14.06.2013 Views

Anais do III Encontro Nacional de Estudos sobre o Mediterrâneo ...

Anais do III Encontro Nacional de Estudos sobre o Mediterrâneo ...

Anais do III Encontro Nacional de Estudos sobre o Mediterrâneo ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ASPECTOS DE UMA PROPOSTA ACERCA DA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE ERUDITA NO MEDITERRÂNEO<br />

DO SÉCULO XIV<br />

permea<strong>do</strong> por sultanatos (po<strong>de</strong>r temporal concebi<strong>do</strong> como uma autocracia). O sultanato<br />

requeria como prerrogativa <strong>de</strong> legitimação para sua existência a constituição <strong>de</strong> uma corte<br />

formada por sábios, os quais auxiliariam o homem <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Este, por sua vez, <strong>de</strong>veria ser<br />

versa<strong>do</strong> na gramática, filosofia, história e leis islâmicas. Por isso, o legítimo homem <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r para Khaldun <strong>de</strong>veria ter as virtu<strong>de</strong>s da dignida<strong>de</strong> (seguir as leis islâmicas) e nobreza<br />

(ser intelectual). Diretamente relaciona<strong>do</strong> à ele estava o chama<strong>do</strong> grupo <strong>de</strong> apoio <strong>do</strong> sultão,<br />

composto pelo seu emir (príncipe guerreiro), vizir (primeiro ministro) e seu parafo real.<br />

Importante ressaltar é que a participação e sucesso em batalhas <strong>de</strong>stacavam os guerreiros<br />

islâmicos e por isso ocorria uma constante movimentação <strong>de</strong> cargos no âmbito político. Em<br />

um <strong>do</strong>s exemplos <strong>de</strong> orientação ao bom governo aponta<strong>do</strong> por Khaldun em sua obra,<br />

citaremos aqui um trecho especial e muito revela<strong>do</strong>r <strong>de</strong> um trata<strong>do</strong>. Este foi composto<br />

como mensagem escrita por volta <strong>do</strong> século V<strong>III</strong>, por Tahir Ibn Al-Huçain, general <strong>de</strong> Al-<br />

Mamun, ao seu filho Abd Allah Ibn Tahir – o qual, diretamente pelo califa, tinha acaba<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> ser nomea<strong>do</strong> como governante da cida<strong>de</strong> da Mesopotâmia, <strong>do</strong> Velho Cairo e das<br />

províncias instaladas nas fronteiras ao re<strong>do</strong>r <strong>de</strong> tais cida<strong>de</strong>s. Khaldun nos diz que esse<br />

<strong>do</strong>cumento tinha como objetivo a orientação moral, acerca <strong>do</strong>s princípios da administração<br />

civil e religiosa, a recomendação <strong>de</strong> certas virtu<strong>de</strong>s e sentimentos <strong>de</strong> honra próprios <strong>de</strong> um<br />

bom governante. Vejamos a seguir alguns trechos <strong>do</strong> trata<strong>do</strong> (inicialmente, como<br />

assinala<strong>do</strong> por Khaldun, presente na obra <strong>de</strong> Al-Tabari) que se encontram na Muqaddimah:<br />

Eis o texto da mensagem que transcrevemos da obra <strong>de</strong> Tabari. “Em nome <strong>de</strong><br />

Allah clemente e misericordioso. Vive sempre no temor <strong>do</strong> Deus único, que não<br />

tem nenhum associa<strong>do</strong> no seu po<strong>de</strong>rio; [...] Deus (que seu santo nome seja<br />

glorifica<strong>do</strong>!) tratou-te com benevolência; mas impôs-te o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> seres<br />

misericordioso para as criaturas que pôs sob tua guarda. Governa-as com justiça<br />

e não esqueças que Deus tem <strong>sobre</strong> elas direitos que tu mesmo <strong>de</strong>ves fazer valer<br />

infligin<strong>do</strong> punições <strong>de</strong>terminadas pela lei. [...] Sabe também que nos negócios<br />

<strong>de</strong>ste mun<strong>do</strong>, a mo<strong>de</strong>ração leva às gran<strong>de</strong>zas e impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> cometer muitas faltas.<br />

[...] Não te <strong>de</strong>ixes levar por tuas paixões nem arrastar pela tirania: afasta <strong>de</strong>la<br />

teus pensamentos e mostra a teus súditos que neste ponto tu és sem mácula. [...]<br />

No momento das cóleras repentinas, mantém-te senhor <strong>de</strong> ti e procura agir com<br />

dignida<strong>de</strong> e com prudência; em tu<strong>do</strong> que empreen<strong>de</strong>res, não te <strong>de</strong>ixes extraviar<br />

pela precipitação, nem pela presunção. [...] Consulta os <strong>do</strong>utores da lei; proce<strong>de</strong><br />

com prudência; toma aviso <strong>do</strong>s homens <strong>de</strong> experiência, das pessoas <strong>do</strong>tadas <strong>de</strong><br />

inteligência, <strong>de</strong> critério e <strong>de</strong> sabe<strong>do</strong>ria. [...] Sabe que, nomean<strong>do</strong>-te para o cargo<br />

que ocupas, <strong>de</strong>sejou-se que sejas tesoureiro, guardião e pastor <strong>do</strong> rebanho. Eis<br />

porque se <strong>de</strong>signa o termo <strong>de</strong> raia (rebanho), o povo submeti<strong>do</strong> à tua autorida<strong>de</strong>.<br />

NÚCLEO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE<br />

- 77 -

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!