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pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

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para uma escrita outra também localizadora de gozo, e não apenas produtora de<br />

significações”.<br />

A escrita, na teoria psicanalítica, é considera<strong>da</strong> uma via de estabilização, um modo<br />

de suplência na <strong>psico<strong>se</strong></strong>. A clínica <strong>da</strong> <strong>psico<strong>se</strong></strong> testemunha a multiplici<strong>da</strong>de e a originali<strong>da</strong>de<br />

de invenções nas quais a escrita <strong>se</strong> oferece para li<strong>da</strong>r com o gozo. O <strong>que</strong> es<strong>se</strong>s casos<br />

apontam é a escrita como uma via de tratamento ao Real.<br />

Nos fragmentos clínicos apre<strong>se</strong>ntados a <strong>se</strong>guir, pretendemos demonstrar de maneira<br />

ilustrativa a função singular <strong>da</strong> escrita na <strong>psico<strong>se</strong></strong> como condensador de gozo,<br />

proporcionando aos sujeitos circular no social. São soluções particulares de ca<strong>da</strong> sujeito,<br />

mas <strong>que</strong> podem <strong>se</strong>rvir de contribuição, fazendo avançar a clínica e a teoria psicanalítica.<br />

3.4 DOIS FRAGMENTOS CLÍNICOS: UM DESENHO; UMA ESCRITA POÉTICA<br />

Um sujeito <strong>que</strong>, pela via do de<strong>se</strong>nho, pôde organizar sua fala e sua relação com os<br />

outros de <strong>se</strong>u convívio. Diante de um de<strong>se</strong>ncadeamento sua fala <strong>se</strong> apre<strong>se</strong>ntava embola<strong>da</strong>,<br />

tinha dificul<strong>da</strong>des de an<strong>da</strong>r e não permitia o to<strong>que</strong> ou a aproximação <strong>da</strong>s pessoas. A fala, o<br />

an<strong>da</strong>r e ain<strong>da</strong> a agressivi<strong>da</strong>de tornavam o laço com o outro impraticável. O de<strong>se</strong>nho, <strong>que</strong><br />

inicialmente <strong>se</strong> mostrava sob a forma de garatujas, vai <strong>se</strong> configurando num meio de<br />

manter algum laço com o outro <strong>que</strong> não fos<strong>se</strong> de invasão. Dos rabiscos aparecem esboços<br />

em formatos de casas, árvores, mão e mãe <strong>que</strong> ele mesmo nomeia. Seu traçado <strong>se</strong><br />

modifica, tornando partilhável com os demais, indo <strong>da</strong> produção em <strong>se</strong>u estado mais<br />

primitivo para um <strong>que</strong> reflete uma organização de <strong>se</strong>u mundo subjetivo.<br />

Dos de<strong>se</strong>nhos faz um movimento para <strong>escreve</strong>r o próprio nome, <strong>que</strong> após o<br />

de<strong>se</strong>ncadeamento não o fazia. Dos rabiscos para os de<strong>se</strong>nhos nomeados e para a escrita do<br />

<strong>se</strong>u nome modera o gozo invasor <strong>que</strong> o impossibilitava de sair <strong>da</strong> condição de objeto do<br />

Outro e poder circular no social.<br />

Na escrita, em sua vertente de de<strong>se</strong>nho, insistimos, há dois aspectos importantes a<br />

<strong>se</strong>rem destacados. Um diz respeito à produção em si <strong>que</strong> não visa à comunicação com o<br />

outro; e a outra <strong>se</strong> refere ao efeito posterior <strong>que</strong> pode <strong>se</strong> produzir, a saber, uma reordenação<br />

do Simbólico. Indo desta produção em sua vertente de puro gozo para uma vertente <strong>que</strong><br />

oferta a possibili<strong>da</strong>de de subjetivi<strong>da</strong>de.<br />

A escrita possibilitou para este sujeito furar o Outro avassalador <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria<br />

manipular <strong>se</strong>u corpo, podendo constituir um lugar simbólico à medi<strong>da</strong> <strong>que</strong> fazia <strong>se</strong>us traços

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