Tiago de Araujo Camillo - Programa de Pós-Graduação em ...
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Absorva-se, <strong>de</strong>ssa maneira, que o aporte <strong>de</strong> Laplantine ao presente<br />
estudo está na análise dos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> representação do imigrante estrangeiro<br />
instalado no Brasil a partir do século XIX, dando-se atenção ao universo mental<br />
do hom<strong>em</strong> doente que busca uma explicação para a sua morbida<strong>de</strong> e ao mesmo<br />
t<strong>em</strong>po uma solução terapêutica. Por outro lado, essa preferência teórica implica<br />
esclarecer que nos afastamos <strong>de</strong> certos caminhos, como o escolhido por<br />
Figueiredo (2002, p. 51), historiadora que realizou minuciosa pesquisa a partir<br />
das discussões inerentes ao campo da Sociologia das Profissões, acerca da<br />
atuação da medicina acadêmica, <strong>de</strong> curan<strong>de</strong>iros, cirurgiões barbeiros, boticários,<br />
<strong>de</strong>ntre outros el<strong>em</strong>entos presentes no campo da saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> Minas Gerais<br />
oitocentista. Aquela investigadora trouxe à baila os discursos acerca da<br />
legitimação da atuação terapêutica, indicando os choques entre os grupos que se<br />
diziam possuidores do “verda<strong>de</strong>iro” saber <strong>em</strong> relação à cura e os “charlatães”<br />
muito freqüentes nas regiões <strong>de</strong> Minas Gerais e que praticavam uma medicina <strong>de</strong><br />
cunho popular, baseada <strong>em</strong> referenciais relativamente distintos daqueles<br />
apreendidos na aca<strong>de</strong>mia. Em última instância, o interesse <strong>de</strong> Betânia Figueiredo<br />
não se pauta <strong>em</strong> <strong>de</strong>tectar as peculiarida<strong>de</strong>s do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> representações do<br />
hom<strong>em</strong> doente e sim daqueles que tinham a missão <strong>de</strong> curá-lo.<br />
Assim, adota-se como referência para o estudo parte do mo<strong>de</strong>lo teórico<br />
<strong>de</strong> Laplantine, utilizando os grupos i<strong>de</strong>ntificados por ele acerca dos mo<strong>de</strong>los<br />
etiológico-terapêuticos presentes no imaginário oci<strong>de</strong>ntal.<br />
Na mesma linha <strong>de</strong> Laplantine, está a obra <strong>de</strong> Luc Boltanski “O Corpo e<br />
as Classes Sociais” (BOLTANSKI, 1984), este trabalho ajuda a enten<strong>de</strong>r as<br />
recodificações procedidas pela cultura popular <strong>em</strong> relação ao saber <strong>em</strong> voga nos<br />
meios acadêmicos, <strong>de</strong>monstrando ainda as transformações procedidas quando do<br />
<strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> indivíduos do meio rural para o urbano. Boltanski aborda o<br />
comportamento das “classes baixas” <strong>em</strong> relação ao saber do especialista, sendo<br />
que uma das principais diferenças entre seu estudo e o <strong>de</strong> Laplantine é o caráter<br />
mais pontual <strong>de</strong> seu trabalho, visto que ele enfoca uma comunida<strong>de</strong> francesa,<br />
enquanto Laplantine objetiva construir uma teoria geral acerca das opções<br />
etiológico-terapêuticas.<br />
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