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pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

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103<br />

Os sujeitos psicóticos estão no mundo, trabalham, estu<strong>da</strong>m, casam, tornam-<strong>se</strong> pais,<br />

dão mostras de <strong>que</strong> é possível estar no social <strong>se</strong>m, no entanto, permanecer presos a algum<br />

discurso. Mesmo <strong>que</strong> de forma capenga, exercem funções exigi<strong>da</strong>s pelo social. O laço<br />

social na <strong>psico<strong>se</strong></strong> só é possível quando de alguma operação de estabilização, do contrário o<br />

<strong>que</strong> <strong>se</strong> ob<strong>se</strong>rva são tentativas frustra<strong>da</strong>s de familiares e profissionais in<strong>se</strong>rirem no social<br />

este sujeito.<br />

Veras (2011) alega <strong>que</strong> a <strong>que</strong>stão do laço social <strong>se</strong>mpre <strong>se</strong> fará pre<strong>se</strong>nte, pois o<br />

sujeito é fa<strong>da</strong>do à eterna relação com o Outro, está no campo <strong>da</strong> linguagem e por isso<br />

incitado a fazer parte <strong>da</strong>s trocas sociais. Todo sujeito, portanto, é condenado a habitar o<br />

campo do Outro, tesouro dos significantes, <strong>se</strong>ndo possível fazer um laço quando há uma<br />

trégua com o Outro, estando <strong>se</strong>parado do sujeito. Des<strong>se</strong> modo, pode-<strong>se</strong> dizer <strong>que</strong> o<br />

psicótico não <strong>se</strong> encontra todo o tempo alheio ao laço social, prova disso são suas<br />

produções <strong>que</strong> oferta para o Outro em <strong>se</strong>u lugar.<br />

O psicótico, por li<strong>da</strong>r com a foraclusão do significante <strong>que</strong> institui o campo do<br />

Simbólico, <strong>que</strong> evita o encontro com o vazio <strong>da</strong> significação, é <strong>que</strong>m melhor pode dizer <strong>da</strong><br />

experiência com o gozo, como localizá-lo e aparelhá-lo. É a estrutura, por excelência, na<br />

qual o impossível, ou <strong>se</strong>ja, o Real <strong>se</strong> torna vivo e <strong>se</strong> concretiza. “Assim, nenhum discurso é<br />

suficientemente capaz de capturar es<strong>se</strong> gozo, tornando necessário, do lado <strong>da</strong> clínica, <strong>que</strong><br />

<strong>se</strong> faça uma criação.” (VERAS, 2011, p.123).<br />

É o avanço <strong>da</strong> teoria lacaniana pensar o Nome-do-Pai como uma, e não a única <strong>da</strong>s<br />

diversas formas de li<strong>da</strong>r com a falha estrutural do Outro, <strong>que</strong> permite tratar o laço social<br />

não apenas pelo lado <strong>da</strong> linguagem, mas também pela vertente do gozo, abrindo novas<br />

possibili<strong>da</strong>des para a clínica <strong>da</strong>s <strong>psico<strong>se</strong></strong>s. O laço social é efeito e não causa <strong>da</strong><br />

estabilização, é o modo de operar com o <strong>que</strong> rateia para todo sujeito. “Algo permanece<br />

incomunicável e faz obstáculo ao laço social” (VERAS, 2011, p.114). Des<strong>se</strong> modo, não<br />

estaria o psicótico avesso ao mundo, também ao neurótico é posto o entrave à constituição<br />

do laço social.<br />

O gozo é particular, não é compartilhável. Ao longo do ensino de Lacan o laço<br />

social vai de uma concepção do <strong>que</strong> é do coletivo para a importância dos modos como os<br />

sujeitos <strong>se</strong> arranjam com o gozo não simbolizado pela linguagem. “O laço social deixa de<br />

<strong>se</strong>r visto como a possibili<strong>da</strong>de de comunicação garanti<strong>da</strong> pelo Outro simbólico para <strong>se</strong>r o<br />

modo como ca<strong>da</strong> um <strong>se</strong> vira a fim de manter coesos os três registros”. (VERAS, 2011,<br />

p.125).

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