Anais do III Encontro Nacional de Estudos sobre o Mediterrâneo ...
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NÚCLEO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE<br />
- 137 -<br />
UMA IMAGEM DO IMPERATOR TEODÓSIO I<br />
Hipódromo pulsavam as ativida<strong>de</strong>s civis da Capital <strong>do</strong> Império. As corridas <strong>de</strong> bigas eram<br />
jogos muito populares <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o perío<strong>do</strong> helenístico. Herdadas pelos romanos e bizantinos,<br />
essas corridas eram eventos que congregavam vários grupos sociais em um mesmo espaço<br />
físico. Embora, este “gran<strong>de</strong> espaço” fosse construí<strong>do</strong> <strong>de</strong> maneira a segregar cada um<br />
<strong>de</strong>stes grupos. To<strong>do</strong>s estão representa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> frente, na mesma proporção, com um padrão<br />
que se repete e não indica características individuais. Estas são reservadas à figura <strong>do</strong><br />
imperator. Como bem notamos na imagem analisada neste trabalho: as arquibancadas<br />
inferiores são <strong>de</strong>stinadas aos músicos, dançarinos e outros especta<strong>do</strong>res; enquanto na parte<br />
superior da escultura vemos o imperator e alguns escolhi<strong>do</strong>s <strong>de</strong>sfrutar <strong>de</strong> um camarote<br />
exclusivo – um lugar extremamente privilegia<strong>do</strong> em meio às arquibancadas superiores que<br />
já eram um recanto especial.<br />
O aspecto religioso (e cristão) era marcante no Império Romano Oriental. Os<br />
bizantinos viam a eles próprios como protetores da cristanda<strong>de</strong>. Talvez por este motivo, os<br />
impera<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Bizâncio preferissem as carreiras <strong>de</strong> bigas aos jogos gladiatórios, tão<br />
menospreza<strong>do</strong>s pela maior parte <strong>do</strong>s cristãos, embora as próprias carreiras também fossem<br />
motivos <strong>de</strong> discórdias <strong>de</strong>ntro da cristanda<strong>de</strong>. Do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> alguns cristãos estes<br />
jogos provocavam <strong>de</strong>spesas e embates <strong>de</strong>snecessários que prejudicavam o correto governo.<br />
O conjunto <strong>de</strong> idéias <strong>de</strong> origem romana que diziam respeito ao po<strong>de</strong>r imperial<br />
mesclou-se com correntes cristãs e helenísticas, o que produziu uma i<strong>de</strong>ologia bizantina. O<br />
governante, ti<strong>do</strong> como o escolhi<strong>do</strong> para representar Deus na terra, propagava seu po<strong>de</strong>r<br />
com as gran<strong>de</strong>s construções e com o embelezamento da Capital. As mais elaboradas<br />
cerimônias necessitavam contar com a presença <strong>do</strong> imperator e <strong>de</strong> seu séquito (algumas<br />
vezes esta presença era física, outras, por meio <strong>de</strong> imagens). Estas ocasiões propiciavam<br />
uma verda<strong>de</strong>ira projeção <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r. Eram repletas <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>s inquestionáveis da soberania<br />
imperial e <strong>de</strong> eternos gestos simbólicos – como a coroação <strong>do</strong> vence<strong>do</strong>r das corridas <strong>de</strong><br />
bigas. Estes pomposos rituais transmitiam mensagens <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>sobre</strong> a socieda<strong>de</strong> e, ao<br />
mesmo tempo, reforçavam a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> governar <strong>do</strong> imperator.<br />
As imagens <strong>do</strong> governante se faziam presente em to<strong>do</strong>s os locais on<strong>de</strong> se exercia a<br />
autorida<strong>de</strong> pública. Portanto, percebemos estas imagens como a “presença <strong>de</strong> uma<br />
ausência” (BELTING, 2005: 65), neste caso não relaciona<strong>do</strong> com a morte, conforme<br />
aponta Hans Belting, mas com alguém que não po<strong>de</strong> ser visto a to<strong>do</strong> momento, afinal, nos<br />
referimos ao governante <strong>do</strong> Império Romano, o homem mais importante <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />
romano. Contu<strong>do</strong>, este indivíduo <strong>de</strong>ve ser lembra<strong>do</strong> e respeita<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s, a to<strong>do</strong> instante.