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Tiago de Araujo Camillo - Programa de Pós-Graduação em ...

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test<strong>em</strong>unho do supra-referido colono al<strong>em</strong>ão – já citado nas partes iniciais <strong>de</strong>ste<br />

trabalho – que foi residir <strong>em</strong> Santa Catarina. No que tange ao binômio<br />

saú<strong>de</strong>/trabalho ele assim se manifestou:<br />

Infelizmente, ninguém vive somente <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s, e <strong>em</strong>bora se possua<br />

t<strong>em</strong>perança e operosida<strong>de</strong>, ainda será pouco para encetar esta viag<strong>em</strong>. Em<br />

primeiro lugar, está a fortuna <strong>de</strong> uma excelente saú<strong>de</strong>, com a qual o imigrante<br />

<strong>de</strong>ve contar, principalmente aquele que vai para climas quentes. Se doenças<br />

houver<strong>em</strong> enfraquecido o corpo, então a simples viag<strong>em</strong> marítima já representa<br />

o primeiro perigo, e, ainda que o fator sorte aju<strong>de</strong>, s<strong>em</strong>pre constituirá a principal<br />

condição para o ânimo indispensável ao sucesso <strong>de</strong> cada colono (RODOWICZ-<br />

OSWIECIMSKI, 1992, p. 3).<br />

O autor do relato além <strong>de</strong> l<strong>em</strong>brar a relação estreita entre doença e<br />

trabalho, <strong>de</strong>stacava que uma das especificida<strong>de</strong>s das regiões <strong>de</strong> clima tropical –<br />

as altas t<strong>em</strong>peraturas – po<strong>de</strong>ria agravar o quadro do imigrante se este já possuísse<br />

alguma doença ou mesmo se aportasse com saú<strong>de</strong> estava colocado numa situação<br />

<strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a vulnerabilida<strong>de</strong> frente aos obstáculos impostos pelas morbida<strong>de</strong>s.<br />

Percebe-se pelo discurso daquele estrangeiro a presença do que<br />

Laplantine enquadrou <strong>de</strong>ntro do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> percepção da etiologia que ele<br />

<strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> “maléfico”, on<strong>de</strong>: “(...) o patológico é essencialmente e<br />

integralmente negativizado por um processo <strong>de</strong> redução s<strong>em</strong>iológica (...) a<br />

doença é nociva, perniciosa, in<strong>de</strong>sejável” (LAPLANTINE, 1991, p. 102).<br />

Ao mesmo t<strong>em</strong>po a doença é enxergada como “um não-sentido radical –<br />

„o absurdo‟, „o azar‟ – que nada revela e que nada po<strong>de</strong> justificar”.<br />

Po<strong>de</strong>-se i<strong>de</strong>ntificar esta necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar saudável na carta <strong>em</strong> que<br />

Wilhelmine Hetzer, trabalhador al<strong>em</strong>ão instalado numa fazenda da região do<br />

Vale do Paraíba fluminense, envia para seus amigos e familiares na Europa, na<br />

qual ele observa: “(...) tudo que construo é meu e, se continuarmos saudáveis,<br />

seguramente terei pago as minhas dívidas antes que os quatro anos tenham<br />

passado” (ALVES, 2003, p. 27).<br />

Essas interpretações estão num sentido oposto ao “mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> doença<br />

benéfica”, o qual vê a doença como uma lição e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> renascimento:<br />

(...) o sintoma não é mais consi<strong>de</strong>rado como uma aberração a ser contida, mas<br />

como uma mensag<strong>em</strong> a ser ouvida e <strong>de</strong>svendada. A doença é uma reação que<br />

t<strong>em</strong>, se não um valor, pelo menos um sentido, já que é tida como uma tentativa<br />

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