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pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

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Nome-do-Pai), sua produção é mais <strong>da</strong> ordem de uma letra. Es<strong>se</strong> S1 tem mais peso de letra<br />

<strong>que</strong> de significante, este como estando do lado do <strong>se</strong>ntido. Aqui o S1 estando enquanto<br />

letra <strong>que</strong> fixa o gozo.<br />

Outro autor também fala do lugar <strong>que</strong> a escrita deve ocupar para ter efeito de<br />

estabilização ou de suplência. Beneti (2005, p.01) diz <strong>que</strong>:<br />

deve haver um S1 produzido pelo próprio sujeito psicótico, para <strong>que</strong> <strong>se</strong>ja<br />

possível o surgimento des<strong>se</strong> S1 articulado ao real, isto é, ao objeto, ao<br />

gozo, possibilitando a emergência do <strong>que</strong> Lacan chamou de sinthome,<br />

suplência subjetiva, Nome-do-Pai, produto do trabalho do sujeito<br />

psicótico [...].<br />

É possível <strong>que</strong> alguma suplência <strong>se</strong> inscreva, pois, como afirma Quinet (2006), o<br />

psicótico é mestre em inventar formas de aparelhar o gozo, o <strong>que</strong> não deixa de <strong>se</strong>r também<br />

uma operação com a linguagem.<br />

Como <strong>se</strong> pode ob<strong>se</strong>rvar, a escrita abor<strong>da</strong><strong>da</strong> aqui é a escrita enquanto suplência e a<br />

escrita também enquanto o <strong>que</strong> não é somente <strong>da</strong> ordem do Imaginário ou do Simbólico,<br />

mas enquanto aquilo <strong>que</strong> toca o Real. Há construções <strong>que</strong> estão do lado do <strong>se</strong>ntido, como é<br />

o caso do delírio ou também a produção de algum artefato, e há a<strong>que</strong>las <strong>que</strong> pertencem ao<br />

fora do <strong>se</strong>ntido, como podem <strong>se</strong>r criações <strong>que</strong> têm estatuto de uma escrita.<br />

Na nossa experiência, do lado do imaginário, poderíamos citar como<br />

exemplos a identificação dos pacientes com figuras <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong>de, como<br />

personagens de filmes, músicos, escritores ou mesmo algum membro <strong>da</strong><br />

família ou <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. Do lado do simbólico, temos as elaborações<br />

delirantes, <strong>que</strong> permitem ao sujeito a localização do gozo no lugar do<br />

Outro, e a produção de objetos, escritos, etc., <strong>que</strong> permitem a deposição e<br />

<strong>se</strong>paração de um gozo. No primeiro caso, trata-<strong>se</strong> <strong>da</strong> busca de um <strong>se</strong>ntido<br />

para o <strong>que</strong> aparece no real; no <strong>se</strong>gundo, temos duas possibili<strong>da</strong>des: o<br />

escrito literário, <strong>que</strong> veicula <strong>se</strong>ntido, e a produção <strong>da</strong> letra, <strong>da</strong> ordem do<br />

real, <strong>se</strong>m <strong>se</strong>ntido (ALVARENGA, 2000, p.16).<br />

Por <strong>que</strong> as produções de ordem escrita possibilitam uma suplência <strong>que</strong> a fala não<br />

parece alcançar?<br />

Ora, a fala revela o delírio, e a este nenhum sujeito <strong>se</strong> liga. O delírio não faz laço, é<br />

de extrema particulari<strong>da</strong>de. Implica em ter <strong>que</strong> dizer o indizível <strong>da</strong> linguagem, em fazer<br />

existir a relação <strong>se</strong>xual, o todo. Pensando em Bispo do Rosário, sua fala revelava <strong>se</strong>u<br />

delírio de “refazer o mundo para a chega<strong>da</strong> de Deus”, e isso não é compartilhado. Ao<br />

contrário, <strong>se</strong>us panôs, o manto <strong>da</strong> salvação e demais objetos criados são compartilhados.<br />

Os sujeitos <strong>se</strong> ligam a essas produções, passam a <strong>se</strong>r considera<strong>da</strong>s obras de arte, <strong>se</strong>jam as

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