Tiago de Araujo Camillo - Programa de Pós-Graduação em ...
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(febre intermitente), termo usual na linguag<strong>em</strong> popular para <strong>de</strong>signar a doença e,<br />
<strong>em</strong> segundo lugar, porque a moléstia era comum na região on<strong>de</strong> ele fora<br />
instalado. Estas “febres” mencionadas por Bissoli acarretariam mais adiante<br />
probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> fígado.<br />
A doença aparece <strong>em</strong> seu discurso como um ser exterior, ganhando um<br />
sentido ontológico, como uma coisa que o sujeito doente recebe e que <strong>em</strong> seu<br />
corpo se aloja, enfim, a ele não pertencente <strong>em</strong> oposição às interpretações que<br />
conceb<strong>em</strong> a patologia como um <strong>de</strong>sequilíbrio do próprio corpo “um <strong>de</strong>sarranjo<br />
por excesso ou falta”.<br />
Quando se enfatiza a forma a que ele se refere para curar-se, t<strong>em</strong>-se a<br />
noção das práticas imediatamente assimiladas por parte dos imigrantes, como<br />
aparece <strong>em</strong> seguida:<br />
Fui para o Quinto Território e <strong>em</strong> quarenta dias fiquei bom. Passados uns<br />
t<strong>em</strong>pos voltei e comecei a curar as sezões e outras pequenas moléstias com<br />
aguar<strong>de</strong>nte, pimenta e outras coisas excitantes como o limão com o sulfato <strong>de</strong><br />
quinino (BISSOLI, 1979, p. 48).<br />
Naquele momento Bissoli se retirou momentaneamente do mundo do<br />
trabalho, isolando-se por quarenta dias no “Quinto Território” – lugarejo<br />
localizado próximo à região <strong>em</strong> que originalmente ele havia se radicado-, no<br />
texto não há menção sobre o contato com algum médico. Embora ele fale que<br />
tenha ficado bom, no retorno a Jabaquara refere-se à cura <strong>de</strong> “sezões e outras<br />
pequenas moléstias”. A novida<strong>de</strong> que aparece é a utilização da aguar<strong>de</strong>nte, já que<br />
el<strong>em</strong>entos como a pimenta, o limão e o sulfato <strong>de</strong> quinino há muito já eram<br />
conhecidos na Europa. Com exceção do caso português, a aguar<strong>de</strong>nte não era<br />
comum entre grupos populares do “Velho Mundo”, porém no Brasil a aguar<strong>de</strong>nte<br />
da cana foi trazida pelos portugueses após a conquista, tendo se diss<strong>em</strong>inado<br />
entre as mais diversas camadas da população, inclusive entre o el<strong>em</strong>ento<br />
indígena, não só como aperitivo, mas também como um medicamento, sendo<br />
“misturada a certas ervas e outras mezinhas” (HOLANDA, 2000, p. 78); por isso,<br />
é <strong>de</strong> se supor que Orestes Bissoli <strong>em</strong> seu convívio com a população nativa tenha<br />
conhecido e aprendido a usá-la com a finalida<strong>de</strong> da cura, escolhendo um mo<strong>de</strong>lo<br />
terapêutico que prima pela excitação do organismo com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expelir o<br />
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