30.12.2013 Views

pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

pelas veredas da psicose: o que se escreve? - CCHLA ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

63<br />

Antes de Saussure, a língua era estu<strong>da</strong><strong>da</strong> em comparação com demais línguas, não<br />

havia uma definição própria de língua. Saussure define a língua como um conceito e uma<br />

estrutura, ou <strong>se</strong>ja, não <strong>se</strong> trata de um objeto palpável <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, mas de um conceito<br />

teórico. Diante <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de de <strong>que</strong>stionamentos, Saussure (1916/ 2006, p.15) diz <strong>que</strong> “é<br />

o ponto de vista <strong>que</strong> cria o objeto”, com isso cria <strong>se</strong>u objeto (a língua).<br />

A língua pode <strong>se</strong>r abor<strong>da</strong><strong>da</strong> de várias formas a depender do ponto de vista <strong>que</strong> <strong>se</strong><br />

escolha. Assim, Saussure escolhe <strong>se</strong> pautar no sistema para falar <strong>da</strong> língua. Com isso pode<strong>se</strong><br />

dizer <strong>que</strong> a varie<strong>da</strong>de de pontos de vista aponta o real <strong>da</strong> língua, ou <strong>se</strong>ja, a<br />

impossibili<strong>da</strong>de de existir apenas um modo de tratar a língua. Com a noção de ponto de<br />

vista Saussure delimita uma parte a <strong>que</strong> <strong>se</strong> ater nos <strong>se</strong>us estudos <strong>da</strong> língua, ao mesmo<br />

tempo aponta <strong>que</strong> há outros meios por onde abordá-la. Ele não conceitua fechando as<br />

<strong>que</strong>stões sobre a língua, pois como o Real, conceito lacaniano, ela é impossível de <strong>se</strong>r to<strong>da</strong><br />

compreendi<strong>da</strong>.<br />

Saussure não <strong>se</strong> referiu à língua como o Real lacaniano, mas ao falar do ponto de<br />

vista deixou claro <strong>que</strong> nenhuma teoria pode de todo abarcar a língua, <strong>que</strong> é preciso<br />

escolher a <strong>que</strong> <strong>se</strong> ater. Normand (2009, p.39) traz essa noção em <strong>se</strong>u estudo sobre<br />

Saussure: “[...] qual<strong>que</strong>r descrição <strong>se</strong> faz <strong>se</strong>gundo um “ponto de vista” e <strong>que</strong>, mesmo ele<br />

não <strong>se</strong>ndo “superior” aos outros, é necessário também escolher um, sob o risco de <strong>se</strong><br />

misturar todos [...]”. Foi o <strong>que</strong> Saussure fez.<br />

A partir <strong>da</strong> teoria saussuriana é possível entrever o Real na língua por esta <strong>se</strong><br />

prestar a todo uso <strong>que</strong> o falante faz dela, deixando escapar a operação do inconsciente<br />

quando ocorre um lapso, um ato falho, um chiste. O uso <strong>que</strong> ca<strong>da</strong> sujeito faz <strong>da</strong> língua, ao<br />

escolher usar uma palavra ao invés de outra, denuncia o inconsciente e a pre<strong>se</strong>nça de um<br />

real <strong>que</strong> atravessa, desalojando o sujeito <strong>da</strong> falsa crença de dominar a língua <strong>que</strong> fala. São<br />

escolhas particulares, como <strong>se</strong> pode ob<strong>se</strong>rvar na fala de uma criança: aí o poste<br />

desacendeu. Poderia ter dito apagou, es<strong>se</strong> é o convencional <strong>da</strong> fala, mas desacendeu é uma<br />

construção <strong>que</strong> revela a originali<strong>da</strong>de do inconsciente <strong>que</strong> permeia a língua.<br />

O Real toca a língua no <strong>que</strong> ela <strong>se</strong> presta a todo uso pelo inconsciente. Todo falante<br />

pode fazer uso <strong>da</strong> língua, criar neologismos, distorcer, enganar, tropeços <strong>da</strong> fala,<br />

demonstrando <strong>que</strong> a língua faz equívoco. E por fazer equívoco algo escapa ao <strong>se</strong>ntido.<br />

Língua e alíngua, em <strong>que</strong> ponto es<strong>se</strong>s conceitos <strong>se</strong> tocam? Dizer língua é, de certo<br />

modo, dizer Real. É essa perspectiva <strong>que</strong> <strong>se</strong> <strong>se</strong>gue desde as concepções saussurianas e<br />

lacanianas, de língua e Real, aponta<strong>da</strong>s por Maliska (2009). Quando Saussure alega “A

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!