30.12.2013 Views

pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

71<br />

A <strong>psico<strong>se</strong></strong> dá exemplos <strong>da</strong> impossibili<strong>da</strong>de de com a palavra <strong>da</strong>r conta des<strong>se</strong> Real,<br />

apontando o tempo todo <strong>que</strong> a palavra não chega a dizer o <strong>que</strong> <strong>se</strong> <strong>que</strong>r dizer. O neurótico<br />

tenta <strong>da</strong>r conta des<strong>se</strong> impossível com a palavra, mesmo em momentos de angústia o sujeito<br />

fala e com isso vai <strong>se</strong> organizando no discurso. A <strong>psico<strong>se</strong></strong>, por sua vez, mostra como o Real<br />

escapa à metaforizações, como a palavra não atinge o gozo. Mas, aponta também a<br />

possibili<strong>da</strong>de do fazer com o Real, uma operação <strong>que</strong> faz um enlace simbólico. Como é o<br />

caso <strong>da</strong> escrita.<br />

Pensando, portanto, a escrita como estabilização na <strong>psico<strong>se</strong></strong>, pretende-<strong>se</strong> aqui<br />

apontar o diálogo com a linguística saussuriana através do sistema, chegando a algumas<br />

ponderações.<br />

O sistema saussuriano permite <strong>que</strong> a língua como estrutura<strong>da</strong> atinja uma ordem. A<br />

escrita, por sua vez, como um sistema de signos comparável à língua estabelece um<br />

ordenamento, recolocando o sujeito numa cadeia significante. Pode-<strong>se</strong> dizer <strong>que</strong> a língua,<br />

como o Real lacaniano, é uma vastidão, não <strong>se</strong> tem como aferir <strong>se</strong>u limite, mas ao colocála<br />

no sistema, <strong>que</strong> é o <strong>que</strong> Saussure faz, isso produz um recorte, um emolduramento a essa<br />

imensidão, ao <strong>se</strong>m-limite <strong>da</strong> língua. A escrita, prestando a isso, na <strong>psico<strong>se</strong></strong> ao<br />

enquadramento do Real. Essa reconstituição simbólica parece <strong>se</strong>r possível após um<br />

trabalho cuja materiali<strong>da</strong>de aponta <strong>que</strong> com o Real é preciso uma operação com a letra, não<br />

apenas com o significante.<br />

Nes<strong>se</strong> ponto, chega-<strong>se</strong> a uma ideia fun<strong>da</strong>mental em relação à escrita, duas vertentes<br />

<strong>que</strong> orientam este trabalho. Uma é a escrita enquanto produção, artefato, artífice, aquilo<br />

<strong>que</strong> não pede interpretação, não está do lado do <strong>se</strong>ntido. A outra é o a posteriori des<strong>se</strong><br />

fazer com (o Real), ou <strong>se</strong>ja, após alguma produção o sujeito pode colocar na palavra,<br />

retomando a cadeia simbólica, restaurando, assim, alguns laços. São, portanto, duas<br />

vertentes <strong>que</strong> constituem ora o <strong>se</strong>m <strong>se</strong>ntido, ora o <strong>se</strong>ntido.<br />

Um trabalho realizado pelo sujeito psicótico – escrita textual ou produção de<br />

objetos – <strong>que</strong> tem estatuto de escrita demonstra <strong>se</strong>r condensador de gozo, e por isso<br />

possibilita <strong>que</strong> novos laços possam <strong>se</strong> constituir após o rompimento com a reali<strong>da</strong>de ou,<br />

em alguns casos, evitam um de<strong>se</strong>ncadeamento. A escrita apre<strong>se</strong>nta<strong>da</strong> assim indica duas<br />

perspectivas. A escrita enquanto qual<strong>que</strong>r produção do sujeito <strong>que</strong> fixa o gozo, trabalho<br />

<strong>que</strong> tem mais relação com a letra do <strong>que</strong> com o significante. E a<strong>que</strong>la <strong>que</strong>, tal como a<br />

escrita compara<strong>da</strong> à língua enquanto nortea<strong>da</strong> pelo sistema saussuriano, permite uma<br />

ordenação <strong>da</strong> cadeia simbólica, <strong>da</strong>do <strong>que</strong> dizer <strong>que</strong> faz parte do sistema é dizer <strong>que</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!