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Anais do III Encontro Nacional de Estudos sobre o Mediterrâneo ...

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O VERDADEIRO DEUS EM CUJAS MÃOS SE ACHAM TODOS OS REINOS:<br />

AGOSTINHO DE HIPONA E OS PRESSUPOSTOS DO “IMPÉRIO” DE DEUS NA<br />

TERRA<br />

Prof. Wen<strong>de</strong>ll <strong>do</strong>s Reis Veloso 1<br />

Este artigo tem por objetivo analisar a influência da idéia <strong>de</strong> império no projeto<br />

agostiniano <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cristã, i<strong>de</strong>ntifican<strong>do</strong> aí as reverberações relacionadas aos que<br />

foram situa<strong>do</strong>s em uma posição social <strong>de</strong> marginalida<strong>de</strong> e exclusão.<br />

Meto<strong>do</strong>logicamente optamos por uma Análise <strong>de</strong> Discurso <strong>de</strong> trechos das obras<br />

agostinianas Confissões (c. 397 d. C.) e A Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus (413-424 d. C.), valen<strong>do</strong>-nos,<br />

para tal, <strong>de</strong> pressupostos <strong>de</strong> uma História Sociocultural. Tais escritos <strong>de</strong>vem ser<br />

enquadra<strong>do</strong>s no que <strong>de</strong>nominamos <strong>de</strong> literatura patrística Pós-Nicena, literatura esta <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> importância para a teologia medieval, sen<strong>do</strong> mesmo utilizada por elites episcopais<br />

<strong>de</strong> perío<strong>do</strong>s posteriores como argumento <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>. 2<br />

Os discursos que formam nosso corpus <strong>do</strong>cumental não são entendi<strong>do</strong>s por nós<br />

como cópias da realida<strong>de</strong>, pois como nos mostra Reinhart Koselleck em sua obra Futuro<br />

Passa<strong>do</strong> 3 , “a história nunca se i<strong>de</strong>ntifica com seu registro lingüístico nem com sua<br />

experiência formulada, con<strong>de</strong>nsada oralmente ou por escrito, mas também não é<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>ssas articulações lingüísticas” (KOSELLECK, 2006: 196). Como nos<br />

ensina Jurandir Malerba, os constructos lingüísticos guardam referências com o real, ao<br />

passo que fazemos usos das palavras para nos orientarmos na realida<strong>de</strong>. (MALERBA,<br />

2000)<br />

Os historia<strong>do</strong>res que <strong>de</strong>dicam seus estu<strong>do</strong>s aos últimos séculos <strong>do</strong> Império Romano<br />

no Oci<strong>de</strong>nte, especialmente os liga<strong>do</strong>s a uma perspectiva cultural, nos parecem unânimes<br />

em caracterizar tal perío<strong>do</strong> por uma série <strong>de</strong> interacionismos culturais, apontan<strong>do</strong> em<br />

especial três gran<strong>de</strong>s eixos, sen<strong>do</strong> eles: Germanismo, Cristianismo e Romanismo. Eixos<br />

1 Gradua<strong>do</strong> em História pela Universida<strong>de</strong> Gama Filho e associa<strong>do</strong> ao Laboratório Interdisciplinar <strong>de</strong> Teoria<br />

da História, Antiguida<strong>de</strong> e Medievo (LITHAM) da UFRRJ on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolve a pesquisa “O Regramento<br />

Sexual no Pensamento Agostiniano” sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Renata Rozental Sancovsky<br />

(UFRRJ/LITHAM - LEI/USP).<br />

2 Sobre a presença da discursivida<strong>de</strong> agostiniana em discursos <strong>de</strong> momentos posteriores, po<strong>de</strong>mos citar a<br />

medievalista Renata Rozental Sancovsky em seu estu<strong>do</strong> <strong>sobre</strong> a legitimação ontológica que o Bispo Isi<strong>do</strong>ro<br />

<strong>de</strong> Sevilha encontrou em nosso autor (SANKOVSKY, 2008, p. 99-125). Outro exemplo acerca <strong>do</strong>s influxos<br />

agostinianos em escritos medievais po<strong>de</strong> ser encontra<strong>do</strong> em artigo <strong>de</strong> nossa autoria <strong>sobre</strong> a análise <strong>do</strong><br />

processo <strong>de</strong> regramento <strong>do</strong> sexo no século X<strong>III</strong> (VELOSO, 2009). Este assunto será aborda<strong>do</strong>, no presente<br />

trabalho, mais à frente.<br />

3 Todas as referências às reflexões <strong>de</strong> Reinhart Koselleck feitas daqui por diante referem-se ao capítulo 10 <strong>de</strong><br />

sua obra Futuro Passa<strong>do</strong> (2006).

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