Anais do III Encontro Nacional de Estudos sobre o Mediterrâneo ...
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A ABOMINAÇÃO DA DESOLAÇÃO: A FIGURA DO REI IMPIO APLICADA A ANTIOCO IV, EPÍFANES<br />
O “Cilindro <strong>de</strong> Ciro” <strong>de</strong>screve os mesmos padrões observa<strong>do</strong>s no Antigo<br />
Testamento: as predições são profecias ex-eventu 18 como temos em Dn; a caracterização<br />
<strong>do</strong>s reinos segue a convenção tradicional, “bom” e “mau”, apesar <strong>de</strong> termos evidências<br />
históricas bastante vagas.<br />
A <strong>de</strong>scrição lendária <strong>do</strong> Kay Kâûs se aproxima muito das <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong><br />
Nabôni<strong>de</strong>s, 19 principalmente na parte que tange à rebeldia e a <strong>de</strong>smesura. A tradição<br />
mesopotâmica confere também a Nabôni<strong>de</strong>s seu momento <strong>de</strong> “loucura”, por se vangloriar<br />
e não atribuir o culto e a glória <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>s à sua divinda<strong>de</strong>.<br />
Vale ressaltar a similarida<strong>de</strong> entre Dn 8:23-25 e Dn 11:3-45, e <strong>de</strong>stes com a<br />
profecia dinástica; 20 o estilo <strong>de</strong> profecia daniélica parece ter uma gran<strong>de</strong> influência<br />
babilônica, vale observar que nesta profecia dinástica encontramos também uma sequência<br />
<strong>de</strong> monarquias mundiais, entretanto, a sequência segue a or<strong>de</strong>m: Assíria, 21 Babilônia,<br />
Pérsia e Macedônia; a última exatamente por ser escrita no perío<strong>do</strong> helenístico, tema este<br />
adjacente ao <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> neste artigo.<br />
Dois perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ssa profecia são ti<strong>do</strong>s como terríveis, o primeiro que é relativo ao<br />
governo <strong>de</strong> Nabôni<strong>de</strong>s, e o último que seria representa<strong>do</strong> pelo mun<strong>do</strong> macedônico, com<br />
um estilo <strong>de</strong>scritivo muito pareci<strong>do</strong> com o <strong>de</strong>scrito em Dn 7.<br />
Observam-se correspondências gerais entre Dn 8 e 11 com as predições<br />
babilônicas; mostram profecias ex-eventu, têm uma sequência or<strong>de</strong>nada <strong>de</strong> monarquia;<br />
ressalte-se que a tradição <strong>de</strong> Nabôni<strong>de</strong>s já estava espalhada em gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />
antigo, sen<strong>do</strong> assim po<strong>de</strong> ser que o autor <strong>de</strong> Dn tenha se apropria<strong>do</strong> <strong>de</strong> seções da “Orações<br />
<strong>de</strong> Nabôni<strong>de</strong>s”, <strong>do</strong> “Cilindro <strong>de</strong> Ciro” e da “Profecia Dinástica”.<br />
Em Dn 7:21,24-25, temos a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> Antíoco Epífanes, como o “pequeno<br />
chifre que proferia palavras arrogantes ao Altíssimo”. 22<br />
18 Termo que <strong>de</strong>signa a ação <strong>de</strong> proferir uma “profecia” <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> evento ou fato ter aconteci<strong>do</strong>.<br />
19 Último rei da Babilônia, reinan<strong>do</strong> entre 554–539 a.C., sua participação em Dn não é visível, porém noutros<br />
relatos observa-se a sua malignida<strong>de</strong> e exaltação, o que acaba <strong>de</strong> certa forma <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> padrão mítico<br />
menciona<strong>do</strong> em Dn como um <strong>do</strong>s motivos da queda <strong>do</strong> seu império.<br />
20 Profecia ex-eventu datada aproximadamente <strong>do</strong> século II a.C. que narra a sucessão <strong>do</strong>s reis babilônicos,<br />
mostran<strong>do</strong> Nabuco<strong>do</strong>nosor como um gran<strong>de</strong> governante e Nabôni<strong>de</strong>s como um péssimo rei; tais alternâncias<br />
<strong>de</strong> reis bons e ruins ocorrem até o advento da quarta monarquia, sen<strong>do</strong> esta má por excelência.<br />
21 Já com relação às monarquias mundiais, o império babilônico é mostra<strong>do</strong> em Dn como sen<strong>do</strong> o primeiro<br />
gran<strong>de</strong> império, diferentemente da sequência anterior que mostrava a Assíria, como primeira. Tal sequência<br />
vista na profecia dinástica parece ter uma forte ligação com Dn, sen<strong>do</strong> a diferença a presença da Assíria que<br />
nos relatos <strong>de</strong> Dn parece não ter muita importância para ser enquadrada como monarquia mundial, além da<br />
história daniélica está fortemente ligada ao ambiente babilônico.<br />
22 Observa-se na <strong>de</strong>scrição <strong>do</strong>s chifres um forte paralelo com 1En 1:9. O chifre ao longo da tradição semítica é<br />
mostra<strong>do</strong> como símbolo <strong>de</strong> força e po<strong>de</strong>r; seu uso <strong>de</strong>screve o po<strong>de</strong>rio <strong>de</strong> Antíoco como governante e também<br />
a intensida<strong>de</strong> da revolta <strong>do</strong>s Macabeus.<br />
NÚCLEO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE<br />
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