pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
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O percurso <strong>que</strong> <strong>se</strong> vem fazendo, então, passando pelo conceito de sujeito, indo <strong>da</strong><br />
primeira à <strong>se</strong>gun<strong>da</strong> clínica lacaniana trouxe <strong>que</strong>stões <strong>que</strong> <strong>se</strong> tornaram indicativas para <strong>se</strong><br />
pensar a escrita como uma saí<strong>da</strong> na <strong>psico<strong>se</strong></strong>.<br />
O conceito de sujeito apontou <strong>que</strong> ninguém nasce sujeito, mas torna-<strong>se</strong>, tratando-<strong>se</strong><br />
de um advir a <strong>se</strong>r sujeito para todo falante. O advento <strong>da</strong> primeira clínica trouxe a noção de<br />
subjetivi<strong>da</strong>de pela neuro<strong>se</strong>, pela inscrição do Nome-do-Pai. A <strong>se</strong>gun<strong>da</strong> clínica, por sua vez,<br />
apre<strong>se</strong>ntou a <strong>psico<strong>se</strong></strong> fora <strong>da</strong> classificação de déficit, <strong>da</strong>ndo-lhe o lugar de paradigma <strong>da</strong><br />
clínica psicanalítica. E a teoria <strong>da</strong> foraclusão generaliza<strong>da</strong> abriu portas para a diversi<strong>da</strong>de<br />
de invenções para li<strong>da</strong>r com a falta estrutural.<br />
Des<strong>se</strong> modo, com essas noções, pode-<strong>se</strong> dizer <strong>que</strong> não há somente uma forma de<br />
<strong>escreve</strong>r a subjetivi<strong>da</strong>de, o <strong>que</strong> passa a <strong>se</strong>r considerado é a escrita possível a ca<strong>da</strong> sujeito.<br />
Com isso, pode-<strong>se</strong> afirmar <strong>que</strong> a escrita de textos, a pintura, o de<strong>se</strong>nho, o bor<strong>da</strong>do e outros<br />
são considerados formas de escritura na medi<strong>da</strong> em <strong>que</strong> cifram o gozo. Uma escrita cuja<br />
operação com o gozo produz um sujeito.<br />
A escrita para o psicótico teria a função de cifrar o gozo, de fazer uma inscrição<br />
simbólica ao real <strong>que</strong> o perpassa, <strong>que</strong> na ver<strong>da</strong>de atravessa todo sujeito. Escrita e gozo<br />
teriam uma relação de contigui<strong>da</strong>de na medi<strong>da</strong> em <strong>que</strong> esta <strong>se</strong>rve para barrar o excesso<br />
<strong>da</strong><strong>que</strong>le. A escrita tem função de registrar o excesso do gozo do Outro sobre o sujeito. Nas<br />
palavras de Branco: “Suportar es<strong>se</strong> gozo <strong>se</strong>m sucumbir implica escrevê-lo” (1988, p.57).<br />
Para corroborar tais afirmações é <strong>que</strong> os casos <strong>da</strong> literatura psicanalítica e alguns<br />
fragmentos <strong>da</strong> clínica são abor<strong>da</strong>dos aqui, no ponto mesmo em <strong>que</strong> trazem soluções pela<br />
via <strong>da</strong> escrita.<br />
A escrita afirma Lacan é a escrita dos nós, é o <strong>que</strong> tem relação com o Real por<strong>que</strong> é<br />
um saber-fazer com ele. “[...] a escrita pode ter <strong>se</strong>mpre alguma coisa a ver com a maneira<br />
como <strong>escreve</strong>mos o nó” (LACAN, 1975-76/2007, p.66). A escrita como savoir-faire é uma<br />
arte, um artifício, criação singular de ca<strong>da</strong> sujeito com <strong>se</strong>u gozo. A suplência na <strong>psico<strong>se</strong></strong> <strong>se</strong><br />
faz, então, naquilo <strong>que</strong> pode operar como escrita.<br />
Para falar melhor <strong>da</strong> escrita, apre<strong>se</strong>ntaremos casos <strong>da</strong> literatura psicanalítica: James<br />
Joyce e Arthur Bispo do Rosário.<br />
James Joyce, famoso escritor irlandês, conhecido por <strong>se</strong>us escritos <strong>que</strong> parecem<br />
decompor a língua, deixando <strong>se</strong>us leitores intrigados, muitas vezes <strong>se</strong>m compreensão, com<br />
o modo como <strong>se</strong> utiliza dos significantes. Dentre suas obras, destaca-<strong>se</strong> Ulis<strong>se</strong>s e<br />
Finnegans Wake. Lacan, após estu<strong>da</strong>r sobre as <strong>psico<strong>se</strong></strong>s no Seminário 3, retoma es<strong>se</strong> tema