pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
pre<strong>se</strong>nte. Utilizando-<strong>se</strong> des<strong>se</strong> jogo a criança con<strong>se</strong>gue <strong>se</strong> <strong>se</strong>parar do Outro por uma<br />
intermediação simbólica.<br />
Pela palavra, <strong>que</strong> já é uma pre<strong>se</strong>nça feita de ausência, a ausência mesma<br />
vem a <strong>se</strong> nomear em um momento original cuja perpétua recriação o<br />
talento de Freud captou na brincadeira <strong>da</strong> criança. E des<strong>se</strong> par modulado<br />
<strong>da</strong> pre<strong>se</strong>nça e <strong>da</strong> ausência, [...] nasce o universo de <strong>se</strong>ntido de uma língua,<br />
no qual o universo <strong>da</strong>s coisas vem <strong>se</strong> dispor. (LACAN, 1998, p.277).<br />
O Real, conceito criado por Lacan, não <strong>se</strong> trata <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de como comumente <strong>se</strong><br />
concebe, a reali<strong>da</strong>de socialmente compartilha<strong>da</strong> dos homens. O Real consiste antes naquilo<br />
<strong>que</strong> nenhum homem é capaz de pronunciar, aquilo <strong>que</strong> insiste em não <strong>se</strong> <strong>escreve</strong>r, <strong>que</strong> não<br />
tem outro nome a não <strong>se</strong>r o próprio Real. Nas palavras de Guimarães Rosa, <strong>que</strong> através <strong>da</strong><br />
literatura <strong>se</strong> aproxima des<strong>se</strong> conceito, pode-<strong>se</strong> ob<strong>se</strong>rvar o real como o <strong>que</strong> não tem um<br />
nome, mas o <strong>que</strong> aponta uma plurali<strong>da</strong>de, pois escapa a to<strong>da</strong> significação:<br />
O Arrenegado, o Cão, o Cramulhão, o Indivíduo, o Galhardo, o Pé-de-<br />
Pato, o Sujo, o Homem, o Tisnado, o Coxo, o Temba, o Azarape, o<br />
Coisa-Ruim, o Mafarro, o Pé-Preto, o Canho, o Duba-Dubá, o Rapaz, o<br />
Tristonho, o Não-<strong>se</strong>i-<strong>que</strong>-diga, O-<strong>que</strong>-nunca-<strong>se</strong>-ri, o Sem-Gracejos...<br />
Pois, não existe! (1978, p.33).<br />
Tantas denominações para falar do inominável por<strong>que</strong> nenhuma nomeação lhe é<br />
suficiente, nenhum nome é capaz de simbolizar o próprio Real. A diversi<strong>da</strong>de de<br />
significantes, como es<strong>se</strong>s utilizados por Guimarães Rosa, aponta para a tentativa do sujeito<br />
de <strong>da</strong>r conta do real, articulando em palavras o <strong>que</strong> é <strong>da</strong> ordem do traumático.<br />
“Estimulando o analisando a dizê-lo e relacionando-o com um número ca<strong>da</strong> vez maior de<br />
significantes, o real é submetido à “dialetização”, <strong>se</strong>ndo incluído na dialética ou no<br />
movimento do discurso do analisando e posto em funcionamento.” (FINK, 1998, p.46).<br />
Ao longo do ensino de Lacan o Real sofrerá mu<strong>da</strong>nças. Na primeira clínica,<br />
pauta<strong>da</strong> no Simbólico, o Real <strong>se</strong> encontra na perspectiva <strong>da</strong>quilo <strong>que</strong> resta não abarcado<br />
pelo Simbólico. Na <strong>se</strong>gun<strong>da</strong> clínica o Real <strong>se</strong> apre<strong>se</strong>nta como ele próprio, ou <strong>se</strong>ja,<br />
irredutível a significantizações, não passível de simbolização, um impossível de <strong>se</strong><br />
<strong>escreve</strong>r.<br />
Na <strong>se</strong>gun<strong>da</strong> clínica, Lacan cria matemas, utilizando-<strong>se</strong> de letras para falar des<strong>se</strong><br />
Real. É a clínica dos nós borromeanos. A <strong>se</strong>gun<strong>da</strong> clínica vem apontar <strong>que</strong> ca<strong>da</strong> sujeito<br />
pode arrumar um modo particular de li<strong>da</strong>r com a falta e fazer suplência 15 – <strong>se</strong>ja pela arte,<br />
41<br />
15 Aquilo <strong>que</strong> exerce função de amarrar os três registros – Real, Simbólico e Imaginário. Como é o caso do<br />
significante Nome-do-Pai. Tal conceito <strong>se</strong>rá melhor definido no tópico a <strong>se</strong>guir.