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pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

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verbalizações por meio dos sintomas corporais, atribuindo-lhes um valor simbólico. A<br />

histeria passa a <strong>se</strong>r uma linguagem dos de<strong>se</strong>jos insatisfeitos, impossíveis de <strong>se</strong>rem<br />

revelados. To<strong>da</strong>via, o inconsciente arruma uma forma de <strong>se</strong> manifestar, aparecendo no<br />

corpo sintomas <strong>que</strong> revelam <strong>que</strong> o inconsciente fala: “Traduzindo Freud, dizemos – o<br />

inconsciente é uma linguagem.” (LACAN, 1955-56/2008, p. 21).<br />

A fala é uma possibili<strong>da</strong>de de o sintoma <strong>se</strong>r traduzido, decifrado. No texto Função<br />

e campo <strong>da</strong> fala e <strong>da</strong> linguagem em psicanáli<strong>se</strong>, Lacan (1956/1998, p.270) afirma <strong>que</strong> “[...]<br />

o sintoma <strong>se</strong> resolve por inteiro numa análi<strong>se</strong> linguajeira, por <strong>se</strong>r ele mesmo estruturado<br />

como uma linguagem, por <strong>se</strong>r a linguagem cuja fala deve <strong>se</strong>r liberta<strong>da</strong>”. É nas palavras <strong>que</strong><br />

todo sujeito <strong>se</strong> constitui e sofre padecimento inerente à própria condição de <strong>se</strong>r falante. As<br />

palavras lhe curam e lhe adoecem.<br />

A partir destas considerações acerca <strong>da</strong> fala e <strong>da</strong> linguagem, entende-<strong>se</strong> <strong>que</strong> o<br />

sujeito é um <strong>se</strong>r falante <strong>que</strong> <strong>se</strong> constitui na e pela linguagem. Des<strong>se</strong> modo, faz-<strong>se</strong><br />

necessário explicitar aqui o percurso <strong>que</strong> Lacan fez para chegar ao aforismo “um<br />

significante repre<strong>se</strong>nta o sujeito para outro significante”, ou melhor, para abor<strong>da</strong>r o<br />

conceito de significante.<br />

Ao entrar em contato com a linguística, mais especificamente a de Ferdinand de<br />

Saussure (1916), Lacan encontra subsídios para de<strong>se</strong>nvolver os conceitos de linguagem,<br />

inconsciente, sujeito e significante. “Um dia percebi <strong>que</strong> era difícil não entrar na linguística<br />

a partir do momento em <strong>que</strong> o inconsciente estava descoberto” (LACAN, 1972-73/2008,<br />

p.22).<br />

A teoria de Saussure sobre a linguagem argumenta <strong>que</strong> esta tem como elemento<br />

principal e es<strong>se</strong>ncial a língua, objeto de estudo <strong>que</strong> dá à linguística o caráter de ciência,<br />

<strong>se</strong>ndo a linguagem forma<strong>da</strong> tanto pela língua como por outra parte <strong>que</strong> é acessória, a fala.<br />

Portanto, língua e fala fazem parte <strong>da</strong> linguagem humana, esta constituí<strong>da</strong> por signos <strong>que</strong><br />

são as próprias palavras <strong>que</strong> <strong>se</strong> juntam para formar fra<strong>se</strong>s e orações com o intuito de<br />

produzir <strong>se</strong>ntidos. O signo, por sua vez, é formado por dois elementos – significado e<br />

significante, cuja fórmula <strong>se</strong> <strong>escreve</strong>: s (significado) /s (significante). O significante é a<br />

uni<strong>da</strong>de fônica, ou imagem acústica e o significado o conceito. Eis a teoria do signo<br />

linguístico, a qual Lacan buscou fazendo dela um outro uso para a psicanáli<strong>se</strong>.<br />

Para adequar es<strong>se</strong> algoritmo S/s, tomado de empréstimo de Saussure, Lacan faz<br />

uma inversão, dá ao significante priori<strong>da</strong>de, colocando-o acima <strong>da</strong> barra. Com isso,<br />

subverte a teoria saussuriana e afirma <strong>que</strong> o significante não significa na<strong>da</strong> a priori, ele é

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