pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
34<br />
Lacan (1955-56/2008, p.162) vai abor<strong>da</strong>r a alucinação não como o <strong>que</strong> é <strong>da</strong><br />
percepção, mas como o <strong>que</strong> é <strong>da</strong> ordem do significante: “[...] o <strong>que</strong> vocês compreendem<br />
num discurso é outra coisa <strong>que</strong> o <strong>que</strong> está registrado acusticamente”. As alucinações<br />
comprovam <strong>que</strong> não <strong>se</strong> trata do <strong>se</strong>nsório, é antes <strong>da</strong> linguagem, o significante <strong>se</strong> impondo<br />
ao sujeito em sua dimensão de voz, por exemplo.<br />
Dado <strong>que</strong> o neurótico afirma ter uma voz <strong>da</strong> consciência <strong>que</strong> identifica como <strong>se</strong>ndo<br />
sua, o psicótico a rechaça, não reconhecendo essa voz como sua, surge no real em forma de<br />
alucinação. Na <strong>psico<strong>se</strong></strong>, portanto, o <strong>que</strong> ocorre <strong>se</strong> dá no nível do Outro, ou <strong>se</strong>ja, a voz<br />
alucina<strong>da</strong> vem <strong>se</strong>mpre de fora: é um amigo, vizinho, médico, alguém <strong>que</strong> entra na cadeia<br />
significante do psicótico como per<strong>se</strong>guidor ou como a<strong>que</strong>le <strong>que</strong> visa diretamente ao<br />
sujeito. Como no caso de Schreber <strong>que</strong> de<strong>se</strong>nvolve um delírio per<strong>se</strong>cutório em relação a<br />
<strong>se</strong>u médico, o Dr. Flechsig: “[...] havia certas pessoas por <strong>que</strong>m pensava estar <strong>se</strong>ndo<br />
per<strong>se</strong>guido e prejudicado, e a <strong>que</strong>m dirigia vitupérios. A mais proeminente delas era <strong>se</strong>u<br />
médico anterior, Flechsig, a <strong>que</strong>m chamava “assassino <strong>da</strong> alma” [...]”. (FREUD,<br />
1911/1976, p. 25).<br />
De acordo com Souza (1999, p.54), “A voz <strong>que</strong> atormenta o psicótico é uma voz<br />
em ato, voz real, impossível de apreender pelo significante [...]”. Falta ao psicótico o<br />
significante <strong>que</strong> permite uma percepção compartilha<strong>da</strong> <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. Sem o significante<br />
Nome-do-Pai, o Outro na <strong>psico<strong>se</strong></strong> não é barrado e, portanto, faz-<strong>se</strong> ouvir.<br />
Os efeitos <strong>da</strong> foraclusão são devastadores sobre o sujeito, <strong>que</strong> fica à revelia do<br />
Outro gozador. Tais efeitos podem <strong>se</strong>r ob<strong>se</strong>rvados num fenômeno de linguagem típico na<br />
<strong>psico<strong>se</strong></strong> – o neologismo.<br />
O neologismo é um termo comum na linguística e <strong>se</strong> refere a uma palavra nova <strong>que</strong><br />
não existe no léxico e <strong>que</strong>, até então, não era compartilhado na socie<strong>da</strong>de. Para a<br />
psicanáli<strong>se</strong>, o neologismo não precisa <strong>se</strong>r, necessariamente, um termo inédito, basta <strong>que</strong><br />
para um sujeito em <strong>que</strong>stão tenha um uso particular, não partilhável com outras pessoas.<br />
Seu uso é único e só <strong>se</strong>rve à<strong>que</strong>le sujeito. Na <strong>psico<strong>se</strong></strong>, o neologismo tem um uso<br />
indefinível, adquirindo uma significação <strong>que</strong> diz respeito somente ao sujeito e <strong>que</strong> não<br />
remete a uma outra significação, pois já contém to<strong>da</strong> a significação em si mesma.<br />
O próprio Schreber sublinha <strong>se</strong>m cessar a originali<strong>da</strong>de de certos termos<br />
de <strong>se</strong>u discurso. Quando ele nos fala, por exemplo, de Nervenanhag, de<br />
adjunção de nervos [...] São palavras-chaves, e ele próprio nota <strong>que</strong> nunca<br />
teria achado a sua fórmula, palavras originais, palavras plenas, bem