pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
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Daí, interroga-<strong>se</strong>: Se as produções na <strong>psico<strong>se</strong></strong> <strong>se</strong> encontram fora do <strong>se</strong>ntido, <strong>se</strong>us<br />
escritos não são para <strong>se</strong>rem interpretados, como pode <strong>se</strong>r <strong>que</strong>, ain<strong>da</strong> assim, façam laço?<br />
Como uma produção, experiência singular, pode passar ao social, ao <strong>que</strong> é do coletivo?<br />
Justamente por <strong>se</strong>r uma operação com a letra, produção <strong>que</strong> visa ao gozo, um saberfazer<br />
com o gozo. A invenção com o <strong>que</strong> dela <strong>se</strong> pode fazer letra, o <strong>que</strong> conjuga e <strong>se</strong>para<br />
Simbólico e Real. Masagão (1996, p.274) afirma: “Já a letra tem a proprie<strong>da</strong>de de circular<br />
entre os diferentes registros. A letra liga, une, promove encontros...” E, ain<strong>da</strong>, a mesma<br />
autora citando Milner, diz: “O significante deriva apenas <strong>da</strong> instância S; mas a letra vincula<br />
RSI [...]” (Ibidem, p.105).<br />
Só com os discursos não <strong>se</strong> dá conta do gozo, é preciso uma criação, algo <strong>da</strong> ordem<br />
do objeto, <strong>que</strong> por sua materiali<strong>da</strong>de pode circular <strong>se</strong>m estar fixado a um dito, mas<br />
podendo deslizar por entre estes. O objeto (enquanto produções dos psicóticos – escrita,<br />
de<strong>se</strong>nhos, artefatos etc.) pode <strong>se</strong>r deslocável, manu<strong>se</strong>ável, amassado até mesmo jogado<br />
fora. Essas características dão a ele a quali<strong>da</strong>de de poder fazer recorte, isto é, poder extrair<br />
algo para fora do corpo, já <strong>que</strong> na <strong>psico<strong>se</strong></strong> os objetos não estão destacados deste. A partir<br />
do recorte <strong>que</strong> <strong>se</strong> opera por meio <strong>da</strong> criação, o sujeito psicótico pode vir a fazer algo<br />
circular <strong>se</strong>m <strong>que</strong> <strong>se</strong>ja ele mesmo o objeto de circulação, estando à mercê do Outro. “[...] o<br />
<strong>que</strong> constitui o sofrimento do sujeito é justamente essa dispersão, es<strong>se</strong> despe<strong>da</strong>çamento de<br />
gozo, <strong>se</strong>ndo eminentemente terapêutica e apaziguadora a tentativa de condensar o gozo<br />
num objeto fora do sujeito.” (QUINET, 2009, p.71).<br />
Como diz Laurent (1995, p.185), os escritos dos psicóticos não são para <strong>se</strong>r<br />
decifrados, trata-<strong>se</strong> de tomá-los enquanto possibili<strong>da</strong>de de “introduzir o sujeito”, ou <strong>se</strong>ja,<br />
“introduzir o sujeito no texto psicótico e a ordenar, a partir <strong>da</strong>í, a produção <strong>que</strong> irá<br />
manifestar-<strong>se</strong> no tempo”. Introduzir o psicótico como sujeito é fazer operar a distribuição e<br />
esvaziamento do gozo. E ain<strong>da</strong>, tomar es<strong>se</strong>s escritos como objeto pronto e acabado: “[...]<br />
não como algo a <strong>se</strong>r interpretado, mas como ready-made [pronto], como objeto já<br />
distribuído e produzido.” (Ibidem, p.190).<br />
A produção artesanal fixa o gozo por meio <strong>da</strong> materiali<strong>da</strong>de própria <strong>da</strong> letra, e ao<br />
fixar o gozo não é mais o sujeito <strong>que</strong> fica à revelia do Outro, o objeto produzido passa a<br />
circular no <strong>se</strong>u lugar. Como traz Alberti (2011, p.08) acerca de uma criança atendi<strong>da</strong> por<br />
ela: “[...] como <strong>se</strong> substituís<strong>se</strong> sua própria circulação por um objeto <strong>que</strong>, em sua<br />
materiali<strong>da</strong>de, faria o laço de suas i<strong>da</strong>s e vin<strong>da</strong>s. Não é mais ela <strong>que</strong> circula como objeto do<br />
Outro, mas são objetos <strong>que</strong> ela coloca em circulação”. Como <strong>se</strong> a própria materiali<strong>da</strong>de dos