14.06.2013 Views

Anais do III Encontro Nacional de Estudos sobre o Mediterrâneo ...

Anais do III Encontro Nacional de Estudos sobre o Mediterrâneo ...

Anais do III Encontro Nacional de Estudos sobre o Mediterrâneo ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Gabriel Ferreira <strong>de</strong> Almeida Paizani<br />

foram apreendi<strong>do</strong>s como po<strong>de</strong>res distintos; 2) ela gerou no medievo uma extensa literatura<br />

que interpretou a relação entre ambos os po<strong>de</strong>res, como uma relação <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência<br />

entre eles ou como uma relação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> que implicava na <strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> regnum<br />

respeito ao sacer<strong>do</strong>tium. (BERTELLONI, 2006: 51-22).<br />

Assim, o medievo formulou teoricamente essa relação entre os po<strong>de</strong>res mediante<br />

diversos recursos, como por meio das alegorias <strong>do</strong> sol e da lua (duo luminaria), das duas<br />

espadas (duo gladii), também empregou analogias antropológicas, como a da alma e <strong>do</strong><br />

corpo, em outras recorreu a mo<strong>de</strong>los organológicos que comparam o corpo político com<br />

um corpo humano, cuja alma é i<strong>de</strong>ntificada com o sacerdócio e suas outras partes com o<br />

corpo político. A relação também foi formulada juridicamente por canonistas e por<br />

teólogos, que o fizeram recorren<strong>do</strong> a exegeses <strong>de</strong> textos bíblicos. Com essa profusão<br />

medieval <strong>de</strong> fórmulas e alegorias usadas como argumento para legitimação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, o<br />

perío<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>rno não encontrará problemas em adaptar esses elementos para aplicar como<br />

sustento para seu corpo político.<br />

Essa discussão, durante o medievo, ganhou uma dimensão mais pujante em virtu<strong>de</strong><br />

da invasão <strong>de</strong> textos filosóficos e sua utilização na teoria política a partir <strong>do</strong> século X<strong>III</strong>.<br />

Assim, a teoria política medieval, entendida como discurso filosófico acerca da relação<br />

entre os po<strong>de</strong>res, se constituiu como resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> encontro entre uma situação histórica, o<br />

dualismo gelasiano, e uma situação histórico-filosófica, a massiva aparição <strong>de</strong> escritos<br />

filosóficos que, no âmbito universitário, coletaram essa dualida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ram uma forma<br />

teórica mediante elementos provenientes da filosofia. (BERTELLONI, 2006: 52).<br />

A partir da segunda meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século X<strong>III</strong> notamos um amplo acréscimo na<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trata<strong>do</strong>s políticos escritos, assim como um aumento na qualida<strong>de</strong> da<br />

produção. Consequência <strong>do</strong> apogeu da instituição universitária e da presença <strong>de</strong> novos<br />

escritos filosóficos. Esse arcabouço teórico, utiliza<strong>do</strong> pelos <strong>de</strong>fensores <strong>de</strong> ambos os<br />

po<strong>de</strong>res, era proveniente das mais diversas fontes.<br />

Sobre essa questão, respon<strong>de</strong> Fátima Regina Fernan<strong>de</strong>s:<br />

Para além das <strong>de</strong> reflexões e teorias consagradas pelos pensa<strong>do</strong>res da Patrística,<br />

que constituía base comum <strong>de</strong> formação <strong>do</strong>s pensa<strong>do</strong>res medievais, notamos que<br />

os clérigos, até o século XI monopoliza<strong>do</strong>res <strong>do</strong> saber e <strong>do</strong> ensino começaram no<br />

século XII a sofrer a concorrência <strong>de</strong> outros núcleos forma<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cultura e <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ologia, as Universida<strong>de</strong>s. Estas institucionalizam espaços <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> até então<br />

mais restritos. Contu<strong>do</strong>, os mosteiros e as escolas urbanas ainda teriam seu papel,<br />

mas os espaços da Aca<strong>de</strong>mia sistematizavam a rotina e forneciam méto<strong>do</strong> à<br />

produção <strong>do</strong> conhecimento. (2009: 44-45).<br />

<strong>III</strong> ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS SOBRE O MEDITERRÂNEO ANTIGO<br />

X FÓRUM DE DEBATES EM HISTÓRIA ANTIGA DA UERJ<br />

- 102 -

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!