pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
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diferente <strong>da</strong>s palavras <strong>que</strong> emprega para comunicar a sua experiência.<br />
(LACAN, 1955-56/2008, p. 44).<br />
Lacan adverte <strong>que</strong> é preciso ouvir essa palavra (o neologismo) no ponto mesmo em<br />
<strong>que</strong> concerne somente ao sujeito e não significa mais na<strong>da</strong>. “Pois, <strong>se</strong>guramente, es<strong>se</strong>s<br />
doentes falam a mesma linguagem <strong>que</strong> nós. Se não houves<strong>se</strong> es<strong>se</strong> elemento, não<br />
saberíamos na<strong>da</strong> deles” (LACAN, 1955-56/2008, p.45). O <strong>que</strong> aqui Lacan coloca é <strong>que</strong> tais<br />
termos neológicos não têm um uso fora <strong>da</strong> sintaxe, encontram-<strong>se</strong> bem articulados nas<br />
fra<strong>se</strong>s, podendo por isso passar despercebido <strong>que</strong> o sujeito está falando de <strong>se</strong>u delírio.<br />
Já <strong>que</strong> estão bem organizados nas fra<strong>se</strong>s, onde o neologismo aponta <strong>se</strong>r um<br />
transtorno <strong>da</strong> linguagem? Para dizer disso a linguística é bem vin<strong>da</strong>.<br />
Na linguística saussuriana há duas relações <strong>que</strong> ocorrem simultaneamente na língua<br />
– relação paradigmática e a sintagmática. As relações sintagmáticas são ba<strong>se</strong>a<strong>da</strong>s no<br />
caráter linear <strong>da</strong> língua, numa relação espacial <strong>que</strong> impossibilita de pronunciar dois termos<br />
ao mesmo tempo, estando um após o outro. Diferentemente, nas relações associativas (eixo<br />
paradigmático) uma palavra chama, de forma inconsciente, outras <strong>que</strong> têm alguma<br />
<strong>se</strong>melhança. Este eixo não está ba<strong>se</strong>ado na extensão, os termos existem na memória de<br />
ca<strong>da</strong> falante. É nessa relação <strong>que</strong> <strong>se</strong> encontra um ver<strong>da</strong>deiro tesouro de palavras,<br />
repre<strong>se</strong>ntando a ri<strong>que</strong>za <strong>da</strong> língua pre<strong>se</strong>nte na memória de ca<strong>da</strong> falante. (SAUSSURE,<br />
1916/2006).<br />
O sintagma corresponde à fala, o paradigma corresponde à língua, ao <strong>que</strong> só <strong>se</strong> tem<br />
acesso quando passa para o discurso. Es<strong>se</strong>s dois eixos, sintagmático e paradigmático,<br />
podem ain<strong>da</strong> <strong>se</strong>rem compreendidos como os movimentos metonímico e metafórico <strong>da</strong><br />
cadeia significante proposta por Lacan. A metonímia como o encadeamento linear, a fala<br />
consciente e, a metáfora como a irrupção do paradigma no sintagma, a substituição de uma<br />
palavra por outra, <strong>que</strong> mantém com esta certa relação de <strong>se</strong>melhança.<br />
O distúrbio de linguagem não ocorre no sintagma, mas no paradigma. É possível ao<br />
sujeito psicótico construir fra<strong>se</strong>s gramaticalmente corretas, porém no polo metafórico é <strong>que</strong><br />
está o problema, não há substituição de uma palavra por outra, pois o neologismo não<br />
chama outro <strong>se</strong>ntido. “O próprio doente sublinha <strong>que</strong> a palavra tem peso em si mesma.<br />
Antes de <strong>se</strong>r redutível a uma outra significação, ela significa em si mesma alguma coisa de<br />
inefável, é uma significação <strong>que</strong> remete antes de mais na<strong>da</strong> à significação enquanto tal”<br />
(LACAN, 1955-56/2008, p.44).<br />
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