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pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

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enunciado ande!: em si, ele não significa, e sim em relação a andem!, andemos!, eu ando...<br />

A relação <strong>se</strong>/so <strong>que</strong> constitui a palavra ande e <strong>que</strong> chamamos em geral de “significação”<br />

não é suficiente para <strong>da</strong>r conta do <strong>se</strong>ntido empregado.” (NORMAND, 2009, p.75).<br />

A escrita na psicanáli<strong>se</strong> e na linguística saussuriana ora <strong>se</strong> aproximam, ora <strong>se</strong><br />

distanciam. A escrita saussuriana <strong>se</strong> aproxima quando <strong>da</strong> ideia de traço mnêmico freudiano<br />

por <strong>se</strong> tratar de um sistema onde um signo <strong>se</strong> encontra articulado a outros, formando uma<br />

cadeia, como acontece nos sonhos. Uma escrita produtora de <strong>se</strong>ntido. Mas, a escrita <strong>que</strong><br />

aponta a incidência do Real lacaniano, um tempo onde não <strong>se</strong> pode suturar tudo por<strong>que</strong> é<br />

impossível reconstituir todo o <strong>se</strong>ntido, esta <strong>se</strong> afasta, pois não remete a qual<strong>que</strong>r menção ao<br />

significante enquanto produtor de significação e sim à vertente <strong>da</strong> letra. A letra diferente<br />

do significante é sozinha, não <strong>se</strong> encadeia.<br />

Levando-<strong>se</strong> em conta essas aproximações e distanciamentos, aqui pensamos a<br />

escrita na teoria saussuriana pelo viés do sistema, pois ao dizer sistema <strong>se</strong> diz ordenação,<br />

ou <strong>se</strong>ja, a escrita como uma reorganização do mundo subjetivo do psicótico após o<br />

desmoronamento de sua reali<strong>da</strong>de. Sem, no entanto, desconsiderar sua outra vertente, a do<br />

fora do <strong>se</strong>ntido, produção do Real.<br />

O percurso, portanto, permeia o <strong>se</strong>ntido e o <strong>se</strong>m <strong>se</strong>ntido <strong>da</strong> escrita dos sujeitos na<br />

<strong>psico<strong>se</strong></strong>, considerando-<strong>se</strong> a teoria do sistema na linguística saussuriana no diálogo entre<br />

psicanáli<strong>se</strong> e linguística, apostando numa reorganização psíquica nessa estrutura.<br />

Percorrendo com Lacan o caminho do significante à letra, nota-<strong>se</strong> uma mu<strong>da</strong>nça na<br />

hegemonia <strong>da</strong> fala para a dimensão <strong>da</strong> escrita. Com isso, Lacan destaca a prevalência do<br />

gozo sobre o <strong>se</strong>ntido. Todo <strong>se</strong>ntido traz consigo um gozo. To<strong>da</strong> palavra pronuncia<strong>da</strong> sofre<br />

uma deformação e o falante tem uma satisfação nes<strong>se</strong> ato. Miller (2011, p.52), a partir de<br />

Lacan, afirma: “Há uma satisfação intrín<strong>se</strong>ca ao <strong>que</strong> chamamos de compreensão:<br />

compreender é um efeito de satisfação. O <strong>que</strong> faz <strong>se</strong>ntido para um sujeito é <strong>se</strong>mpre<br />

determinado pelo gozo”.<br />

Desde a noção do inconsciente formado pela articulação entre significantes <strong>que</strong><br />

produz um sujeito (o significante <strong>que</strong> repre<strong>se</strong>nta o sujeito para outro significante) até o<br />

inconsciente real formado por letras <strong>que</strong> aponta algo duro, inanalisável, pode-<strong>se</strong> dizer <strong>da</strong><br />

escrita. Se por um lado com a escrita há produção de <strong>se</strong>ntido, possibilitando a constituição<br />

de novas cadeias simbólicas, por outro ela veicula o real em suas produções (literária,<br />

de<strong>se</strong>nho, pintura, artefatos). É o <strong>que</strong> <strong>se</strong> pode ob<strong>se</strong>rvar através de alguns casos, como vem<br />

<strong>se</strong>ndo mostrado neste trabalho dis<strong>se</strong>rtativo.

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