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Anais do III Encontro Nacional de Estudos sobre o Mediterrâneo ...

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<strong>III</strong> ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS SOBRE O MEDITERRÂNEO ANTIGO<br />

X FÓRUM DE DEBATES EM HISTÓRIA ANTIGA DA UERJ<br />

- 220 -<br />

Raul B. Maravalhas<br />

A esse esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> perfeição contrapõe-se a Kali Yuga, especialmente em sua parte<br />

final, uma época <strong>de</strong> barbárie extrema e <strong>de</strong>cadência generalizada <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>: a hierarquia e<br />

os <strong>de</strong>veres das quatro estão inverti<strong>do</strong>s; os homens já não seguem a religião, nem<br />

praticam os ritos e sacrifícios, são gananciosos, egoístas e cruéis; os filhos já não respeitam<br />

os pais e matam uns aos outros; meninas dão à luz aos cinco ou seis anos e meninos são<br />

pais aos sete ou oito. As impieda<strong>de</strong>s praticadas pelos homens também ecoam na natureza e<br />

há uma quebra da or<strong>de</strong>m cósmica. Enfim, uma gran<strong>de</strong> lista <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgraças é elencada nas<br />

<strong>de</strong>scrições da última era e especialmente <strong>do</strong> seu final. Com o fim da yuga, porém, o mun<strong>do</strong><br />

começa a se regenerar gradualmente e uma nova ta Yuga se reinicia ( 3,<br />

188). A perspectiva clássica situa o nosso tempo na última e pior das yugas.<br />

Mil repetições <strong>de</strong>sses ciclos <strong>de</strong> quatro ida<strong>de</strong>s equivalem a um kalpa, também<br />

chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> dia <strong>de</strong> Brahm , <strong>de</strong>us cria<strong>do</strong>r <strong>do</strong> hinduísmo. Ao final <strong>de</strong> seu dia, Brahm<br />

<strong>do</strong>rme, promoven<strong>do</strong> a <strong>de</strong>struição <strong>do</strong> universo, que permanece dissolvi<strong>do</strong> durante o tempo<br />

equivalente a um kalpa, e é novamente cria<strong>do</strong> no seu <strong>de</strong>spertar 5 .<br />

Há, contu<strong>do</strong>, um ciclo ainda mais amplo, adiciona<strong>do</strong> pelos compositores <strong>do</strong>s<br />

(GONZÁLEZ-REIMANN, 2002: 03-0 ) o da vida <strong>de</strong> Brahm . Esta é constituída<br />

<strong>de</strong> 100 anos, sen<strong>do</strong> cada ano equivalente a 360 dias <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>us. Ao final <strong>de</strong> sua vida<br />

teríamos, enfim, uma <strong>de</strong>struição total <strong>do</strong> universo e a reabsorção <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os elementos na<br />

unida<strong>de</strong> original ( 46, 22- ). O cálculo, como se po<strong>de</strong> notar, alcança<br />

proporç es astron micas, ou melhor, ainda maiores que astron micas, á a duração total da<br />

vida <strong>de</strong> Brahm , intervalo <strong>de</strong> tempo necessário para a <strong>de</strong>struição completa <strong>do</strong> universo, é<br />

<strong>de</strong> 3,1104 x 10 14 , mais <strong>do</strong> que 20.000 vezes a ida<strong>de</strong> <strong>do</strong> universo segun<strong>do</strong> a teoria <strong>do</strong> big-<br />

bang (MAGALHÃES, 2003: 20) 6 .<br />

Como se po<strong>de</strong> notar, a ciclicida<strong>de</strong> é um conceito caro às concepções indianas<br />

antigas e repete-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> um nível microscópico (as reencarnações <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> )<br />

5 É comum encontrar a menção <strong>de</strong> que um kalpa equivale a uma (WIDENGREN, 1995: 24;<br />

DOBRORUKA, 2009: 18), e não a mil . Esta confusão, no entanto, é fundamentada por um caso<br />

<strong>de</strong>sviante presente no 12, 291, 14 (GONZÁLEZ-REIMANN, 2002: 72).<br />

6 Atualizo aqui os cálculos feitos por González-Reimann (GONZÁLEZ-REIMANN, 1988: 122). Outro tipo<br />

<strong>de</strong> ciclo presente na tradição indiana são os chama<strong>do</strong>s manvantaras, “perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Manu”. Consiste em uma<br />

era iniciada por um Manu – o primeiro homem e progenitor da humanida<strong>de</strong> na concepção hinduísta –, um<br />

novo grupo <strong>de</strong> <strong>de</strong>uses e <strong>de</strong> sete . Cada kalpa possui 14 manvantaras e um manvantara consiste <strong>de</strong> 71<br />

, adiciona<strong>do</strong> <strong>de</strong> um perío<strong>do</strong> não-especifica<strong>do</strong>. Essa harmonização pouco precisa com sistema <strong>de</strong><br />

yugas/kalpas (que foi posteriormente <strong>de</strong>senvolvida e aperfeiçoada) aponta para uma origem diversa da<br />

periodização por manvantaras (GONZÁLEZ-REIMANN, 1988: 116-121).

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