pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
11<br />
Se algo podia <strong>se</strong>r lido, existia, portanto, uma escrita. Ora, os sonhos para Freud<br />
(1900) eram tal qual uma escrita hieroglífica, pois dispunham de letras as quais o sonhador<br />
poderia vir a decodificar. O sintoma interpretado era dissolvido e o <strong>se</strong>ntido <strong>se</strong><br />
reorganizava. O sujeito podia voltar a <strong>se</strong>u cotidiano. Tal dissolução era devi<strong>da</strong> à fala <strong>que</strong><br />
organiza todo <strong>se</strong>ntido. Ao mesmo tempo em <strong>que</strong> Freud apontava o sintoma como<br />
dissolvido pela interpretação, marcava uma impossibili<strong>da</strong>de de um único <strong>se</strong>ntido para o<br />
sonho, podendo surgir <strong>se</strong>mpre outros <strong>se</strong>ntidos a ca<strong>da</strong> novo relato do sonhador.<br />
To<strong>da</strong>via é Lacan <strong>que</strong> aponta a impossibili<strong>da</strong>de de o sintoma <strong>se</strong>r todo resolvido, há<br />
uma parte <strong>que</strong> escapa à significação, ficando ao sujeito a “responsabili<strong>da</strong>de” de construir<br />
um saber sobre essa fração não interpretável. Com isso, tem-<strong>se</strong> uma mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> primazia<br />
<strong>da</strong> fala à escrita, ou ain<strong>da</strong> do <strong>se</strong>ntido ao <strong>se</strong>m <strong>se</strong>ntido, apontando um tempo <strong>da</strong> letra.<br />
A escrita no ensino de Lacan é resultado de um avanço teórico e clínico de um<br />
tempo onde o <strong>se</strong>ntido era a primazia para um tempo do <strong>se</strong>m <strong>se</strong>ntido. Essa passagem pode<br />
<strong>se</strong>r nomea<strong>da</strong> do significante à letra. Es<strong>se</strong> percurso <strong>se</strong>rá feito através de alguns textos, tais<br />
como O <strong>se</strong>minário sobre “A carta rouba<strong>da</strong>” (1957), A instância <strong>da</strong> letra no inconsciente<br />
ou a razão desde Freud (1957), Lituraterra (1971), dentre outros <strong>que</strong> abor<strong>da</strong>m significante<br />
e letra.<br />
O significante é originário <strong>da</strong> linguística saussuriana, na qual o signo é composto<br />
por um significado (conceito) e um significante (imagem acústica). A relação <strong>que</strong> existe<br />
entre os signos é chama<strong>da</strong> de sistema, <strong>se</strong>ndo produtora de <strong>se</strong>ntido (SAUSSURE, 1916).<br />
Não <strong>se</strong> trata de um signo isolado, um signo sozinho não existe enquanto linguístico.<br />
(NORMAND, 2009).<br />
Lacan importa o significante saussuriano para a psicanáli<strong>se</strong>, fazendo em <strong>se</strong>gui<strong>da</strong><br />
alterações <strong>que</strong> originam o significante lacaniano. Este, por sua vez, pode <strong>se</strong>r uma palavra,<br />
um fonema, trata-<strong>se</strong> de algo <strong>que</strong> determina o sujeito. Com isso, tem-<strong>se</strong>, então, <strong>que</strong> o sujeito<br />
é efeito <strong>da</strong> linguagem.<br />
O conceito de letra, assim como o de significante, permeia todo o ensino lacaniano<br />
e sofre mu<strong>da</strong>nças. Inicialmente, é defini<strong>da</strong> como o suporte material do significante<br />
(LACAN, 1957/1998), em <strong>se</strong>gui<strong>da</strong>, <strong>se</strong>para<strong>da</strong> deste <strong>se</strong> configura como aquilo <strong>que</strong> não<br />
entrou na significação. Resto não abarcado pelo <strong>se</strong>ntido.<br />
Significante e letra <strong>se</strong> colocam para nós como farol para pensar o <strong>se</strong>ntido e o fora<br />
do <strong>se</strong>ntido a partir <strong>da</strong> <strong>psico<strong>se</strong></strong>. Pensamos <strong>que</strong> a <strong>psico<strong>se</strong></strong>, por <strong>se</strong> tratar de uma estrutura na<br />
qual a reali<strong>da</strong>de não é compartilha<strong>da</strong>, apre<strong>se</strong>ntando-<strong>se</strong> em sua vertente de horror é <strong>que</strong>m