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Tiago de Araujo Camillo - Programa de Pós-Graduação em ...

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A obra <strong>de</strong> Davatz é um libelo da causa, não apenas dos trabalhadores<br />

colocados sob o regime <strong>de</strong> parceria, como <strong>de</strong> todos os outros europeus que<br />

migraram para as regiões tropicais no <strong>de</strong>correr do século XIX e que ao<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>barcar<strong>em</strong> <strong>em</strong> seu <strong>de</strong>stino se <strong>de</strong>pararam com cenários naturais que nada ou<br />

pouco condiziam com o divulgado no “Velho Mundo” ou, ainda, eram inseridos<br />

<strong>em</strong> relações <strong>de</strong> trabalho subumanas, as quais estavam b<strong>em</strong> próximas do regime<br />

escravagista largamente praticado no Brasil. Foi com a intenção <strong>de</strong> advertir<br />

acerca das mazelas e <strong>de</strong>smistificar a visão <strong>de</strong> “paraíso” que era transmitida aos<br />

trabalhadores interessados <strong>em</strong> <strong>em</strong>igrar que Davatz l<strong>em</strong>brava:<br />

Lindas <strong>de</strong>scrições, relatos atraentes dos países que a imaginação entreviu;<br />

quadros pintados <strong>de</strong> modo parcial e inexato, <strong>em</strong> que a realida<strong>de</strong> é por vezes<br />

<strong>de</strong>liberadamente falseada, cartas ou informes sedutores e fascinantes <strong>de</strong> amigos,<br />

<strong>de</strong> parentes; a eficácia <strong>de</strong> tantos prospectos <strong>de</strong> propaganda e também, sobretudo,<br />

a ativida<strong>de</strong> infatigável dos agentes <strong>de</strong> imigração, mais <strong>em</strong>penhados <strong>em</strong> rechear<br />

os próprios bolsos do que <strong>em</strong> suavizar a existência do pobre... – tudo isso e mais<br />

alguma coisa contribuiu para que a questão da <strong>em</strong>igração atingisse um grau<br />

verda<strong>de</strong>iramente doentio, tornando-se uma legítima febre <strong>de</strong> <strong>em</strong>igração que já<br />

contaminou muita gente (DAVATZ, 1980, p. 47-48).<br />

Por meio da leitura <strong>de</strong>ste trecho po<strong>de</strong>-se verificar a atuação da<br />

propaganda entre os habitantes europeus e o contexto no qual o processo <strong>de</strong><br />

imigração estava envolto. De um lado o trabalhador <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> uma ruptura <strong>em</strong><br />

sua trajetória pessoal que lhe permitisse enriquecer, gozando <strong>de</strong> uma estabilida<strong>de</strong><br />

financeira impossível <strong>de</strong> galgar na Europa, noutro o agente <strong>de</strong> <strong>em</strong>igração, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, que via naquele processo uma ativida<strong>de</strong> rentável com amplas<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sucesso, tendo <strong>em</strong> vista as necessida<strong>de</strong>s do público alvo.<br />

Na seqüência Davatz refletia sobre a sua condição pessoal, localizando-<br />

se no contexto e avaliando a escolha procedida:<br />

Eu próprio fui vítima, <strong>em</strong> dado momento, da febre <strong>de</strong> <strong>em</strong>igrar. Por longo t<strong>em</strong>po<br />

cogitei, mas s<strong>em</strong> resultado, <strong>em</strong> dirigir-me aos Estados Unidos da América do<br />

Norte. Por fim certas circunstâncias vieram facilitar uma colocação na província<br />

brasileira <strong>de</strong> São Paulo. Em companhia <strong>de</strong> numerosos outros <strong>em</strong>igrantes<br />

<strong>em</strong>barquei na primavera <strong>de</strong> 1855 para esta terra, mas não tar<strong>de</strong>i <strong>em</strong> chegar às<br />

convicções que <strong>de</strong> tantos outros arrancaram aqueles lamentos (DAVATZ, 1980,<br />

p. 48).<br />

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