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pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

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<strong>se</strong> encadeou. Com Lacet (2003, p.57): “O Simbólico é o <strong>que</strong> permite fazer <strong>se</strong>ntido”. A<br />

escrita na <strong>psico<strong>se</strong></strong> é uma operação <strong>se</strong>m <strong>se</strong>ntido, mas <strong>que</strong> organiza o <strong>se</strong>ntido.<br />

É válido salientar <strong>que</strong> <strong>se</strong>ntido aqui não <strong>que</strong>r dizer significação fálica, esta <strong>se</strong> remete<br />

à neuro<strong>se</strong>. Mesmo faltando essa significação na <strong>psico<strong>se</strong></strong>, entendemos <strong>que</strong> o simbólico possa<br />

<strong>se</strong> enlaçar aos outros dois registros quando de uma produção com estatuto de escrita não<br />

tendo como finali<strong>da</strong>de, mas mais como uma con<strong>se</strong>quência à in<strong>se</strong>rção em algum discurso.<br />

Daí, portanto, Saussure (1916/2006, p.24, grifos nossos) diz <strong>que</strong> “a língua é um sistema de<br />

signos comparável à escrita” pensando o sistema como uma ordem onde há uma estrutura<br />

<strong>que</strong> possibilita a produção de <strong>se</strong>ntidos. A escrita, des<strong>se</strong> modo, como possibili<strong>da</strong>de de<br />

rein<strong>se</strong>rir o sujeito psicótico no Simbólico.<br />

O <strong>que</strong> é considerado aqui como <strong>se</strong>ntido é uma ordenação, ou <strong>se</strong>ja, diante do<br />

de<strong>se</strong>ncadeamento <strong>da</strong> <strong>psico<strong>se</strong></strong> o sujeito <strong>se</strong> encontra diante de uma catástrofe subjetiva, um<br />

desmoronamento de <strong>se</strong>u mundo, <strong>que</strong> precisa <strong>se</strong>r reorganizado. A escrita, então, mesmo <strong>que</strong><br />

não culmine numa suplência, pode produzir um apaziguamento do sujeito. A essa<br />

ordenação do mundo subjetivo é <strong>que</strong> dizemos <strong>que</strong> a escrita causa <strong>se</strong>ntido. Tendo ain<strong>da</strong> a<br />

escrita em sua outra vertente, a <strong>da</strong> letra, <strong>da</strong> ordem do <strong>se</strong>m <strong>se</strong>ntido.<br />

Não <strong>se</strong> trata de dizer <strong>que</strong> a escrita na <strong>psico<strong>se</strong></strong> tem <strong>se</strong>ntido, o <strong>que</strong> mais comumente <strong>se</strong><br />

ob<strong>se</strong>rva são produções fora do <strong>se</strong>ntido. Mas, quando dizemos fora do <strong>se</strong>ntido, isto remete a<br />

pensar o <strong>se</strong>ntido como aquilo <strong>que</strong> é compartilhado. Afirma-<strong>se</strong> isso a partir de algo fazer ou<br />

não parte <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de neurótica. Quando falamos de <strong>se</strong>ntido na <strong>psico<strong>se</strong></strong> relacionado ao<br />

sistema saussuriano, não <strong>se</strong> trata do <strong>se</strong>ntido compartilhado como na neuro<strong>se</strong>, mas do <strong>que</strong><br />

pode entrar numa ordenação. Produzem-<strong>se</strong> diversos tipos de escrita (de<strong>se</strong>nho, pintura,<br />

textos) quando falta o <strong>se</strong>ntido, quando o <strong>que</strong> <strong>se</strong> tem são apenas significados, como nos<br />

dicionários, <strong>se</strong>ndo au<strong>se</strong>nte o <strong>se</strong>ntido como aquilo <strong>que</strong> concatena, quando <strong>se</strong> pode fazer um<br />

recorte e ter uma uni<strong>da</strong>de. É isso <strong>que</strong> a escrita faz, um recorte, uma forma onde só havia<br />

caos.<br />

A escrita, como alguns casos clínicos têm demonstrado, funciona de forma a<br />

<strong>se</strong>parar o sujeito do Outro, construindo uma alteri<strong>da</strong>de fora do corpo, <strong>se</strong>para<strong>da</strong> do sujeito.<br />

É certo <strong>que</strong> há outras formas de estabilização na <strong>psico<strong>se</strong></strong>, como a passagem ao ato e a<br />

metáfora delirante, no entanto, a escrita teria um diferencial ao constituir laço social,<br />

apesar de não ter essa finali<strong>da</strong>de. Tanto a passagem ao ato como a metáfora delirante não<br />

produzem vínculo, não enlaça o sujeito ao outro. Com Alvarenga (2000, p.16), pode-<strong>se</strong><br />

dizer <strong>que</strong> a produção de objetos e escritos permitem a destituição do gozo do Outro sobre o

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