamente: "Todo o homem tem duas pátrias, a própria e depois a<br />
França". Pois esta mesma França, tão hospitaleira, tão carinhosa, mostra agora a todos os<br />
estrangeiros um semblante hostil e, durante a maior parte do tempo, torna-se impossível a<br />
estada em seu solo. As relações entre, povo e povo, entre homem e homem, quebraram-se<br />
violentamente e cada país encerra-se por detrás das suas fronteiras, opondo-se a tôda a,<br />
infiltração humana do exterior.<br />
"Esperava-se que à guerra sucedesse a reconciliação. Pelo contrário, procura-se por<br />
todos os lados atiçar os ódios, exasperar os rancores, excitar a sede de vingança.<br />
Mais adiante, ele acrescenta esta observação que pode ser verificada por qualquer:<br />
"Também se esperava um desarmamento geral, mas em toda a parte se reorganizam<br />
os exércitos e as marinhas, com mais impetuosidade que nunca. O militarismo torna-se mais<br />
forte e vai imperando em países onde anteriormente era desconhecido."<br />
Essa mania militar que se apossou de quase todos os países do globo, inclusive o<br />
nosso, levou todos eles a examinar e a imitar a poderosa máquina guerreira alemã.<br />
Os seus códigos e regulamentos militares vão sendo mais ou menos estudados e<br />
imitados, quando não são copiados. Não se fica só nisso. A tendência alemã, ou melhor,<br />
prussiana, de militarizar tudo, os mais elementares atos da nossa vida civil, por meio de<br />
códigos, regulamentos, penas e multas, vai-se também apossando dos cérebros dos<br />
governantes que, com afã, adotam tão nociva prática de asfixiar o indivíduo num "batras"<br />
legislativo.<br />
O ideal dos militares atuais não é ser um grande general, ao jeito dos passados, que,<br />
aos seus predicados guerreiros, sabiam unir vistas práticas de sociólogo e de político.<br />
O ideal deles é o cabeçudo Ludendorff, cujas memórias denunciam uma curiosa<br />
deformação mental, obtida pelo ensino de uma multidão de escolas militares que o<br />
militarismo prussiano inventou, as quais têm de ser freqüentadas pelos oficiais que<br />
ambicionam altos postos. Tais escolas tiram-lhes toda e qualquer faculdade crítica, todo o