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Marginalia - Curso Objetivo

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A figura central e mais original do romance é o Lelé. Feiticeiro e sacristão, letrado a<br />

seu modo, rábula de câmaras eclesiásticas, onde vai freqüentemente para arranjar o<br />

desimpedimento de matrimônios entre parentes próximos, esse Lelé confunde, mistura e<br />

combina, as crenças superiores da Igreja Católica com as primitivas do animismo fetichista<br />

dos negros e índios. Alia a isso, uma medicina de pajé, com a sua terapêutica de ervas<br />

silvestres, cozimentos, rezas e exorcismos. É médico e sacerdote.<br />

Um tanto crente e um tanto impostor, aproveitando-se de epidemias e desgraças<br />

climatéricas, emprega o seu ascendente sobre o povo e também sobre os senhores de fazenda<br />

em cujo espírito o seu prestígio se tinha infiltrado, transforma a todos em fanáticos obedientes<br />

ao seu mando, para vingar-se do padre e realizar a sua estulta e bronca ambição de pontificar<br />

como um bispo autêntico na capela branca da fazenda "Boa Esperança".<br />

O Sr. Veiga Miranda põe todo o seu talento de observação e de psicólogo dos<br />

indivíduos e das multidões para o estudo e a ação desse personagem.<br />

Ele percorre o livro todo e é como que a alma da obra.<br />

Os personagens secundários, sobretudo a Borginha, a filha mais moça do fazendeiro,<br />

traquinas e desenvolta, são todos bem característicos e as concepções familiares e domésticas<br />

do Zamundo Bravo, lugar -tenente de Malaquias, e de seus filhos, filhas e noras, são<br />

documentos preciosos para o estudo dos nossos costumes do interior, onde todos, a começar<br />

pelos de lá, põem a máxima pureza e moralidade.<br />

Analisar o livro, detalhe por detalhe, seria, para mim e para os leitores, fastidioso e<br />

fatigante. Lê-lo será melhor para travar conhecimento com um autor nacional que, às<br />

qualidades exigidas a um simples romancista, alia as de um psicólogo da nossa curiosa<br />

"multidão" roceira e as de um sociólogo que veio a sê-lo passando pela geometria.<br />

E, por falar nisto, não nos despedimos do Sr. Veiga Miranda e do seu belo livro, sem<br />

lhe fazer uma crítica de mestre-escola. Diz o autor, pág. 241:<br />

"Pairavam (os corvos) primeiro no alto, quase imperceptíveis, milhares, e iam<br />

baixando numa espiral invertida, até o ponto do banquete."<br />

Será mesmo espiral?... Riamo-nos um pouco como bons camaradas que somos... Até<br />

logo!<br />

Revista Contemporânea, 26-4-1919.<br />

LIMITES E PROTOCOLO<br />

O Sr. Noronha Santos, diretor do Arquivo Municipal desta cidade, acaba de<br />

imprimir e publicar, por ordem e conta da respectiva Prefeitura, uma excelente memória sobre<br />

os limites desta leal e heróica "urbs" com o Estado do Rio.<br />

À vontade para falar dessas questões de limites estaduais, a propósito de sua curiosa<br />

obra, porquanto sou carioca, aproveito a ocasião para o fazer de um modo geral.<br />

O seu trabalho, que é exaustivo e minucioso, sofre do mesmo erro de visão que os<br />

demais referentes a tais questões.<br />

Todos eles querem ir buscar, como argumento decisivo da validade de tal ou qual<br />

linha divisória entre as antigas províncias, os documentos oficiais, decretos, portarias, avisos e<br />

outros atos administrativos.<br />

Um trabalho desses, que revela esforço e paciência, se não inteligência e capacidade,<br />

tem, entretanto, o pequeno defeito de esquecer que nem o Império e, muito menos, o governo

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