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Tiago de Araujo Camillo - Programa de Pós-Graduação em ...

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<strong>de</strong> restauração do equilíbrio perturbado, e mesmo, <strong>em</strong> certos casos, como um<br />

episódio que exalta e enriquece (LAPLANTINE, 1991, p. 116).<br />

Se por um lado, na perspectiva do colono estrangeiro, a doença aparecia<br />

como gran<strong>de</strong> <strong>em</strong>pecilho ao trabalho, por outro, este último é associado à falta <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>, causador <strong>de</strong> moléstias; tal percepção po<strong>de</strong> ser captada quando se analisam<br />

m<strong>em</strong>órias como a <strong>de</strong> Giuseppe Fioresi, colono italiano que <strong>em</strong> <strong>de</strong>poimento<br />

rel<strong>em</strong>brou seus dias <strong>de</strong> trabalho no período <strong>em</strong> que se instalou na região do atual<br />

município <strong>de</strong> Venda Nova do Imigrante na região serrana do Espírito Santo:<br />

Olha, mais eu tava muito doente no último ano (...) Nóis colh<strong>em</strong>o <strong>em</strong> 4 pessoa<br />

1200 saco <strong>de</strong> café, <strong>em</strong> 4 com as mão, s<strong>em</strong> ajuda <strong>de</strong> ninguém, n<strong>em</strong> <strong>de</strong> um<br />

animal. Desce morro com café nas costa, lavá, baná, secá. Muda pra cá, o preço<br />

do café cai lá <strong>em</strong>baxo. Aí muda pra cá, come mal, trabaia muito, aí eu fiquei<br />

doente (LAZZARO, 1992, p. 48).<br />

Agora, já <strong>em</strong> outra condição, o colono ao recordar o passado, aponta o<br />

excesso <strong>de</strong> trabalho aliado a uma má alimentação como a causa <strong>de</strong> seu estado<br />

mórbido, percepção construída não por um saber erudito da associação<br />

alimentação-imunologia e sim pelo conhecimento adquirido com a experiência<br />

individual. A explicação da doença nesse caso é percebida como advinda <strong>de</strong> um<br />

fator externo, a carência alimentar ou a carga excessiva <strong>de</strong> trabalho<br />

(LAPLANTINE, 1991, p. 67).<br />

A precária situação dos colonos e o conseqüente medo <strong>de</strong> colocar <strong>em</strong><br />

risco os esforços <strong>de</strong>spendidos no <strong>de</strong>slocamento até o Brasil levaram um grupo <strong>de</strong><br />

imigrantes italianos recém-chegados ao núcleo Timbuí na colônia <strong>de</strong> Santa<br />

Leopoldina a solicitar<strong>em</strong> transferência, utilizando como justificativa os riscos<br />

para sua saú<strong>de</strong>.<br />

A princípio, a carta enviada à direção do núcleo colonial parecia um<br />

artifício utilizado apenas a fim <strong>de</strong> conseguir a transferência para a província <strong>de</strong><br />

Santa Catarina, já que este teria sido o <strong>de</strong>stino mencionado aos imigrantes na<br />

ocasião <strong>de</strong> sua vinda ao Brasil; <strong>de</strong>starte, logo no início do documento é<br />

solicitado:<br />

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