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pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

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<strong>da</strong> fala para dizer o <strong>se</strong>u penso, o <strong>que</strong> envolve to<strong>da</strong> uma operação de linguagem. “Já <strong>que</strong><br />

estou hoje <strong>se</strong>ndo arrastado <strong>pelas</strong> trilhas do inconsciente estruturado como uma linguagem,<br />

saiba-<strong>se</strong> disto – esta fórmula mu<strong>da</strong> totalmente a função do sujeito como existente. O sujeito<br />

não é a<strong>que</strong>le <strong>que</strong> pensa.” (LACAN, 1972-73/2008, p.28). Lacan vai dizer <strong>que</strong> o sujeito é<br />

onde não pensa, onde pensa não há sujeito. Sujeito e <strong>se</strong>r estão desvinculados. Para a<br />

ciência o sujeito é um <strong>se</strong>r pensante. O sujeito para a psicanáli<strong>se</strong> não é em decorrência do<br />

pensamento, nenhum significante pode dizer dele.<br />

A ciência com <strong>se</strong>u saber tenta <strong>da</strong>r conta do sujeito, suturando-o pauta<strong>da</strong> na razão,<br />

na racionali<strong>da</strong>de. É um saber advindo de avaliações, <strong>da</strong> neurociência, de análi<strong>se</strong>s<br />

comportamentais <strong>que</strong> suprimem o sujeito. O saber para a psicanáli<strong>se</strong> nunca é <strong>da</strong>do todo a<br />

conhecer, é pelo dito <strong>que</strong> o perpassa <strong>que</strong> incidirá a ver<strong>da</strong>de do sujeito produzi<strong>da</strong> no<br />

encontro com a linguagem. Com Freud, Lacan pôde dizer “a ver<strong>da</strong>de <strong>se</strong> fun<strong>da</strong> pelo fato de<br />

<strong>que</strong> fala, e não dispõe de outro meio para fazê-lo” (LACAN, 1966/1998, p.882). Freud<br />

soube deixar <strong>que</strong> a ver<strong>da</strong>de falas<strong>se</strong> por intermédio do inconsciente. A partir <strong>da</strong> experiência<br />

com a histérica, Freud atribui à fala o acesso à ver<strong>da</strong>de do sujeito. Quanto mais <strong>se</strong> fala<br />

numa análi<strong>se</strong>, mais aparece o de<strong>se</strong>jo do sujeito.<br />

Mas, por <strong>que</strong>, então, Lacan formula <strong>que</strong> "[...] o sujeito sobre <strong>que</strong>m operamos em<br />

psicanáli<strong>se</strong> só pode <strong>se</strong>r o sujeito <strong>da</strong> ciência [...]"? Ora, com a ciência o sujeito é rechaçado.<br />

A ciência exclui de <strong>se</strong>u meio tudo aquilo <strong>que</strong> não pode <strong>se</strong>r comprovado. Ao fazer essa<br />

exclusão ela aponta <strong>que</strong> há no homem uma parte à qual não <strong>se</strong> tem domínio. É, portanto,<br />

des<strong>se</strong>s buracos <strong>da</strong> ciência <strong>que</strong> a psicanáli<strong>se</strong> nasce (ALBERTI, 2008). Com isso, a ciência<br />

assinala um indeterminável <strong>que</strong> lhe atravessa.<br />

Dessa forma, pode-<strong>se</strong> dizer <strong>que</strong> a ciência testemunha o fato de <strong>que</strong> há um<br />

impossível em jogo de <strong>da</strong>r conta, ain<strong>da</strong> <strong>que</strong> <strong>se</strong> debruce sobre o estudo do<br />

pensável, dizível e conceituável [...]. A psicanáli<strong>se</strong> tem como referência<br />

as mesmas determinações <strong>da</strong> ciência, no entanto, diferente desta, ocupa<strong>se</strong><br />

também do impensável, indizível [...]. (ALBERTI, 2008, p.53).<br />

O sujeito do inconsciente é, portanto, atravessado pela ciência <strong>que</strong> elege como<br />

norma para o homem o pensamento. To<strong>da</strong>via, é necessário a fala para <strong>que</strong> o pensar <strong>se</strong>ja<br />

conhecido. O sujeito para a psicanáli<strong>se</strong> <strong>que</strong>r saber de sua ver<strong>da</strong>de, e para isso ele fala. O<br />

<strong>que</strong> Freud preza, desde sua descoberta, é <strong>que</strong> o sujeito fale <strong>se</strong>m julgamentos morais.<br />

A fala <strong>se</strong> torna veículo de acesso ao inconsciente e às suas formações, <strong>se</strong>ndo aí <strong>que</strong><br />

aparece o sujeito, ou <strong>se</strong>ja, nos <strong>se</strong>us ditos. Para discorrer sobre o sujeito, deve-<strong>se</strong> dizer do

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