Anais do III Encontro Nacional de Estudos sobre o Mediterrâneo ...
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<strong>III</strong> ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS SOBRE O MEDITERRÂNEO ANTIGO<br />
X FÓRUM DE DEBATES EM HISTÓRIA ANTIGA DA UERJ<br />
- 228 -<br />
Rennan <strong>de</strong> Souza Lemos<br />
<strong>do</strong> fenômeno religioso mais geral. Basear-me-ei no conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> Gran<strong>de</strong> Hino ao Aton e<br />
em artefatos arqueológicos escava<strong>do</strong>s nesta cida<strong>de</strong> pela equipe li<strong>de</strong>rada por Barry Kemp.<br />
- A religião <strong>de</strong> Amarna no contexto <strong>do</strong> ReinoNovo<br />
O Egito <strong>do</strong> Reino Novo, isto é, inicia<strong>do</strong> com a re-unificação <strong>do</strong> território após o<br />
Segun<strong>do</strong> Perío<strong>do</strong> Intermediário, significou a supremacia política e religiosa da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Uaset (<strong>do</strong> grego, Tebas). O culto <strong>de</strong> Amon ganhou proeminência e este <strong>de</strong>us, associa<strong>do</strong> à<br />
divinda<strong>de</strong> solar da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Iunu (Heliópolis), tornou-se Amon-Ra, rei <strong>do</strong>s <strong>de</strong>uses.<br />
Ao mesmo tempo em que se enfatizara Amon-Ra, que se tornara <strong>de</strong>us dinástico,<br />
outra tendência <strong>do</strong> Reino Novo foi a <strong>de</strong>ificação, ainda em vida, <strong>do</strong> faraó: este, associa<strong>do</strong> à<br />
divinda<strong>de</strong> <strong>de</strong> diversas formas, ao mesmo tempo que legitimava seu po<strong>de</strong>r, passara a ser<br />
foco <strong>de</strong> culto – tal fenômeno po<strong>de</strong> ser percebi<strong>do</strong>, por exemplo, em Hatshepsut e<br />
Amenhotep <strong>III</strong>, ou ainda, num momento <strong>de</strong> auge da tendência, durante o reina<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
Ramsés II (cf. GRALHA, 2002; CARDOSO, 2001).<br />
Nesse contexto, o caso amarniano talvez tenha configura<strong>do</strong> uma tentativa <strong>de</strong><br />
associação entre o culto estatal e templário; consisti<strong>do</strong> num momento <strong>de</strong> encontro entre<br />
duas tendências da época <strong>do</strong> Reino Novo: “aquela a uma crescente exaltação <strong>do</strong> <strong>de</strong>us<br />
dinástico Amon-Ra <strong>de</strong> Tebas; e a que levou a uma também crescente divinização <strong>do</strong> faraó<br />
ainda vivo” (CARDOSO, 2001: 119). No caso específico <strong>de</strong> Amarna, exaltou-se o Aton e<br />
o caráter divino <strong>do</strong> faraó, e também da rainha e da família real, como intermediários entre<br />
as pessoas comuns e o Disco Solar.<br />
Além <strong>de</strong> um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> junção <strong>de</strong> tendências <strong>do</strong> Reino Novo, o perío<strong>do</strong> amarniano,<br />
ao mesmo tempo, po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como um divisor <strong>de</strong> águas: foi o momento <strong>de</strong><br />
choque entre uma tradição religiosa historicamente construída com outra, imposta<br />
arbitrariamente por Akhenaton – uma tentativa falha <strong>de</strong> substituição <strong>de</strong> uma religião por<br />
outra, extremamente simplificada (CARDOSO, não publica<strong>do</strong>).<br />
No tocante às concepções e práticas da maior parte da população, a Reforma <strong>de</strong><br />
Amarna talvez tenha consisti<strong>do</strong> num perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> crise. Po<strong>de</strong>-se ler, por exemplo, no Gran<strong>de</strong><br />
Hino ao Aton:<br />
Ninguém conhece o teu para<strong>de</strong>iro (quan<strong>do</strong>) <strong>de</strong>scansas no horizonte oci<strong>de</strong>ntal. A<br />
terra está (então) nas trevas, à maneira da morte. Dorme-se no(s) quarto(s), as<br />
cabeças cobertas, um olho não po<strong>de</strong> ver o outro (lit. o seu igual), to<strong>do</strong>s os bens<br />
das pessoas (lit. <strong>de</strong>les) po<strong>de</strong>m ser rouba<strong>do</strong>s, (mesmo se) estiverem <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong><br />
suas cabeças, sem que elas percebam. Todas as feras (lit. to<strong>do</strong>s os leões) saem <strong>de</strong><br />
seus covis, to<strong>do</strong>s os répteis picam (na) escuridão <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> luz! (?) A terra