Anais do III Encontro Nacional de Estudos sobre o Mediterrâneo ...
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<strong>III</strong> ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS SOBRE O MEDITERRÂNEO ANTIGO<br />
X FÓRUM DE DEBATES EM HISTÓRIA ANTIGA DA UERJ<br />
- 240 -<br />
Wen<strong>de</strong>ll <strong>do</strong>s Reis Veloso<br />
estes existentes em diferentes graus no extrato cultural <strong>do</strong> que po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>nominar <strong>de</strong><br />
cultura medieval.<br />
O Romanismo cita<strong>do</strong> acima caracteriza-se na cultura tar<strong>do</strong>-antiga e medieval<br />
também pela preservação <strong>de</strong> um imaginário imperial, liga<strong>do</strong> à gran<strong>de</strong>za e magnificência<br />
características <strong>do</strong> Império Romano. No entanto, diferente <strong>do</strong> que comumente se pensa, esta<br />
idéia <strong>de</strong> império não está ligada apenas à instituições políticas ou militares formais, antes,<br />
como nos ensina a historia<strong>do</strong>ra Norma Musco Men<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>vemos enten<strong>de</strong>r “império como<br />
uma organização relacional formal ou informal para o controle da soberania política<br />
<strong>sobre</strong> um amplo território que apresenta caráter multiétnico (...)”, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que “a sua<br />
<strong>sobre</strong>vivência não está ligada meramente às forças <strong>de</strong> coerção e aos atos <strong>de</strong> acumulação<br />
<strong>de</strong> riqueza.” (MENDES, 2010: 04).<br />
Em um contexto <strong>de</strong> múltiplas crises, a Igreja cristã ten<strong>de</strong>u à aproximação crescente<br />
com as instituições formais <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, como evi<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong> já no Edito <strong>de</strong> Milão que data <strong>do</strong><br />
primeiro quarto <strong>do</strong> século IV. 4 Desta maneira, organizan<strong>do</strong>-se à semelhança <strong>do</strong> Império<br />
Romano, com sua disciplina e hierarquia, a Igreja não era somente o caminho da salvação<br />
eterna, mas também uma fonte <strong>de</strong> recursos terrenos em meio aos vazios <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong>s<br />
pelo Império. (PEREIRA, 2009: 48-49)<br />
O Bispo <strong>de</strong> Hipona, em A Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, ao abordar o porquê <strong>do</strong>s seus escritos<br />
afirma: “também prometi mostrar os costumes e o porquê <strong>do</strong> querer <strong>do</strong> verda<strong>de</strong>iro Deus,<br />
em cujas mãos se acham to<strong>do</strong>s os reinos, ao reafirmar o Império para engran<strong>de</strong>cê-lo,<br />
(...).” (A CIDADE DE DEUS, Vol. I, Livro IV, Cap. II, p. 151) Nota-se neste trecho o uso<br />
<strong>de</strong> um vocabulário tipicamente político, o que nos aponta a influência da idéia <strong>de</strong> império<br />
no pensamento agostiniano. De maneira análoga ocorre em outro trecho quan<strong>do</strong> nosso<br />
bispo assevera: “O po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> dar o império e reino não o atribuímos senão ao verda<strong>de</strong>iro<br />
Deus, que dá a felicida<strong>de</strong> no reino <strong>do</strong>s céus somente aos pie<strong>do</strong>sos, e o reino terrestre a<br />
pie<strong>do</strong>sos e a ímpios, como lhe apraz.” (I<strong>de</strong>m, Vol. I, Livro V, Cap. XXI, p. 222).<br />
No primeiro trecho Agostinho afirma que to<strong>do</strong>s os reinos encontram-se sob o po<strong>de</strong>r<br />
daquele <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> por ele <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iro Deus, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que se a ele pertence, ele<br />
distribui a quem lhe apraz, como verificamos no segun<strong>do</strong> trecho ao lermos que o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />
dar o império e o reino não <strong>de</strong>ve ser atribuí<strong>do</strong> senão ao verda<strong>de</strong>iro Deus. To<strong>do</strong>s os seres<br />
4 O Edito <strong>de</strong> Milão data<strong>do</strong> <strong>de</strong> 313 d. C., é importante <strong>do</strong>cumento que nos evi<strong>de</strong>ncia a crescente aproximação<br />
entre o cristianismo eclesiástico e as instituições formais <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.