pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
68<br />
O gozo como o <strong>que</strong> há de mais singular para um sujeito é cifrado, sua marca pode<br />
<strong>se</strong>r percebi<strong>da</strong> no dizer <strong>se</strong>m <strong>se</strong>ntido, na impossibili<strong>da</strong>de de dizer tudo, na ausência de<br />
palavras, na lalação e nos jogos de palavras tão comuns nas crianças e nos poetas. Gozo do<br />
verbo <strong>que</strong> transcende a relação do falante com o significante.<br />
O <strong>que</strong> poderia cifrar o gozo invasivo na <strong>psico<strong>se</strong></strong>? É o <strong>que</strong> <strong>se</strong> pretende saber ao<br />
apostar na escrita como construção, tessitura, arremate dos três registros, possibilitando<br />
fazer laço na medi<strong>da</strong> em <strong>que</strong>, ao <strong>se</strong> utilizar <strong>da</strong> escrita, pode-<strong>se</strong> constituir um topos, um<br />
lugar marcando uma diferença entre o sujeito e o Outro. Por não haver essa barreira não há<br />
na <strong>psico<strong>se</strong></strong> o campo do Outro constituído como lugar velado <strong>que</strong> só <strong>se</strong> tem acesso <strong>pelas</strong><br />
formações do inconsciente. A escrita pode operar fazendo barreira ao gozo, à medi<strong>da</strong> <strong>que</strong><br />
produz um recorte onde não havia diferenciação.<br />
O psicótico, por ter o inconsciente a céu aberto, está em maior contato com o Real,<br />
com o non <strong>se</strong>ns. O encontro com o <strong>se</strong>m <strong>se</strong>ntido impele o sujeito a produzir, a responder a<br />
es<strong>se</strong> Real com os aparatos <strong>que</strong> lhe forem disponíveis. Retomando o já exposto, o Real, por<br />
<strong>se</strong>r impossível, é também contingente, ou <strong>se</strong>ja, permite <strong>que</strong> algo possa <strong>se</strong> <strong>escreve</strong>r. O <strong>se</strong>m<br />
<strong>se</strong>ntido (pas de <strong>se</strong>ns) é também um passo de <strong>se</strong>ntido. Conforme afirma Maliska (2010,<br />
p.80):<br />
Deparar-<strong>se</strong> com o real, é estar frente ao non <strong>se</strong>ns, em <strong>que</strong> a angústia <strong>se</strong><br />
faz pre<strong>se</strong>nte, mas é também a possibili<strong>da</strong>de de invenção de um Outro<br />
sujeito. O <strong>que</strong> <strong>que</strong>ro dizer é <strong>que</strong> to<strong>da</strong> experiência real traz em si as duas<br />
acepções: uma <strong>que</strong> causa angústia pelo <strong>se</strong>u não <strong>se</strong>ntido e pela sua<br />
impossibili<strong>da</strong>de; e outra <strong>que</strong> trata de inventar uma Outra coisa a partir <strong>da</strong><br />
anterior. É a possibili<strong>da</strong>de do real.<br />
Daí <strong>se</strong> pode concluir <strong>que</strong> é pela língua <strong>se</strong>r também <strong>da</strong> ordem do impossível <strong>que</strong> as<br />
invenções são possíveis, <strong>que</strong> todo sujeito pode tentar inscrever <strong>se</strong>u sintoma como aquilo<br />
<strong>que</strong> mantém os três registros num enlaçamento singular. A língua <strong>se</strong>ndo <strong>da</strong> ordem do Real,<br />
pelo impossível de dizer tudo, lança numa assíntota às invenções dos sujeitos. É pelo Real<br />
não poder <strong>se</strong>r dito <strong>que</strong> a escrita na <strong>psico<strong>se</strong></strong> pode indicar, ao psicanalista, um caminho a<br />
buscar nas singulari<strong>da</strong>des dos sujeitos o tratamento ao gozo.<br />
A língua não dá conta de dizer tudo, há <strong>se</strong>mpre um Real <strong>que</strong> lhe atravessa, <strong>que</strong><br />
retorna <strong>se</strong>mpre por <strong>se</strong>r impossível de dizer o <strong>que</strong> não cessa de não <strong>se</strong> <strong>escreve</strong>r. Não há<br />
como <strong>escreve</strong>r o Real. “No entanto, o real é aquilo <strong>que</strong> está lá, com o qual <strong>se</strong> pode contar.”<br />
(MALISKA, 2010, p.79-80). E, ain<strong>da</strong>, com Lacan (1973, apud MIRANDA): “Eu te batizo,