pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...
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Es<strong>se</strong> momento de encontro com o Outro, encontro com o significante, consiste no<br />
tempo <strong>que</strong> fun<strong>da</strong> o sujeito, e por isso mesmo a relação do sujeito ao Outro é <strong>se</strong>mpre<br />
traumática. A própria linguagem é <strong>da</strong> ordem do <strong>que</strong> é traumático, e só é possível <strong>que</strong> haja<br />
essa divisão do sujeito em consciente e inconsciente quando do encontro com a linguagem.<br />
A língua materna faz marcas no corpo do bebê, marcas estas <strong>que</strong> ca<strong>da</strong> sujeito terá<br />
<strong>que</strong> <strong>se</strong> haver tomando, ou não, para si o <strong>que</strong> lhe afetou. Não <strong>se</strong> trata aqui do sujeito <strong>que</strong><br />
fala, mas do sujeito <strong>que</strong> emerge a partir dessa fala. Sujeito dividido. “O trabalho <strong>que</strong> <strong>se</strong><br />
realiza em análi<strong>se</strong> é trabalho do sujeito <strong>que</strong> emerge na fala do analisante, nas sucessivas<br />
voltas em <strong>que</strong> revisita o momento traumático <strong>que</strong> o fun<strong>da</strong> como sujeito” (RINALDI, 2007,<br />
p.290).<br />
A teoria de Lacan sobre o sujeito, ao contrário de outras teorias psicanalíticas,<br />
abor<strong>da</strong> o <strong>que</strong> é <strong>se</strong>r um sujeito e as condições <strong>que</strong> levam ca<strong>da</strong> um a <strong>se</strong> alienar na linguagem,<br />
já <strong>que</strong> es<strong>se</strong> é um principio de subjetivi<strong>da</strong>de. E para <strong>se</strong> chegar à condição de sujeito terá<br />
ocorrido tanto a alienação à linguagem como a <strong>se</strong>paração do Outro.<br />
Para concluir es<strong>se</strong> tópico, pode-<strong>se</strong> dizer <strong>que</strong> o sujeito vem ao mundo para ocupar<br />
algum lugar <strong>que</strong> estava vazio, vem por diversos motivos dos pais – vontade, necessi<strong>da</strong>de<br />
ou de<strong>se</strong>jo. A criança vem como objeto do de<strong>se</strong>jo do outro, e como tal, sofre os caprichos<br />
des<strong>se</strong> outro. Seu corpo é manipulado, sofrendo diversas intrusões. São banhos, alimentos,<br />
vacinas, exames, to<strong>que</strong>s de todo tipo <strong>que</strong> marcam o corpo banhado pela linguagem. É um<br />
corpo <strong>que</strong> não lhe pertence, um aglomerado de <strong>se</strong>nsações <strong>que</strong> ressoam <strong>da</strong>s palavras ditas<br />
pela mãe, o primeiro investimento de amor <strong>da</strong> criança. O corpo do bebê lhe é estranho, é<br />
um corpo estrangeiro. A criança procura <strong>se</strong> apropriar deste na tentativa de constituir uma<br />
uni<strong>da</strong>de. Há, também, por parte <strong>da</strong> criança, uma tentativa de corresponder às expectativas<br />
dos pais <strong>que</strong> antes mesmo desta nascer já escreviam <strong>se</strong>u destino nos ditos: “<strong>se</strong>rá um<br />
menino”, “<strong>se</strong>rá um grande engenheiro”, “terá a inteligência <strong>da</strong> mãe e a agressivi<strong>da</strong>de do<br />
pai” etc. Ditos estes <strong>que</strong> o marcarão, uma vez <strong>que</strong> o processo de alienação o acompanhará<br />
por to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong>.<br />
Na infância <strong>se</strong> pode ob<strong>se</strong>rvar melhor <strong>que</strong> o sujeito <strong>se</strong> encontra alienado aos<br />
significantes <strong>que</strong> recebe do Outro, a criança e o outro são um só, o outro é ao mesmo<br />
tempo rival e igual: “[...] uma criança <strong>que</strong> bateu numa outra pode dizer: o outro me bateu.<br />
Não <strong>que</strong> ela minta – ela é o outro, literalmente.” (LACAN, 1955-56/2008, p. 51). Nes<strong>se</strong><br />
tempo, <strong>se</strong>u de<strong>se</strong>jo é <strong>se</strong>mpre de<strong>se</strong>jo do Outro, ela e o outro <strong>se</strong> confundem, o <strong>que</strong> constitui a<br />
relação mãe-bebê, na qual a criança <strong>se</strong> encontra à revelia do de<strong>se</strong>jo materno, absoluto e