pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
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tempos em tempos, a um rearranjo <strong>se</strong>gundo novas circunstâncias – a uma<br />
retranscrição.<br />
91<br />
O <strong>que</strong> acontece é <strong>que</strong> os traços mnêmicos são a marca de registros ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />
do sujeito <strong>que</strong>, de tempos em tempos, como afirma Freud, sofrem uma reestruturação, de<br />
modo <strong>que</strong> os registros mais antigos não são apagados devido à incidência de novos traços.<br />
“Os traços, como inscrições, vão <strong>se</strong>ndo reestruturados <strong>se</strong>gundo novas configurações. O<br />
material mnêmico recebe a todo instante como <strong>que</strong> uma nova tradução.” (BORGES, 2010,<br />
p.66).<br />
Outro texto <strong>que</strong> remete à <strong>que</strong>stão <strong>da</strong> escrita é A interpretação dos sonhos (1900), no<br />
qual Freud empreende uma descoberta ao fazer uma analogia entre o sonho e a escrita<br />
hieroglífica. O sonho <strong>se</strong>ria como uma escrita <strong>que</strong> implica <strong>que</strong> <strong>se</strong> faça uma leitura, tal qual<br />
um texto. Tal escrita dispõe de códigos/letras os quais o sonhador no relato do sonho pode<br />
vir a decodificá-los. Diferentemente do <strong>que</strong> alguns estudiosos <strong>da</strong> época faziam, Freud diz<br />
<strong>que</strong> a leitura <strong>que</strong> <strong>se</strong> empreende do sonho não deve <strong>se</strong>r feita de acordo com o <strong>que</strong> ca<strong>da</strong><br />
repre<strong>se</strong>ntação <strong>que</strong>r dizer, ou <strong>se</strong>ja, ao pé <strong>da</strong> letra, mas deve-<strong>se</strong> considerar <strong>se</strong>u valor<br />
simbólico.<br />
Freud vai dizer <strong>que</strong> os sonhos devem <strong>se</strong>r lidos como uma escrita. As imagens dos<br />
sonhos devem <strong>se</strong>r toma<strong>da</strong>s como letras, logo, pertencentes a um sistema de escrita com leis<br />
e funcionamento próprios. As imagens ti<strong>da</strong>s pelo <strong>se</strong>u valor de letras possibilita <strong>que</strong> o sonho<br />
possa <strong>se</strong>r lido. São imagens <strong>que</strong> <strong>se</strong> dão a ler, mais do <strong>que</strong> a ver.<br />
Ain<strong>da</strong> nes<strong>se</strong> texto, trata-<strong>se</strong> <strong>da</strong> produção onírica como produção de <strong>se</strong>ntido de ca<strong>da</strong><br />
sujeito, onde as repre<strong>se</strong>ntações surgem de forma desordena<strong>da</strong> e <strong>se</strong>m <strong>se</strong>ntido, como um<br />
texto as<strong>se</strong>mântico no qual o sonhador tenta decifrar o sonho. Freud chega a comparar o<br />
sonho com uma escrita num pergaminho <strong>que</strong>, à primeira vista, parece <strong>se</strong>m <strong>se</strong>ntido, mas<br />
após uma análi<strong>se</strong> minuciosa revela algo de grande valor. Freud (1900) cita James Sully<br />
(1893, p. 364) para afirmar a importância dos sonhos na realização de de<strong>se</strong>jos, onde o<br />
conteúdo manifesto encobre o conteúdo latente, ou <strong>se</strong>ja, há um disfarce superficial no<br />
sonho para dissimular o de<strong>se</strong>jo. É uma escrita vela<strong>da</strong>:<br />
Como uma carta cifra<strong>da</strong>, a inscrição onírica, quando examina<strong>da</strong> de perto,<br />
perde sua primeira impressão de disparate e assume o aspecto de uma<br />
mensagem séria e inteligível. [...] podemos dizer <strong>que</strong>, como um<br />
palimp<strong>se</strong>sto, o sonho revela, sob <strong>se</strong>us caracteres superficiais destituídos<br />
de valor, vestígios de uma comunicação antiga e preciosa. (FREUD,<br />
1900/2001, p. 147, nota de ro<strong>da</strong>pé).