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pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

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101<br />

<strong>se</strong>parando e localizando o gozo, como é o caso <strong>da</strong> escrita, não deixando de <strong>se</strong>r esta também<br />

uma operação com a linguagem.<br />

A experiência com es<strong>se</strong> gozo <strong>que</strong> não é traduzi<strong>da</strong> pelos significantes <strong>que</strong> vêm do<br />

Outro aponta <strong>que</strong> a condição primeira do sujeito é um estado intraduzível pela palavra e<br />

<strong>que</strong>, portanto, es<strong>se</strong> terá <strong>que</strong> “subverter o real, criar, sinthomatizar essa incomunicabili<strong>da</strong>de”<br />

(VERAS, 2011, p.119) do gozo. “[...] ao aprender a falar, o sujeito inicialmente <strong>se</strong> apropria<br />

<strong>da</strong> linguagem como instrumento de gozo, bem antes <strong>da</strong> função de comunicação.” (Idem).<br />

A fala é permea<strong>da</strong> pelo <strong>que</strong> há de gozo para em <strong>se</strong>gui<strong>da</strong> <strong>se</strong>r coloca<strong>da</strong> a favor <strong>da</strong><br />

comunicação quando es<strong>se</strong> gozo é localizado no campo do Outro. Mas, e quando a fala não<br />

produz significação, quando as palavras têm uma significação pessoal, estranha ao laço<br />

social? Isso é o <strong>que</strong> pode <strong>se</strong>r ob<strong>se</strong>rvado na <strong>psico<strong>se</strong></strong>, <strong>se</strong>ndo necessária uma produção <strong>que</strong><br />

enganche a experiência de gozo. Pois, como as<strong>se</strong>vera Veras (2011, p.122): “O gozo<br />

somente <strong>se</strong> coletiviza quando ele é aparelhado em uma fórmula <strong>que</strong> o conecta ao campo do<br />

Outro”.<br />

A fala deixa transparecer o delírio e este não é compartilhável, não faz laço. É o <strong>que</strong><br />

pode <strong>se</strong>r visto na fala de Estamira 38 : “Minha missão, além de <strong>se</strong>r Estamira, é mostrar a<br />

ver<strong>da</strong>de e capturar a mentira.... Você é comum. Eu não sou comum...Eu sou a visão de<br />

ca<strong>da</strong> um. Ninguém pode viver <strong>se</strong>m mim, <strong>se</strong>m Estamira”. (RINALDI, 2008, p.63).<br />

Ao contrário, as criações podem instituir um laço na medi<strong>da</strong> em <strong>que</strong> tocam o<br />

inconsciente dos sujeitos. Como é o caso de Moacir, <strong>se</strong>us de<strong>se</strong>nhos e pinturas não precisam<br />

<strong>se</strong>r explicados, são objetos a <strong>que</strong> <strong>se</strong> ligam diferentes pessoas por diversos motivos. Moacir<br />

passa a <strong>se</strong>r conhecido após documentário de Walter Carvalho, intitulado Moacir Arte<br />

Bruta, contando sua vi<strong>da</strong>, suas produções e as pessoas <strong>que</strong> fazem parte de <strong>se</strong>u entorno.<br />

Pobre, com problemas na fala e analfabeto, Moacir retira <strong>se</strong>us de<strong>se</strong>nhos do mundo à parte<br />

onde vive. São imagens, na maioria, de mulheres nuas e demônios. Suas pinturas atraem<br />

olhares, elogios e críticas dos vizinhos e passantes pela Chapa<strong>da</strong> dos Veadeiros, em Goiás.<br />

Quinet (2006), acerca do documentário, declara <strong>que</strong> as produções de Moacir são “símbolos<br />

brutos do inconsciente”, <strong>se</strong>m referencias externas. “Completamente solto dos clichês<br />

habituais, a originali<strong>da</strong>de estranhamente própria do artista desvela paradoxalmente uma<br />

38 Estamira morava no lixão de Gramacho, <strong>se</strong>ndo lá filma<strong>da</strong> por Marcus Prado <strong>que</strong> fez um documentário<br />

sobre sua vi<strong>da</strong>. Estamira através de sua linguagem denuncia o “descuido” dos homens com o resto <strong>que</strong><br />

encontra no lixão. O <strong>que</strong> marca es<strong>se</strong> sujeito, personagem do filme, é a sua linguagem, no modo como <strong>se</strong><br />

utiliza <strong>da</strong>s palavras criando para si própria o nome de Esta mira. (RINALDI, 2008, p.63).

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