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pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

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significado, deixando-o em suspensão. O <strong>que</strong> demonstra a prevalência do significante em<br />

relação ao significado, pois é o significante <strong>que</strong> define a posição subjetiva de ca<strong>da</strong><br />

personagem. A carta está no campo do <strong>se</strong>ntido.<br />

Ain<strong>da</strong> nes<strong>se</strong> texto, Lacan aponta uma outra vertente, a letra, <strong>que</strong> desliza de<br />

carta/letter para lixo/litter, ou <strong>se</strong>ja, introduz a dimensão não apenas de circulação, mas<br />

também do descartável. A carta aqui não tem mais apenas o valor de <strong>se</strong>ntido. Voltaremos a<br />

isso mais adiante.<br />

Se em O Seminário sobre A Carta Rouba<strong>da</strong> (1957/1998) ain<strong>da</strong> não há claramente<br />

uma distinção entre significante e letra, em A instância <strong>da</strong> letra no inconsciente ou a razão<br />

desde Freud (1957/1998) Lacan destaca o caráter <strong>da</strong> linguagem estando para além <strong>da</strong> fala,<br />

cuja função não <strong>se</strong> restringe apenas à comunicação. A linguagem é uma estrutura e, como<br />

tal, tem um caráter significante, antes <strong>que</strong> de significado. Ao longo des<strong>se</strong> texto é destaca<strong>da</strong><br />

a materiali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> letra em relação ao significante, fazendo ecoar uma diferença entre eles.<br />

Em A instância <strong>da</strong> letra... (1957/1998) a letra é ti<strong>da</strong> como o suporte material do<br />

significante; em Lituraterra (1971) ela é o <strong>que</strong> impinge uma <strong>se</strong>paração entre dois<br />

heterogêneos. Não o <strong>que</strong> <strong>se</strong>para dois territórios, mas o <strong>que</strong> <strong>se</strong>para dois diferentes, o <strong>que</strong> faz<br />

litoral. Indo <strong>da</strong> letra como literal para a letra como litoral. Significante e letra não mais <strong>se</strong><br />

confundem. A letra é a bor<strong>da</strong> <strong>que</strong> <strong>se</strong> inscreve entre Simbólico e Real. “Uma letra <strong>que</strong> faz<br />

bor<strong>da</strong> e <strong>que</strong> está situado no real. É isso <strong>que</strong> a difere do significante, <strong>que</strong> <strong>se</strong> situa no<br />

simbólico.” (BARROS, 2008).<br />

No Seminário 20 – Mais, ain<strong>da</strong> essa distinção vai <strong>se</strong> tornando mais radical: “A<br />

escrita não é de modo algum do mesmo registro, <strong>da</strong> mesma cepa, <strong>se</strong> vocês me permitem<br />

esta expressão, <strong>que</strong> o significante.” (LACAN, 1972-73/2008, p.35).<br />

Não afirmamos, to<strong>da</strong>via, <strong>que</strong> a letra é primeira em relação ao significante. Sem o<br />

significante a letra não existe, pois é o significante <strong>que</strong> põe a letra em operação. Se o<br />

significante é primordial, então, utiliza-<strong>se</strong> <strong>da</strong> letra para fazer uma transmissão. A letra<br />

como suporte material do significante permite <strong>que</strong> algo possa <strong>se</strong>r lido, do contrário só <strong>se</strong><br />

leriam os destroços do significante, pois este como tal, sozinho, não significa na<strong>da</strong>, é puro<br />

Real, gozo de alíngua. A letra cifra o gozo e assim pode transmitir algo para o sujeito, algo<br />

<strong>da</strong> ordem de um saber, um saber-fazer com o <strong>que</strong> é do campo do Real, do <strong>se</strong>m <strong>se</strong>ntido.<br />

O <strong>que</strong> inscrevi, com a aju<strong>da</strong> de letras, sobre as formações do<br />

inconsciente, para recuperá-las de como Freud as formula, por <strong>se</strong>rem o<br />

<strong>que</strong> são, efeitos de significante, não autoriza a fazer <strong>da</strong> letra um

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