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pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

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67<br />

fez carne em cristo/ A carne <strong>se</strong> fará verbo em mim”. A escrita de Gregório <strong>se</strong> apre<strong>se</strong>nta<br />

<strong>se</strong>m pontuações, as palavras <strong>se</strong>guem num fluxo contínuo <strong>se</strong>m ponto de para<strong>da</strong>, <strong>se</strong>ndo<br />

apenas nas rimas <strong>que</strong> encontra estofo.<br />

O sujeito psicótico, por não ter havido recal<strong>que</strong>, tem acesso direto ao gozo e,<br />

portanto, pode-<strong>se</strong> dizer é <strong>que</strong>m melhor aponta um saber-fazer com o <strong>que</strong> é de alíngua. Não<br />

<strong>que</strong> a neuro<strong>se</strong> também não tenha um saber-fazer, no entanto, como afirma Rômulo Ferreira<br />

<strong>da</strong> Silva (2011, p.18) 25 : “O <strong>que</strong> há de mais ver<strong>da</strong>deiramente inventivo, está do lado <strong>da</strong>s<br />

<strong>psico<strong>se</strong></strong>s”.<br />

Tal afirmação aponta <strong>que</strong> a neuro<strong>se</strong> conta de antemão com o Nome-do-Pai como o<br />

nó <strong>que</strong> enlaça os três registros (RSI), tendo o sujeito na <strong>psico<strong>se</strong></strong> <strong>que</strong> criar <strong>se</strong>u próprio nó<br />

<strong>se</strong>m nenhum recurso prévio. A forma mais comum de amarração é o Nome-do-Pai, as<br />

soluções inventivas estão do lado <strong>da</strong> <strong>psico<strong>se</strong></strong> como a<strong>que</strong>las <strong>que</strong> <strong>se</strong>riam soluções elegantes e<br />

criativas.<br />

Fala-<strong>se</strong> muito <strong>da</strong>s invenções na <strong>psico<strong>se</strong></strong> como tentativa de cura, de suplência e a<br />

possível constituição de um laço social. O <strong>que</strong> é preciso dizer aqui é <strong>que</strong> a <strong>psico<strong>se</strong></strong> inventa<br />

outras maneiras de fazer laços sociais, apontando a pluralização dos laços <strong>que</strong> não o laço<br />

“normalizador” do Nome-do-Pai.<br />

As invenções, portanto, são <strong>da</strong> ordem de um saber-fazer com o gozo, com o <strong>que</strong><br />

vem de alíngua. Alíngua não visa à comunicação, ela <strong>se</strong> presta a coisas diferentes ao<br />

<strong>se</strong>ntido, ela <strong>se</strong> presta ao gozo. (LACAN, 1972-73/2008 26 ). É a língua de gozo de ca<strong>da</strong><br />

sujeito. O trabalho na <strong>psico<strong>se</strong></strong> <strong>se</strong>ria, deste modo, o de tentar uma construção <strong>que</strong> possa<br />

distanciá-lo <strong>da</strong> relação direta, e por vezes ininterrupta, com alíngua, de forma <strong>que</strong> o sujeito<br />

possa <strong>se</strong> utilizar <strong>da</strong> língua enquanto código social compartilhado, mas também de maneira<br />

particular possa modulá-la, <strong>da</strong>r-lhe um contorno. “É preciso, pois, um uso do código em<br />

<strong>que</strong> o falante, ao mesmo tempo, <strong>se</strong> submeta e subverta o material <strong>da</strong> língua [...]” (FREIRE;<br />

COSTA, 2008). A aposta desta dis<strong>se</strong>rtação é, também, na escrita enquanto possibili<strong>da</strong>de de<br />

modular o gozo e possibilitar um efeito sujeito, permitindo uma articulação, um laço com<br />

um Outro <strong>que</strong> não <strong>que</strong>r, a todo tempo, gozar do sujeito. Um Outro <strong>da</strong> incompletude, nãotodo.<br />

25 Conferência apre<strong>se</strong>nta<strong>da</strong> no Fórum “A clínica na Saúde Mental”, em João Pessoa, 2011.<br />

26 No Seminário 20, ocorre uma vira<strong>da</strong> no ensino de Lacan, juntamente com o conceito de alíngua. O campo<br />

do gozo <strong>se</strong> sobressai ao <strong>da</strong> linguagem. A primazia deixa de <strong>se</strong>r o simbólico e a estrutura <strong>da</strong> linguagem e passa<br />

a <strong>se</strong>r o real e o campo do gozo. A linguagem encontra-<strong>se</strong> deriva<strong>da</strong> e submeti<strong>da</strong> à alíngua. É válido dizer <strong>que</strong>,<br />

no entanto, o campo do gozo não exclui o campo <strong>da</strong> linguagem.

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