30.12.2013 Views

pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

64<br />

língua, ao contrário, é um todo por si e um princípio de classificação” (1916/2006, p.17), e<br />

“[...] a língua é sistema <strong>que</strong> conhece somente sua ordem própria” (1916/2006, p.31), esta<br />

marcando <strong>que</strong> a língua é um todo e <strong>que</strong> além disso não depende de nenhuma ordem<br />

externa, ela obedece sua própria lei.<br />

Com essa afirmação saussuriana: “a língua é um todo por si”, tem-<strong>se</strong> <strong>que</strong> a língua é.<br />

(MILNER, 1987). Dizer <strong>que</strong> a língua é aproxima-a do real lacaniano, enquanto o Real é.<br />

Mas é o <strong>que</strong>? É impossível de <strong>se</strong>r todo dito e <strong>se</strong> basta a si mesmo. É o inatingível, é <strong>da</strong><br />

ordem do impossível. O Real é <strong>se</strong>m lei e só <strong>se</strong> pode ter acesso a ele por meio de pe<strong>da</strong>ços.<br />

(LACAN, 1975-76/2007).<br />

Dizer acerca do Real <strong>que</strong> toca a língua é falar de alíngua. Milner em <strong>se</strong>u livro O<br />

amor <strong>da</strong> língua (1987, p.13) faz considerações acerca <strong>da</strong> língua e de alíngua. O autor diz<br />

<strong>que</strong> a língua não deveria comportar equívocos, mas bem sabe o linguista <strong>que</strong> “[Porém] o<br />

real equívoco resiste: a língua não cessa de <strong>se</strong>r por ele de<strong>se</strong>stratifica<strong>da</strong>”. O <strong>que</strong> produz os<br />

equívocos de uma língua é justamente alíngua. E todo sujeito <strong>que</strong> faz uso <strong>da</strong> língua toca<br />

em alíngua, fazendo todo jogo possível com as palavras. “O puro conceito de língua é<br />

a<strong>que</strong>le de um não-todo marcando a alíngua” (Idem, p.19). Falar de língua é as<strong>se</strong>ntar <strong>que</strong><br />

tudo não <strong>se</strong> pode dizer. Es<strong>se</strong> não-todo <strong>que</strong> permeia a língua é marca do Real, é alíngua.<br />

Daí, dizer <strong>que</strong> a língua é <strong>da</strong> ordem do Real.<br />

Língua consiste em <strong>que</strong> haja alíngua, e <strong>que</strong> em alíngua haja impossível. Dizendo de<br />

outro modo, é por haver impossível (alíngua) <strong>que</strong> há língua. Língua é o <strong>que</strong> suporta alíngua<br />

enquanto ela é não-to<strong>da</strong>. É pela incompletude <strong>que</strong> é possível algo à língua. (MILNER,<br />

1987).<br />

Mas, dizer não-todo também consiste em dizer todo. O dizer do linguista, e isso <strong>se</strong><br />

dá a partir de Saussure, <strong>que</strong> a língua é, consiste em <strong>que</strong> a língua é um todo por si mesma,<br />

ou <strong>se</strong>ja, não depende de nenhum termo <strong>que</strong> lhe <strong>se</strong>ja exterior. Assim, a língua é um todo. A<br />

língua por suportar o real de alíngua, enquanto ela é não-to<strong>da</strong>, também toca o Real. Assim,<br />

a língua é, ao mesmo tempo, um todo e um não-todo. Mesmo <strong>que</strong> não <strong>se</strong>ja de <strong>se</strong>us<br />

domínios, a linguística circunscreve um Real – a língua.<br />

Acerca do não-todo a linguística saussuriana não de<strong>se</strong>nvolveu na<strong>da</strong>, pois não era de<br />

<strong>se</strong>u interes<strong>se</strong>. O <strong>que</strong> há é uma tentativa de suturar o não-todo, haja vista a língua para <strong>se</strong>r<br />

toma<strong>da</strong> como objeto de uma ciência é preciso <strong>se</strong>r apreendi<strong>da</strong> como uma completude, <strong>da</strong><br />

alíngua ela não pretende um saber, não faz parte de <strong>se</strong>us domínios. A psicanáli<strong>se</strong>, no<br />

entanto, reconhece aí na incompletude o <strong>que</strong> faz existir o sujeito do inconsciente, na

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!