30.12.2013 Views

pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A escrita aponta o caráter diferencial em relação à fala, o modo singular do sujeito<br />

tratar <strong>se</strong>u gozo e fazer <strong>se</strong>u sintoma. Com Lacan (1971, apud AIRES, p.12): “(...) <strong>se</strong> a<br />

escrita pode <strong>se</strong>rvir para alguma coisa é justamente por<strong>que</strong> é diferente <strong>da</strong> palavra”. A escrita<br />

<strong>se</strong>rve ao <strong>que</strong> não pode <strong>se</strong>r dito em palavras. A todo sujeito é impossível com a palavra <strong>da</strong>r<br />

conta do gozo. “Começamos a reconhecer <strong>que</strong> todo falante, imerso na linguagem, <strong>que</strong> tem<br />

um corpo <strong>que</strong> goza, é exposto a uma impossibili<strong>da</strong>de, a impossibili<strong>da</strong>de do gozo todo, e<br />

luta para fazer dele um modo particular” 35 . (VELÁSQUEZ, 2010, p.19, tradução livre).<br />

A todo sujeito resta localizar o gozo, ain<strong>da</strong> <strong>que</strong> esteja fora do registro fálico. Os<br />

psicóticos têm mostrado <strong>que</strong> há outras formas de invenção <strong>que</strong> podem realizar função<br />

similar à do Nome-do-Pai, eno<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> neuro<strong>se</strong>. São formas criativas de fazer com o<br />

gozo invasor. Nas palavras de Lacan (1968/2003, p.362): “To<strong>da</strong> formação humana tem,<br />

por essência, e não por acaso, de refrear o gozo”.<br />

A explanação feita até aqui acerca do significante e <strong>da</strong> letra, ou <strong>da</strong> fala à escrita<br />

teve o intuito de destacar teoricamente as invenções na <strong>psico<strong>se</strong></strong> <strong>que</strong> têm estatuto de letra, e<br />

<strong>que</strong> por isso podem comportar alguma suplência.<br />

Dado o primeiro capítulo tratar sobre o sujeito psicótico e sua relação com a<br />

linguagem a partir <strong>da</strong> primeira clínica lacaniana, adentramos na <strong>se</strong>gun<strong>da</strong> clínica ao abor<strong>da</strong>r<br />

o conceito de suplência como as invenções <strong>da</strong><strong>que</strong>les fora <strong>da</strong> norma fálica, mas dentro <strong>da</strong><br />

linguagem e mestres no saber-fazer com o gozo.<br />

Este <strong>se</strong>gundo capítulo visou dizer <strong>da</strong> relação entre psicanáli<strong>se</strong> e linguística no <strong>que</strong><br />

elas dialogam, tendo como ponto em comum a linguagem, já tratado por Freud, desvelando<br />

no inconsciente um mundo de linguagem. O significante foi o nó <strong>que</strong> enlaçou Lacan a<br />

adentrar na linguística saussuriana, utilizando-<strong>se</strong> dela para em <strong>se</strong>gui<strong>da</strong> forjar outro campo –<br />

a linguisteria. Foi possível, ain<strong>da</strong>, falar de língua e alíngua para chegar à escrita. A escrita<br />

aqui são as produções artesanais <strong>que</strong>, por <strong>se</strong>u estatuto de letra, localizam, <strong>se</strong>param,<br />

apaziguam e, por vezes, fazem suplência na <strong>psico<strong>se</strong></strong>.<br />

Seguir um pouco o caminho de Lacan desde o significante até a letra, teoria onde<br />

ain<strong>da</strong> <strong>se</strong> tem muito a colher, não constitui tarefa fácil. To<strong>da</strong>via, essa escolha é feita para<br />

dizer <strong>da</strong> escrita como saber-fazer com o gozo, estando ciente <strong>que</strong> a psicanáli<strong>se</strong> <strong>se</strong> fun<strong>da</strong><br />

pela fala, e <strong>que</strong> dizer <strong>da</strong> <strong>psico<strong>se</strong></strong> como o <strong>que</strong> ensina sobre o Real é estar no campo <strong>da</strong>quilo<br />

<strong>que</strong> não <strong>se</strong> <strong>escreve</strong>.<br />

35 “Partimos de reconocer <strong>que</strong> todo <strong>se</strong>r <strong>que</strong> habla, inmerso en el lenguaje, <strong>que</strong> tiene un cuerpo <strong>que</strong> goza, está<br />

expuesto a una imposibili<strong>da</strong>d, la imposibili<strong>da</strong>d del goce Todo, y lucha para hacer con ella de una manera<br />

particular.” (VELÁSQUEZ, 2010, p.19).<br />

87

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!