Tiago de Araujo Camillo - Programa de Pós-Graduação em ...
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sociais e individuais”. Desta sorte, apesar <strong>de</strong> admitir a intrínseca relação entre<br />
representação etiológica e as condições sociais e a conseqüente infinida<strong>de</strong><br />
<strong>em</strong>pírica das representações da patogenia e da cura, é possível i<strong>de</strong>ntificar<br />
permanências, invariantes da experiência mórbida <strong>de</strong> número finito que, segundo<br />
a perspectiva <strong>de</strong> Laplantine, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser elucidadas pela Antropologia a partir do<br />
exame do universo <strong>em</strong>pírico disponível. O cerne do estudo é a comparação dos<br />
discursos presentes entre a população francesa cont<strong>em</strong>porânea e a literatura,<br />
porém ele não se furta <strong>de</strong> analisar os discursos <strong>de</strong> outras épocas <strong>em</strong> relação ao<br />
t<strong>em</strong>a, b<strong>em</strong> como a situação existente <strong>em</strong> outras socieda<strong>de</strong>s. Assim ele l<strong>em</strong>bra:<br />
(...) se b<strong>em</strong> que as interpretações da patogenia e da terapia vari<strong>em</strong><br />
essencialmente <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> para outra, <strong>de</strong> um indivíduo para outro, e que<br />
sejam inclusive <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente evolutivas numa mesma socieda<strong>de</strong> – o que faz<br />
com que pareçam, a nível <strong>em</strong>pírico, praticamente infinitas –, o que tentar<strong>em</strong>os<br />
mostrar é que não <strong>de</strong>ixam por isso <strong>de</strong> existir permanências, constantes ou, se<br />
preferirmos, invariantes da experiência mórbida e da esperança <strong>de</strong> cura<br />
perfeitamente i<strong>de</strong>ntificáveis, cujo número não é ilimitado (LAPLANTINE,<br />
1991, p. 11).<br />
A gran<strong>de</strong> marca <strong>de</strong> a “Antropologia da Doença” resi<strong>de</strong> no fato <strong>de</strong><br />
transferir o foco <strong>de</strong> atenção do saber médico acadêmico para o estudo das<br />
interpretações referentes aos saberes marginais. Mais do que isso, <strong>de</strong>monstrar<br />
que qualquer interpretação etiológico-terapêutica, mesmo aquelas que<br />
reivindicam a cientificida<strong>de</strong>, part<strong>em</strong> <strong>de</strong> opções referenciadas <strong>em</strong> sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong><br />
representações que po<strong>de</strong>m ser localizados no universo t<strong>em</strong>poral e cultural, por<br />
mais objetivos que pretendam ser.<br />
Resumindo, o que esperamos mostrar é que, ao lado ou, mais exatamente, com<br />
relação à doença tomada como objeto <strong>de</strong> conhecimento científico, ou seja,<br />
como ato <strong>de</strong> objetivação por um saber positivo, não é apenas “importante”,<br />
“interessante” (...) mas cientificamente necessário que uma verda<strong>de</strong>ira<br />
antropologia da saú<strong>de</strong> se volte também para o doente, que não só po<strong>de</strong> como<br />
<strong>de</strong>ve ser levado <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração, tornando-se um autêntico pólo <strong>de</strong><br />
conhecimento (LAPLANTINE, 1991, p. 17).<br />
Assim, Laplantine se coloca <strong>em</strong> relação oposta, por ex<strong>em</strong>plo, aos<br />
estudos da Sociologia Médica, que preconizam unicamente a análise do universo<br />
das profissões médicas, isto é, sua posição social enquanto grupo que atua na<br />
esfera da saú<strong>de</strong>. Em outras palavras, o saber cientificamente aceito e legitimado<br />
pela afirmação do conhecimento objetivo.<br />
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