Anais do III Encontro Nacional de Estudos sobre o Mediterrâneo ...
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Gabriel Ferreira <strong>de</strong> Almeida Paizani<br />
2. O homem medieval, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> sua condição social, não se i<strong>de</strong>ntifica<br />
enquanto indivíduo, mas enquanto grupo, assim, a solidarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> grupo funciona como<br />
elemento estabiliza<strong>do</strong>r da socieda<strong>de</strong> medieval, e no que diz respeito à nobreza, funciona<br />
como meio <strong>de</strong>fesa e continuida<strong>de</strong> da sua posição privilegiada. (FERNANDES, 2003: 16).<br />
Para apreciar corretamente um conceito multifaceta<strong>do</strong> como o <strong>de</strong> nobreza, <strong>de</strong>vemos<br />
nos remeter à origem familiar. A família, em to<strong>do</strong>s os perío<strong>do</strong>s históricos, tinha como<br />
função primária, favorecer a reprodução <strong>do</strong>s indivíduos e <strong>do</strong>s grupos humanos, para<br />
posteriormente permitir aquela nas melhores condições, a manutenção ou multiplicação<br />
<strong>do</strong>s po<strong>de</strong>res materiais e/ou simbólicos que eles adquirem ou possuíam já. Assim, José<br />
Mattoso afirmou que a reprodução não se reduz, portanto, à transmissão biológica da vida,<br />
mas é também a reprodução da posse <strong>sobre</strong> os bens, <strong>do</strong> status, ou <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r adquiri<strong>do</strong>.<br />
(MATTOSO, 1987: 45).<br />
Para o comum <strong>do</strong>s homens, o problema fundamental sempre foi à manutenção da<br />
vida, para a camada <strong>do</strong>minante, porém, resolvi<strong>do</strong>s os problemas <strong>de</strong> subsistência,<br />
interessam <strong>sobre</strong>tu<strong>do</strong> os da aquisição e conservação <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r. A família nitidamente serve<br />
para preservar e perpetuar os bens, os simples bens que asseguram o consumo, mas<br />
também os que permitem obrigar os outros homens a submeterem-se, particularmente as<br />
armas. Quem diz as armas, instrumentos por excelência da autorida<strong>de</strong>, diz a própria<br />
autorida<strong>de</strong>, ou seja, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comandar homens. Diz também, e por isso mesmo, o<br />
direito <strong>de</strong> julgar ou o simples prestígio. (MATTOSO, 1987: 45). A transmissão <strong>de</strong>sse<br />
direitos, que diferenciam alguns homens <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o resto, terá <strong>de</strong> se evi<strong>de</strong>nciar pela entrega<br />
aos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>do</strong>s símbolos materiais <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r, como as ban<strong>de</strong>iras, coroas, cetros,<br />
brasões, vestuários e tatuagens. O seu uso só será permiti<strong>do</strong> aos membros da mesma<br />
família ou aos seus respectivos chefes e está sujeito a estritas regras sucessórias. Assim, a<br />
estrutura <strong>do</strong> parentesco está intimamente relacionada com a aquisição e a transmissão <strong>do</strong><br />
po<strong>de</strong>r.<br />
No Oci<strong>de</strong>nte medieval, a estrutura <strong>do</strong> parentesco é talvez a mais importante forma<br />
<strong>de</strong> reprodução <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r que a nobreza utiliza. Mas essa nobreza também necessita <strong>de</strong> um<br />
lugar das origens, isto é, das tradições guardadas com muito esmero. Precisa <strong>de</strong>ssa ligação<br />
com um tempo mítico, ancestral, que garante a autorida<strong>de</strong>. Sem esta conexão simbólica ao<br />
passa<strong>do</strong> glorioso, nem a posse <strong>do</strong>s bens, nem mesmo a proteção régia, tão <strong>de</strong>cisiva no<br />
plano temporal e político, chegam para conferir à nobreza o selo <strong>de</strong> autenticida<strong>de</strong>.<br />
<strong>III</strong> ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS SOBRE O MEDITERRÂNEO ANTIGO<br />
X FÓRUM DE DEBATES EM HISTÓRIA ANTIGA DA UERJ<br />
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